segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Utilização da alfafa na alimentação de vacas leiteiras


Nos sistemas intensivos de produção de leite, os gastos com o uso de concentrados e com os fertilizantes nitrogenados representam porcentagem elevada do custo de produção, implicando, ainda, em custos agregados com transporte, armazenamento, fornecimento dos concentrados e aplicação dos fertilizantes, o que afeta a sustentabilidade econômica da atividade leiteira. As vacas com maior produção de leite requerem uma proporção maior de concentrado em sua dieta, mas a quantidade e o percentual dos ingredientes do concentrado a ser utilizado dependem da qualidade da forragem oferecida, ou seja, quanto melhor a qualidade da forragem, menor será a quantidade de concentrado necessária para determinado nível de produção. A alfafa é de digestibilidade elevada e possui alto teor de proteína de rápida degradação ruminal, o que permite sua utilização como substituto de parte do alimento concentrado, com redução do custo de produção de leite e manutenção da qualidade da dieta (RODRIGUES et al., 2008).
Além dos concentrados, fertilizantes nitrogenados, utilizados em doses elevadas para a produção intensiva de leite a pasto, também oneram o custo de produção. A alfafa, pelo fato de realizar a fixação biológica do nitrogênio atmosférico no sistema solo-planta, comporta-se como uma biofábrica de nitrogênio, eliminando a utilização de fertilizantes nitrogenados e reduzindo o custo de adubação e, consequentemente, o custo de produção de leite (MOREIRA et al., 2008).
Os custos dos alimentos e dos fertilizantes, em especial dos concentrados proteicos e dos fertilizantes nitrogenados, certamente aumentarão com a demanda crescente de alimento no mundo, limitando, em parte, as oportunidades de utilização crescente desses insumos nos sistemas intensivos da pecuária de leite. A alfafa pode contribuir para minimizar os reflexos diretos e indiretos desse cenário, em razão dos benefícios que o seu uso pode propiciar para a cadeia produtiva do leite (VINHOLIS et al., 2008).
Além desses benefícios, espera-se que a inserção da alfafa em um sistema sustentável e competitivo de produção de leite a pasto promova redução da sazonalidade da produção de leite, diminuição da estacionalidade da produção de forragens e aumento da produtividade do rebanho. Além desses aspectos, a utilização da alfafa como parte da dieta tem potencial para propiciar benefícios para o meio ambiente, diminuindo os riscos de contaminação do lençol freático com nitrato, o que pode ocorrer quando se utiliza níveis muito elevados de adubos nitrogenados (RODRIGUES et al., 2008).

Potencial forrageiro da alfafa

O objetivo de qualquer modelo intensivo de produção de leite a pasto consiste em obter elevada e sustentável produtividade por área, implicando no aumento da taxa de lotação das pastagens, sem descuidar, entretanto, da produtividade individual das vacas. Esse modelo, com a participação do pasto na dieta, consiste em utilizar forrageiras produtivas de boa qualidade nutricional e baixa estacionalidade de produção, bem como programar uma estratégia alimentar (dieta e manejo) que favoreça a eficiência da conversão e mantenha controlados os custos de alimentação. A alfafa é uma forrageira que reúne características especiais, como alta produtividade, elevado teor proteico, boa palatabilidade, alta digestibilidade, capacidade para fixar nitrogênio no solo e baixa sazonalidade da produção de forragem, sendo especialmente indicada para integrar dietas de vacas de alto potencial genético sob sistema intensivo de produção de leite a pasto (CASTILLO e GALLARDO, 1995; RODRIGUES et al., 2008).
Em condições tropicais, Vilela et al. (1994) avaliaram dois sistemas de alimentação de vacas holandesas com média de 6.000 litros por lactação: um fornecia pasto de alfafa como único alimento e no outro os animais foram mantidos em confinamento e alimentados com ração total, composta por silagem de milho e concentrado. Os autores observaram que a alfafa em pastejo suportou três unidades animais por hectare e proporcionou média de produção de 20 litros/vaca/dia, atingindo no terço inicial da lactação 23,6 litros/vaca/dia, sem comprometer o peso vivo e a eficiência reprodutiva dos animais. Não houve nenhum caso de timpanismo durante o experimento em que as vacas foram gradualmente acostumadas à pastagem de alfafa (a cada dia acrescentaram-se mais duas horas de pastejo, até totalizar 24 horas/dia). O sistema pastoril (alfafa) teve custo operacional aproximadamente 10% menor e margem bruta 16% superior em relação ao sistema confinado (silagem de milho e concentrado).
Comeron et al. (2001), sob condições de clima temperado, obtiveram em pastejo exclusivo de alfafa, sob taxa de lotação de 1,7 vaca hectare/ano, com uso ocasional de feno e de pré-secado produzidos na mesma área, produção de leite semelhante à informada por Vilela et al. (1994), mas a eficiência reprodutiva foi baixa, pois a perda da condição corporal pós-parto, provocada por balanço energético negativo, foi muito prolongada. A diferença na eficiência reprodutiva entre esses trabalhos talvez possa ser explicada pelo fato de as vacas no trabalho de Vilela et al. (1994) terem iniciado o experimento seis semanas após parto e a alimentação nesse período antes do início do experimento pode ter contribuído para que a reprodução não fosse afetada, enquanto no sistema avaliado na Argentina as vacas estavam em pastagens de alfafa desde o início da lactação.
Comeron et al. (2002), avaliando o uso da alfafa exclusivamente na forma de pastejo, com vacas de alta produção, mostrou que dificilmente a produção de leite é superior a 5.000 litros por lactação, havendo perda de condição corporal acima dessa produção. Quando o objetivo for incrementar a produtividade tanto por vaca quanto por área, além de intensificar-se o uso das pastagens por meio de aumento da taxa de lotação, deve-se melhorar a qualidade da dieta mediante o emprego de concentrados e/ou forragens conservadas de boa qualidade, para que o consumo e, consequentemente, a produção de leite não sejam prejudicados (CASTILLO e GALLARDO, 1995).
Comeron (comunicação pessoal e documentos internos) recomenda, para produção superior a 6.000 litros de leite/lactação, a utilização de dietas com uma relação pastagem (alfafa e aveia): silagem (milho ou sorgo): feno: concentrado (cereais e subprodutos) de 40:20:15:25, como média anual de matéria seca consumida, respectivamente. Esses valores podem ser modificados durante a lactação (maior quantidade de concentrado para as vacas com menos de 120 dias pós-parto) e a época do ano (maior proporção de alfafa e menor quantidade de silagem durante primavera-verão). Com dietas com maior participação de concentrado (máximo de 40%) e reduzindo-se o tempo de pastejo em alfafa (mínimo de 30%), pode-se chegar a 18.000 litros de leite/ha/ano.
Vilela (1998) recomenda, com base em revisão de literatura, que é necessário suplementar os animais em pastagem de alfafa de acordo com o nível de produção. Segundo esse autor, para vacas com potencial de produção de até 18 kg/dia de leite, seria suficiente a suplementação apenas com minerais; para produção de 18 a 24 kg/dia de leite, seria necessário suplementar com mistura mineral e concentrado energético; e quando a produção de leite for acima de 25 kg/dia, deveria-se fornecer minerais e concentrados energéticos enriquecidos com proteína, de preferência de baixa degradabilidade no rúmen.
Em vacas leiteiras sob pastejo exclusivo de alfafa, normalmente, ocorre desequilíbrio na relação energia-proteína da dieta consumida (VILELA, 1998).
Esse desequilíbrio pode afetar negativamente a produtividade dos animais, a fermentação ruminal, a composição química do leite (especialmente a fração nitrogenada), a eficiência reprodutiva e também causar problemas de contaminação ambiental (FERGUNSON e CHALUPA, 1989; TAMINGA, 1990).
A alfafa possui altos teores de proteína bruta e de frações proteicas rapidamente degradáveis no rúmen, de modo que há produção excessiva de amônia, que as bactérias fibrolíticas são incapazes de aproveitar, a qual atravessa a parede ruminal e entra na circulação sanguínea. Como altos níveis de amônia no sangue são tóxicos, o fígado transforma-a novamente em ureia, para ser eliminada na urina. Entretanto, esse processo requer energia e, em consequência, diminui a quantidade de energia disponível para a produção de leite (COMERON e ROMERO, 2007). Apesar do elevado teor de PB da alfafa, estima-se que 75% dessa proteína seja degradada no rúmem (FALDET e SATTER, 1991), o que pode limitar a produção de vacas com alto potencial genético quando a alfafa é usada de forma exclusiva.
Segundo Arias (1996), citado por Comeron et al. (2007), para cada excesso de 0,450 g de proteína bruta/dia na dieta de vacas leiteiras é necessário o adicional de 1 Mcal de energia líquida de lactação/dia para a excreção da amônia na forma de ureia. Esse mesmo autor afirma que para valores de nitrogênio ureico no leite (NUL) de 20 mg/dL haveria redução na produção de leite equivalente a 3,5 litros diários, devido à energia que seria desviada para a síntese da ureia.
Butler (2004) observou que as taxas de prenhez de vacas leiteiras caíram aproximadamente 20% quando a concentração NUL ultrapassou 19 mg/dL de leite. Assim, esses resultados indicam a necessidade de suplementos energéticos para equilibrar a relação energia-proteína e reduzir os excedentes de amônia ruminal de vacas leiteiras em pasto exclusivo de alfafa.
A utilização da alfafa em pastejo como parte da dieta de vacas leiteiras é uma alternativa promissora para a melhoria da qualidade das dietas baseadas em volumosos tropicais, pois permite melhor balanceamento da relação energia:proteína (RODRIGUES et al., 2008). Outro aspecto é que utilizando-se a alfafa somente como parte da dieta, diminui-se o risco de ocorrer timpanismo, que pode ser elevado em condições em que a alfafa é o único alimento (DAVIES e MÉNDEZ, 2007).
É importante lembrar que quando se utiliza a pastagem de alfafa por poucas horas por dia, a dieta dos animais precisa ser complementada com outro volumoso como, por exemplo, silagem de milho, pasto ou feno de gramíneas e, também, com concentrado. Entre as forrageiras conservadas, a silagem de milho é um recurso adequado para suplementar a dieta de vacas de alta produção em pastagens de alfafa, por fornecer a energia digestível ou metabolizável que está em déficit, equilibrar a proteína de alta degradabilidade presente em excesso nas pastagens de alfafa e reduzir o risco de timpanismo (COMERON e ROMERO, 2007).
Na Embrapa Pecuária Sudeste, ao adicionar pastejo de alfafa por 1, 2 e 4h ao sistema de produção, no período da seca, obteve margem de lucro sobre o sistema de produção tradicional de leite (silagem de milho + concentrado) da ordem de 2,77; 5,05 e 7,52%, respectivamente (Tabela 1). A redução do custo de produção de leite que se observou, quando se utilizou alfafa como parte da dieta, deveu-se a menor oferta de concentrado que se fez, principalmente, diminuindo-se a quantidade de farelo de soja na dieta, ingrediente mais caro da ração. A produção de leite, nos diversos tratamentos com alfafa, foi praticamente constante e não se observaram diferenças significativas no peso dos animais. Os animais ingeriram 2,75; 5,08 e 6,17 kg MS de alfafa com 1, 2 e 4h de pastejo, respectivamente (Tabela 1). As avaliações para a estimativa de consumo de alfafa foram feitas utilizando-se como indicador externo o dióxido de titânio (TITGEMEYER et al., 2001). O pastejo de 1h foi realizado à tarde, o de 2h foi realizado uma hora pela manhã e uma hora à tarde e o pastejo de 4h foi realizado duas horas pela manhã e duas horas à tarde. Todos os pastejos foram realizados após ordenha, feita às 5h e às 16h. O critério adotado foi manter a oferta teórica de FDN da forragem e o teor de PB da dieta nos diversos tratamentos. A utilização de 4h de pastejo em alfafa proporcionou maior margem de lucro, cerca de 7,52%, com alfafa participando com cerca de 34,82% da matéria seca consumida.
Tabela 1. Margem de lucro/controle nos diversos tratamentos de pastejo em alfafa na época da seca.
 
VariávelControle1 hora2 horas4 horas
Consumo de alfafa (kgMS)-2,755,086,17
Consumo de silagem (kgMS)10,08 9,056,435,72
Consumo de concentrado (kgMS)8,377,026,28
5,20
Consumo total (kgMS)18,4518,3317,7918,09
Produção de leite (L/vaca/dia)26,2826,1825,6926,09
Peso dos animais (kg)561,75573,69548,23571,19
Custo da dieta (R$/kg)0,530,480,470,43
Custo do concentrado (R$/kg)0,980,950,910,91
Custo/litro de leite (R$)0,410,380,360,33
Custo da dieta/vaca/dia (R$)10,819,999,178,62
Margem de lucro/controle (%)-2,775,057,52











Margem de lucro obtida em março de 2014.

O sistema preconizado de pastejo em alfafa na Embrapa Pecuária Sudeste é utilizar a alfafa como parte da dieta de vacas leiteiras, suplementando com silagem de milho e concentrado, no período da seca, e forrageira tropical (capim tanzânia ou tobiatã) e concentrado, no período das águas. Na época da seca, a silagem e o concentrado são fornecidos duas vezes ao dia, 40% pela manhã e 60% à tarde, sempre após o pastejo em alfafa, objetivando estimular o consumo dessa forrageira. Na época das águas, o concentrado é também fornecido duas vezes ao dia, 40% pela manhã e 60% à tarde, também após o pastejo em alfafa, para estimular o consumo dessa forrageira. À tarde, após o segundo pastejo em alfafa, os animais ficam livre para pastejar a forrageira tropical, o que ocorre, preponderantemente, à noite. As Figuras 1 e 2 mostram as vacas pastejando capim tobiatã e alfafa, respectivamente, na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP. Na época da seca, pode-se também optar por realizar o pastejo da alfafa à noite. Entretanto, na época das águas, o pastejo de alfafa à noite requer muita atenção, porque se chover em excesso e o solo ficar muito úmido, o pisoteio intenso pode prejudicar a coroa da alfafa, afetando a densidade de plantas e a persistência do alfafal.
Foto: Frank Akiyoshi Kuwahara

Figura 1. Pastejo rotacionado em tobiatã.


Foto: Reinaldo de Paula Ferreira

Figura 2. Pastejo rotacionado em alfafa.

Na Argentina, tem-se utilizado a alfafa cortada e enleirada para consumo. Normalmente, o pastejo ocorre quatro horas após o corte da forragem, reduzindo-se o potencial de timpanismo por consumir alfafa desidratada. Essa técnica é recomendada para áreas maiores, por exigir maquinário, trazendo, como benefícios, redução da perda da forragem durante o consumo e rebrote uniforme da área (Figura 3).
Foto: Eduardo Alberto Comeron

Figura 3. Pastejo de vacas leiteiras em área de alfafa cortada e enleirada para consumo.


Normalmente, cultiva-se alfafa por três a quatro anos, fazendo-se, posteriormente, rotação de cultura com o milho. Sheafer et al. (1991) concluíram que a alfafa, após três anos consecutivos na mesma área, contribuiu com 100 kg/ha de nitrogênio residual para a cultura subsequente.

A utilização da alfafa como parte da dieta de vacas leiteiras apresenta as seguintes vantagens:
• É uma alternativa estratégica para complemento, como forragem de boa qualidade, nos períodos em que há menor produção de outros volumosos utilizados na alimentação de vacas leiteiras.
• Colabora com o aumento da taxa de lotação na área de pastagem de alfafa, de modo que maior número de vacas tenha acesso a forragem de boa qualidade.
• Permite melhor equilíbrio na relação energia-proteína, aumenta a digestibilidade da dieta e consequentemente possibilita maior consumo de nutrientes digestíveis pelos animais que são alimentados com outros volumosos, tais como silagem de milho e forragem tropical, que apresentam coeficiente de digestibilidade e teor de proteína limitantes para vacas de alta produção.
• Reduz o potencial de risco de timpanismo, quando comparado com a dieta exclusiva de alfafa.

Alimentação de vacas em pastagem de alfafa suplementada com forragens conservadas

A utilização de forragens conservadas em sistemas de produção de leite baseados em pastagem de alfafa tem os seguintes objetivos:
a) equilibrar a relação energia-proteína da dieta;
b) prevenir o timpanismo ou meteorismo;
c) complementar a dieta na época de menor produção da pastagem de alfafa;
d) aumentar a taxa de lotação e, consequentemente, a produção por hectare.
Esse último aspecto, ou seja, o aumento da produção de leite por hectare, tem sido um dos principais objetivos nos sistemas intensivos de produção de leite com base em pastagens tropicais e também com base em pastagens de alfafa.
Quando se pretende aumentar a eficiência da utilização de pastagens de alfafa por meio de aumento na taxa de lotação, deve haver planejamento para assegurar que os requerimentos dos animais sejam satisfeitos durante todo o ano, o que significa complementar a dieta em períodos de menor produção de forragem com silagem de milho ou de sorgo, feno de boa qualidade ou com cana-de-açúcar in natura picada.
Embora a estacionalidade da alfafa nas condições tropicais seja bem menor do que em condições de clima temperado, em épocas determinadas nas quais a disponibilidade de pastagem de alfafa é um pouco menor, ou quando o consumo de alfafa é limitado pela utilização de altas taxas de lotação ou pelo acesso restrito, a suplementação com silagem ou com feno constitui uma alternativa estratégica para incrementar o consumo total e o desempenho animal.
A silagem de milho ou silagem de sorgo, de boa qualidade, é o recurso adequado para suplementar a dieta de vacas de alta produção em pastagens de alfafa. Resultados da Estación Experimental Agropecuária de Rafaela indicam que quando a silagem de milho participa na proporção aproximada de 40% a 50% da dieta total as vacas em pastejo de alfafa sem suplementação com concentrado conseguem manter produção de leite superior a 20-22 litros de leite por, vaca por dia (CASTILLO e GALLARDO, 1995).
Outra alternativa seria utilizar feno de alfafa, feita do excesso de produção de forragem que ocorre em determinados períodos, para complementar as épocas de menor produção de alfafa ou de menor produção do pasto tropical.
Os resultados de produção de leite com o fornecimento de feno de alfafa, com silagem de milho e com feno de Cynodon dactylon cv. Bermuda podem ser observados na Tabela 2.
Observa-se nessa tabela que a dieta com feno de alfafa proporcionou maior produção de leite. Esses resultados mostram a importância da qualidade da alfafa para a produção de leite. Isso decorreu do menor teor de FDN e da maior digestibilidade da fração fibrosa deste volumoso, possibilitando maior consumo de nutrientes digestíveis e maior produção de leite com a utilização de menor quantidade de concentrado.
Tabela 2. Produção de leite em função da qualidade do volumoso.
 
VariávelFeno de alfafa
Feno de 
Cynodon
Silagem de milho
FDN do volumoso (%)467055
FDN da dieta (%)363636
Concentrado (% da MS da dieta)306045
Consumo diário de MS (kg/vaca)241920
Produção diária de leite (kg/vaca)231820









Fonte: Mertens (1993), citado por Vilela (1998).
Os resultados relativos ao efeito de diferentes estádios de maturação da alfafa utilizada na forma de feno sobre a qualidade da forragem, sobre o consumo de matéria seca e sobre a produção de leite são mostrados na Tabela 3. Observa-se que à medida que a planta entra em processo de maturação aumenta o % de FDN e reduz o de PB, diminuindo o consumo de matéria seca e afetando, consequentemente, a produção de leite.
Tabela 3. Efeito do estádio de maturação da alfafa sobre a qualidade da forragem, sobre o consumo de MS e sobre a produção de leite.
 
Estágio de maturaçãoPB (%)FDN (%)Consumo de MS
(kg/dia)
Produção de leite
(kg/dia)
Pré-florescimento21< 4019,123,9
10% de florescimento184415,916,1
50% de florescimento165113,49,7











PB = proteína bruta; FDN = fibra em detergente neutro; MS = matéria seca.
Fonte: Kawas et al. (1993), citado por Vilela (1998).
Timpanismo espumoso
Embora a alfafa apresente características altamente desejáveis para os sistemas intensivos de produção de leite, como alta produção de forragem e alta qualidade nutricional, a alfafa em pastejo tem potencial para causar timpanismo espumoso. O aparecimento de timpanismo é difícil de ser previsto, dada a complexidade de fatores que contribuem para a sua ocorrência.
Após a mastigação e a ensalivação, a forragem consumida chega ao rúmen, onde ocorre o processo de fermentação a partir do qual se originam os gases (anidrido carbônico e metano), que normalmente se separam do conteúdo ruminal e são eructados.
As leguminosas meteorizantes, tais como a alfafa e os trevos, de alta qualidade forrageira, têm velocidade inicial de desaparecimento ruminal 25% a 30% mais rápida do que as leguminosas não meteorizantes, o que faz com que nas etapas iniciais da digestão produzam elevado volume de gases e grande acumulação de partículas vegetais no rúmen. Essas partículas, associadas a proteínas vegetais e polissacarídeos microbianos, dão origem a uma massa espumosa formada por pequenas borbulhas estáveis que retém os gases e inibe a eructação, provocando aumento progressivo da tensão no rúmen (DAVIES e MÉNDEZ, 2007). As consequências variam desde a diminuição do consumo, nos casos leves, até a morte por asfixia, nos quadros graves.
As leguminosas que não causam timpanismo oferecem maior resistência à desintegração mecânica do que as meteorizantes, tais como a alfafa. As proteínas vegetais solúveis são macromoléculas intracelulares que necessitam chegar ao meio ruminal para desenvolver sua ação espumógena. Dado que são incapazes de atravessar a membrana celular intacta, a lise celular é um evento central para a produção de seu efeito meteorizante. A ruptura das células foliares pode ocorrer na forma mecânica durante a mastigação ou por degradação microbiana da parede celular no rúmen. De acordo com a teoria da ruptura celular, nas leguminosas não meteorizantes os componentes celulares seriam liberados mais lentamente no meio ruminal, sem alcançar a concentração necessária para provocar o timpanismo (LATIMORI e KLOSTER, 2007).
O estádio fenológico ou de maturidade da planta de alfafa no momento do pastejo é a variável que melhor se associa com o aparecimento do timpanismo. No estádio de crescimento vegetativo, a forragem disponível apresenta alta relação folha-haste, elevado teor de proteína bruta (mais de 20%), baixo teor de parede celular (40%) e grande fragilidade das folhas, características que se relacionam com alto risco de ocorrência de timpanismo (RODRIGUES et al., 2008).
À medida que a alfafa atinge a maturidade, seu potencial meteorizante diminui, pelo fato de haver redução no teor de proteína bruta, aumento na proporção de fibra (FDN) e, principalmente, diminuição na relação folha-haste. Por um lado, embora a forragem tenha menos capacidade de produzir timpanismo no estádio avançado de maturidade, por outro lado diminui a qualidade e o valor nutritivo. Porém, nesse estádio, aumenta a biomassa dos rebrotes basais, que podem ser selecionados pelo animal e que também causam timpanismo (RODRIGUES et al., 2008).
A pré-secagem da alfafa é uma técnica que se usa para reduzir o risco de timpanismo. Entretanto, deve-se tomar cuidado com o tempo de secagem, para evitar perdas por respiração.
Existem vários produtos que apresentam níveis de eficácia distintos na prevenção e no controle do timpanismo. Esses produtos incluem os tensioativos sintéticos (poloxaleno e álcool etoxilado), antiespumantes (dimetilpolisiloxano) e antibióticos (ionóforos). Os produtos tensioativos e antiespumantes podem ser fornecidos de forma individual ou coletiva.
Qualquer que seja o método de fornecimento, os produtos tensioativos têm demonstrado mais eficácia e efeito mais persistente do que os antiespumantes (DAVIES e MÉNDEZ, 2007). Em função de seu efeito detergente, umidificam a forragem e emulsionam os lipídeos nela presentes; isso, por sua vez, exerce efeito antiespumante.
Podem ser utilizados também os ionóforos à base de monensina, um modificador da fauna ruminal cujo efeito com relação ao timpanismo é a redução da produção de gases, principalmente do metano, no rúmen (DAVIES e MÉNDEZ, 2007). A monensina está disponível na forma de pó, para ser misturada no concentrado, ou em cápsulas de liberação lenta, que se colocam no rúmen.
Quando se optar por utilizar a mistura no concentrado, há necessidade de que ela fique homogênea, para evitar-se intoxicação por sobredosagem e para obter consumo uniforme do produto, de modo que seja assegurada a eficácia da técnica de aplicação do ionóforo. Entretanto, a eficiência da monensina é menor quando comparada com o poloxaleno (JOHNS, 2007). Assim, em condições de alto risco, a monensina não impede totalmente a aparição de alguns casos de timpanismo (LATIMORI e KLOSTER, 2007).
Custo de produção da alfafa
O custo de produção de um hectare de alfafa foi de R$7.548,64 no ano (Tabela 04). Deste montante, o custo de formação do pasto (R$ 2.730,10/ha) foi depreciado em três anos de vida útil e o valor total de investimento (R$ 8.307,59/ha), que inclui o conjunto de irrigação, a cerca elétrica e o bebedouro, foi depreciado proporcionalmente à vida útil de cada componente: dez anos para os dois primeiros e cinco anos para o último. O custo de formação da alfafa envolveu preparo do solo, calagem e adubação de plantio, aplicação de herbicida e compra de sementes. Já o custo de manutenção do pasto de alfafa foi de R$ 5.757,85/ha, e é composto por despesas com insumos (calcário, adubo, herbicida e inseticida), reposição de peças, mão de obra e consumo de energia elétrica. Cloreto de potássio e mão de obra foram os itens que mais oneram o custo de manutenção de um alfafal. Considerando produção de 20 ton. MS de alfafa/ano e sua vida útil de três anos, produz alfafa a um custo de R$0,37 kg de MS (Tabela 4).
Tabela 4. Custo de produção de 1 ha de alfafa.
 
EspecificaçãoUnidadeQuant./haPreço unitário (R$)Total (R$/ha)
Formação
Sementeskg15,0040,00600,00
Calcário dolomíticot4,0090,00360,00
Superfosfato simplest0,801.100,00880,00
Cloreto de potássiot0,101.800,00180,00
FTE BR 12t0,051.700,0085,00
Formicida Deciskg1,0045,0045,00
Herbicida TrifluralinaL1,5064,0096,00
Espalhante adesivo AssistL1,007,607,60
Análise de soloUd1,0020,0020,00
Subtotal2.273,60
Operações
SubsolagemHm2,0055,00110,00
Grade aradoraHm2,0055,00110,00
Grade niveladoraHm1,0055,0055,00
CalagemHm0,5055,0027,50
FosfatagemHm0,5055,0027,50
PotassagemHm0,5055,0027,50
PlantioHm1,0055,0055,00
CompactaçãoHm0,5055,0027,50
HerbicidaHm0,3055,0016,50
Subtotal456,50
CUSTO DE FORMAÇÃO2.730,10
Manutenção
Cloreto de potássiot1,201.800,002.160,00
Superfosfato simplest0,501.100,00550,00
Calcário dolomíticot2,00100,00200,00
FTE BR 12t0,031.700,0051,00
Pulverização foliar NéctarL0,8085,0068,00
Herbicida GramoxoneL2,0025,0050,00
Herbicida Zethapyr e/ou FusiladeL4,0065,00260,00
Espalhante adesivo AssistL5,007,6038,00
Inseticida Engeo PlenoL0,10110,0011,00
Análise do soloUd1,0020,0020,00
Mão de obraDh36,0055,001.980,00
Energia para irrigaçãoKwh2.205,000,07154,35
Reposição materiais de irrigaçãoUd205,50
CUSTO DE MANUTENÇÃO5.757,85
Investimento
Conjunto de irrigaçãoUd16.107,59
Cercas internasm17001.700,00
BebedouroUd1500,00
TOTAL DE INVESTIMENTO8.307,59
Depreciação do conjunto de irrigação610,76
Depreciação da cerca170,00
Depreciação do bebedouro100,00
TOTAL DA DEPRECIAÇÃO880,76
CUSTO TOTAL (R$/ha/ano)7.548,64
Produção de matéria seca (Kg MS alfafa/ha/ano)20.000,00
Vida útil da pastagem de alfafa (anos)3
Custo do Kg de MS0,37


 

 

 

 

 

 














































Custo de produção obtido em abril de 2015.
Hm: Hora-máquina; t: tonelada; Ud: unidade; Dh: dia-homem; m:metro; kg: quilogramas.

Considerações finais

As características da alfafa como elevada produção, alta qualidade e alta digestibilidade fazem com que ela tenha papel importante para melhoria da qualidade das dietas utilizadas nas regiões tropicais, pois os volumosos que são muito produtivos nestas regiões, são caracterizados por apresentar digestibilidade da fibra e teor de proteína muito baixos, o que afeta o consumo de nutrientes digestíveis e consequentemente o desempenho animal.
A utilização da alfafa como parte da dieta é uma alternativa promissora para a melhoria da qualidade das dietas baseadas em volumosos tropicais, pois proporciona melhoria da qualidade da dieta e permite melhor balanceamento da relação energia:proteína. Outro aspecto é que a utilização da alfafa como parte da dieta diminui o risco de ocorrência de timpanismo, que pode ser elevado em condições em que a alfafa é o único alimento.
Merece ainda ser ressaltado que o pastejo em alfafa durante poucas horas por dia permite que maior número de animais tenha acesso à alfafa, o que satisfaz um dos objetivos principais dos sistemas intensivos de produção de leite, que é a utilização de elevada taxa de lotação para que se possa obter elevada produção por hectare. Nesse sentido, além da utilização da alfafa em pastejo para complementar outros volumosos de boa qualidade produzidos em condições tropicais, a associação com quantidade moderada de concentrados contribuirá não somente para o aumento da produção individual mas também para a obtenção de elevado nível de produção de leite por hectare.
Na época da seca, o que se preconiza é que se utilize pastejo em alfafa, forragem conservada (silagem de milho) e concentrado. Já na época das águas, recomenda-se pastejo em alfafa, pastejo em forragem tropical (capim tanzânia ou tobiatã) e concentrado. Na época da seca, a silagem e o concentrado são fornecidos duas vezes ao dia, 40% pela manhã e 60% à tarde, sempre após o pastejo em alfafa, objetivando estimular o consumo dessa forrageira. Na época das águas, o concentrado é também fornecido duas vezes ao dia, 40% pela manhã e 60% à tarde, também após o pastejo em alfafa, para estimular o consumo dessa forrageira. À tarde, após o segundo pastejo em alfafa, os animais ficam livres para pastejar a forrageira tropical, o que ocorre, preponderantemente, à noite. Para animais com produção superior a 6.000 litros de leite/lactação, recomenda-se alfafa participando com 30 a 40% da matéria seca consumida.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Conservação de forragem de Alfafa


Em poucos sistemas de produção animal que têm por base a utilização de pastagens, observa-se regularidade na oferta e na qualidade da forragem ao longo do ano. Desta forma, a adoção de práticas eficientes de produção e conservação de forragem de elevado valor nutritivo, tais como a ensilagem e a fenação, permite explorar de modo mais eficiente o potencial produtivo das plantas forrageiras. Além disso, a conservação de forragem é uma técnica bastante conhecida e utilizada para suprir a redução do valor nutricional e das ofertas de forragens durante o período seco do ano, quando a qualidade e a quantidade de forragem disponível das pastagens são limitantes, devido a fatores climáticos.
Cada sistema de conservação de forragem oferece vantagens e desvantagens em relação ao outro. A produção de silagem permite intensa mecanização na confecção e no fornecimento aos animais, e pode poupar trabalho manual. Além disso, a forragem picada é facilmente utilizada em rações em mistura completa. Porém, a ensilagem requer mais energia para a colheita, para o manuseio e para o fornecimento aos animais e grande investimento em máquinas e em estrutura de armazenamento (CÂNDIDO et al., 2008). A ensilagem e a fenação não devem ser comparadas em termos de eficiência e tampouco na qualidade do produto, pois são processos de conservação que produzem forragem com características nutricionais distintas e em muitas circunstâncias feno e silagem podem ser usados na dieta de maneira complementar.
A alfafa, devido ao seu potencial de produção, à alta qualidade e à adaptação a diversas condições ambientais, tem sido cultivada em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. A alfafa é utilizada tanto no pastejo, como nas formas de feno e de silagem, mas a fenação é a principal forma de uso no Brasil e em países como os Estados Unidos (PEREIRA et al., 2005).

Corte da forragem para conservação

Com o crescimento, ocorrem alterações na planta, que resultam em elevação dos teores de compostos estruturais, tais como a celulose, a hemicelulose e a lignina, e, paralelamente, na diminuição do conteúdo celular. Além destas alterações, é importante salientar que a diminuição na relação folha:caule resulta em modificações na estrutura das plantas. Desta forma, é de se esperar que plantas mais velhas apresentem menor conteúdo de nutrientes potencialmente digestíveis (que serão absorvidos mais facilmente durante o processo de digestão).
De acordo com Martins e Vilela (2008), recomenda-se, após o plantio, efetuar o primeiro corte da alfafa no período de floração plena. Os cortes subsequentes devem ser feitos quando houver entre 5% e 10% de floração ou quando a brotação basal atingir altura média de 3 cm a 5 cm, em períodos do ano em que não ocorre o florescimento. Segundo esses autores, a altura de corte deverá ser de 8 cm a 10 cm do solo, e o corte deve ser feito pela manhã, após a evaporação do excesso de orvalho (Figura 1).
Foto: Lucas Castilho Flores

Figura 1. Corte da alfafa.

Produção de feno

O princípio básico da fenação resume-se na conservação do valor nutritivo da forragem por meio da rápida desidratação, para que a atividade respiratória das plantas, bem como a dos microrganismos, seja paralisada. Assim, a qualidade do feno está associada a fatores relacionados com as plantas que serão fenadas, às condições climáticas ocorrentes durante a secagem e ao sistema de armazenamento empregado. As operações envolvidas no processo de fenação incluem, além das práticas comuns a áreas destinadas ao cultivo de alfafa (como implantação da cultura e aplicação de fertilizante), práticas específicas do processo que são: corte, revolvimento da forragem, enleiramento, enfardamento, recolhimento e armazenamento dos fardos.
Para a produção de feno de alto valor nutritivo, alguns fatores básicos devem ser observados: as condições climáticas apropriadas para a secagem no período de corte; a colheita da forragem no estádio de desenvolvimento no qual o valor nutritivo é máximo; o corte de uma quantidade de forragem que possa ser manuseada com base nos equipamentos e na mão de obra disponíveis; o controle de plantas invasoras; o uso de equipamentos apropriados para o corte e o manuseio da forragem no campo; o enfardamento do feno quando o teor de água do material atingir 18% e o armazenamento em local apropriado.

Processo de desidratação da forragem

Segundo ROTZ (1995), a forragem ao ser cortada para fenação contém de 70% a 80% de umidade, isto é 2,3 a 5,6 partes de água para cada parte de MS. Quando a forragem é cortada e espalhada no campo para secar, há uma súbita interrupção da transpiração (HARRIS e TULLBERG, 1980). A supressão do suprimento de água pelas raízes e uma evaporação contínua da superfície foliar levam ao pré-murchamento, secagem e morte das células. Durante a secagem, alguma atividade enzimática prossegue e nutrientes podem ser perdidos. Assim, quanto mais rapidamente ocorrer a secagem e, consequentemente, a morte das células, menor será a perda de valor nutritivo.
Durante o processo de secagem, quando a forragem é enleirada, a progressiva perda de água e o sombreamento promovem o fechamento dos estômatos, o que resulta em aumento na resistência à desidratação. Embora os estômatos se fechem em, aproximadamente, uma hora após o corte, quando as plantas possuem de 65% a 70% de água, de 20% a 30% dessa água é perdida nesta primeira fase da secagem (MacDONALD e CLARK, 1987).
Após o fechamento dos estômatos, de 70% a 80% da água deverá ser perdida pela cutícula, cuja função é de prevenir a perda de compostos da planta por lixiviação e de prover proteção contra a abrasão e os efeitos da geada e da radiação. Na fase final de secagem, a membrana celular perde a sua permeabilidade seletiva e então ocorre rápida perda de água. Essa fase se inicia quando o teor de água da planta atinge em torno de 45% e é menos influenciada pelo manejo e mais sensível às condições climáticas do que as anteriores, principalmente à umidade relativa do ar.
Alguns fatores como condições climáticas, estrutura da planta, maquinário utilizado no corte e manuseio da forragem, uso de condicionadores químicos e tipo de secagem devem ser considerados, pois interferem na desidratação das plantas. As principais variáveis a serem consideradas em relação ao clima são radiação solar, temperatura, umidade do ar e velocidade do vento.
Os fatores relativos à planta que afetam a taxa de secagem, segundo Rotz (1995), são o conteúdo inicial de água da planta e as características físicas da forragem. A espessura da cutícula, o diâmetro e o comprimento do colmo e a relação folha:colmo, entre outros, podem influenciar a velocidade de secagem da alfafa.
Inúmeras características relacionadas à estrutura das plantas influenciam a taxa de perda de água. Em relação à proporção de caule, é importante considerar que a transferência de água desta fração para as folhas é um fator importante relacionado à velocidade de secagem. A aplicação de tratamentos mecânicos nos caules como o condicionamento resulta em alta taxa de secagem e é vantajosa mesmo se a perda de água do caule pelas folhas for reduzida (ROTZ, 1995; ROTZ, 2001). É fato reconhecido que folhas de alfafa secam mais rapidamente do que os caules mais espessos e essa secagem mais rápida das folhas contribui para a destruição e a perda mecânica dos tecidos foliares mais nutritivos (HARRIS e TULLBERG, 1980).
Outro ponto importante a ser considerado é o maquinário utilizado no corte e no manuseio da forragem. Por muitos anos, as segadeiras de barra têm sido utilizadas no corte, principalmente por serem máquinas simples e baratas. A desvantagem desse equipamento é a baixa velocidade de operação, além de promover dilaceração dos caules, o que prejudica a rebrota das plantas e reduz a persistência do estande (ROTZ, 2001). As segadeiras de disco giratório desenvolvem mais velocidade do que as de barra, mas o seu desempenho é limitado pela habilidade do operador e a desvantagem desta máquina é o seu alto custo de operação, pois requer quatro vezes mais potência para operação.
A utilização de segadeiras condicionadoras que promovem o esmagamento dos caules acelera a taxa de secagem, pois elas aumentam a perda de água desta fração e reduzem pela metade o tempo de secagem de plantas forrageiras (RAYMOND et al., 1991; ROTZ, 1995). Roçadeiras não devem ser utilizadas no processo, pois além de dilacerarem os caules, picam a forragem, o que dificulta o recolhimento e resulta em substancial perda de matéria seca.
A altura de corte influencia a porção dos caules remanescentes e determina a circulação de ar na base da leira. As leiras produzidas pela maioria das segadeiras são compactas e altas, considerando-se que a resistência da leira na fase inicial de secagem é o principal fator que limita a perda de água, a taxa de desidratação pode ser aumentada com o uso de ancinhos. Assim, a perda de água na segunda fase de secagem pode ainda ser rápida se a compactação da leira for diminuída com viragens e revolvimento com ancinhos (ROTZ, 2001).
No processo de secagem da alfafa no campo, o topo da leira se desidrata antes da base. Desta forma, a manipulação da leira pode acelerar e uniformizar a secagem, por meio do revolvimento da forragem mais úmida e também do espalhamento, que aumentará a superfície de contato com o ambiente (ROTZ, 2001). O uso de ancinhos para promover a inversão das leiras não se aplica em leguminosas. Contudo, ele é benéfico após chuvas ou quando as condições de secagem são inadequadas (ROTZ, 1995).
Ainda em relação à secagem, têm sido utilizados condicionadores químicos, que mantêm os estômatos abertos e aceleram a taxa de secagem das plantas. De acordo com MacDonald e Clark (1987), a adição de fusicocina, de quinetina e de azida sódica retardou o processo de fechamento dos estômatos e acelerou a taxa de secagem. A aplicação de produtos químicos, com a finalidade de alterar a estrutura da epiderme, tais como o carbonato de potássio ou de sódio e os herbicidas dessecantes dinoseb, endotal e diquat, pode resultar em maior taxa de secagem de plantas forrageiras, uma vez que ela promove redução na resistência cuticular e perda de água (MEREDITH e WARBOYS, 1993).
O tipo de secagem, artificial ou à sombra, também deve ser considerado. A secagem artificial propicia a obtenção de feno de qualidade superior, com poucas perdas. Ela pode ser feita mediante ventilação forçada ou com ar quente em secadores especiais (CÂNDIDO et al., 2008). Martins e Vilela (2008) afirmam que o uso de galpões para completar a secagem da forragem emurchecida diminui os riscos de perdas e resulta em feno de melhor qualidade e o uso de estrados e/ou de cavaletes, sobre os quais a alfafa é depositada, é indicado para facilitar a circulação do ar. Para prevenir o aquecimento e o crescimento de mofos, deve-se efetuar o revolvimento da forragem periodicamente. O uso de secadores tipo barcaça, com ventilação forçada de ar, à temperatura ambiente ou aquecido, é uma alternativa para regiões ou para períodos do ano em que chuvas intensas e prolongadas dificultam ou impedem a secagem à campo (MARTINS e VILELA, 2008).

Perdas durante o processo de secagem

As perdas de nutrientes se iniciam imediatamente após o corte e algumas alterações bioquímicas são inevitáveis durante a secagem. Desta forma, a remoção de água tão rapidamente quanto possível resultará na diminuição das perdas (REES, 1982; MUCK e SHINNERS, 2001). Vários tipos de perdas podem ocorrer no recolhimento da forragem, além daquelas consideradas inevitáveis, tais como aquelas decorrentes da respiração celular, da fermentação, da lixiviação de nutrientes, da decomposição de compostos nitrogenados e da oxidação de vitaminas.
As enzimas hidrolíticas e as enzimas respiratórias presentes nas células das plantas continuam ativas até que haja redução acentuada no conteúdo de água das células que, de acordo com Rees (1982) e MacDonald e Clark (1987), é de 35% a 40%. Se a planta permanecer respirando, ocorrerá perda de carboidratos solúveis, diminuindo a qualidade do feno. Outros compostos, como gorduras e proteínas, podem ser usados no processo de respiração, quando se esgotam os carboidratos solúveis.
As perdas devidas à ocorrência de chuvas durante a secagem no campo podem chegar a mais de 30% da MS. Os principais fatores que afetam as perdas por lixiviação estão relacionados com a quantidade, a intensidade e a duração das chuvas. Fatores inerentes à cultura tais como o conteúdo de água da planta no momento da chuva, a maturidade, a relação folha:caule, a densidade da camada de forragem, a espécie forrageira e o tratamento da planta no momento do corte, influenciam acentuadamente as perdas de MS (MacDONALD e CLARK, 1987; MOSER, 1995; MUCK e SHINNERS, 2001).
Durante a secagem, e em decorrência da atividade respiratória, as concentrações de proteína bruta, de fibra em detergente neutro, de fibra em detergente ácido e de lignina, podem aumentar em termos proporcionais, uma vez que os resultados são expressos em percentagem. Além disso, podem ocorrer pequenas perdas de compostos nitrogenados. Assim, o desdobramento da proteína na presença de umidade é muito rápido e a extensão da degradação é influenciada pelo tempo de secagem (MOSER, 1995). As perdas de compostos nitrogenados são menores do que as de carboidratos solúveis.
A secagem ao sol diminui os teores das vitaminas A, C e E, em função da oxidação e da queima (MOSER, 1995). As perdas de minerais, como fósforo e cálcio, em geral são pequenas; entretanto, a exposição prolongada no campo pode intensificá-las e com a ocorrência de lixiviação, a quebra de folhas e outros processos físicos indiretos, esta perda pode aumentar.
Outras mudanças também ocorrem na forragem após a secagem, natural ou artificial, destacando-se a diminuição do conteúdo de proteína solúvel da alfafa, que é o agente causador do timpanismo em animais em pastejo nesta espécie de leguminosa (MOSER, 1980; MOSER, 1995).

Armazenamento

As principais causas de perdas de matéria seca no armazenamento de feno com alto teor de água estão relacionadas com a continuação da respiração celular e o desenvolvimento de bactérias, de fungos e de leveduras. Em razão da respiração celular e do crescimento de microrganismos, há utilização de carboidratos solúveis, de compostos nitrogenados, de vitaminas e de minerais, resultando na diminuição do valor nutritivo do feno. Condições de alta umidade e de temperatura acima de 55 ºC no feno são favoráveis à ocorrência de reações não enzimáticas entre os carboidratos solúveis e o grupo amina dos aminoácidos, resultando em compostos denominados produtos da reação de Maillard (MOSER, 1980; MOSER, 1995).
De acordo com MOSER (1995), a análise de fenos armazenados com umidade acima de 15% e que sofreram aquecimento evidencia algumas mudanças na cor, associadas com a atividade de microrganismos e aquecimento durante o armazenamento. A cor verde, presente no enfardamento dos fenos úmidos, é alterada para vários tons de marrom. A extensão das alterações na cor fornece indicação da intensidade do aquecimento no armazenamento e ocorrência da reação de Maillard.
As plantas forrageiras em crescimento no campo estão inoculadas, naturalmente, com ampla variedade de fungos e de bactérias. É importante considerar, que além das alterações na composição química, o desenvolvimento de fungos pode ser prejudicial à saúde dos animais e das pessoas que manuseiam estes fenos, devido à produção de toxinas, principalmente aquelas relacionadas aos fungos patogênicos como Aspergillus glaucus e Aspergillus fumigatus (MOSER, 1995; REIS e RODRIGUES, 1998).
Devido às perdas e ao aumento na população de microrganismos que podem ocorrer durante o armazenamento do feno, é necessário tomar algumas precauções. Segundo Costa e Resende (2006), o feno deve ser armazenado em galpões arejados, protegidos da umidade e os fardos devem ser dispostos em pilhas sobre estrados de madeira, evitando-se o contato com o piso (Figura 2).
 


Figura 2. Exemplo de armazenamento de feno de alfafa.
Fonte: Faes-PaalGroup

É imprescindível observar cuidados em relação à ocorrência de fogo nos galpões. As causas de fogo nesses locais podem ser por combustão espontânea ou de origem externa. Como medida de segurança, os fardos redondos não devem ser armazenados com teor de água superior a 18%, enquanto os retangulares podem ter 20% ao serem colocados em galpões. Quando se suspeita que a concentração de água está acima dos valores citados, o feno deve ser armazenado em local arejado e seco por pelo menos três semanas, a fim de perder água. Os fenos que foram recolhidos recentemente não devem ser armazenados com os mais secos.
Deve-se avaliar periodicamente a temperatura dos fardos, com base nos seguintes critérios: valores abaixo de 49 oC são considerados normais, entre 49 ºC e 60 oC inicia a fase de alerta e acima de 70 oC existe sério risco de combustão espontânea.

Aditivos

Grande variedade de produtos químicos pode ser aplicada em fenos armazenados com alto teor de água, para controlar o crescimento de microrganismos, destacando-se a utilização de diacetato de sódio, ácido propiônico, propionato de amônio, uréia e amônia anidra (COLLINS, 1995). Os produtos químicos podem agir na diminuição da disponibilidade de água e de oxigênio, na alteração do pH do feno ou na destruição de microrganismos ou na inibição do seu crescimento.
O ácido propiônico e outros ácidos orgânicos, quando aplicados em quantidades apropriadas, controlam o crescimento de fungos (como Aspergillus fumigatus), de actinomicetos (como Micopolyspora faeni) e de Thermoamicetos vulgaris, agente causador da febre do feno (COLLINS, 1995). Segundo esse autor, produtos químicos à base de ácido propiônico foram eficientes em prevenir o aquecimento e em preservar a qualidade de feno de alfafa e de feno de capim coastcross armazenados com alta concentração de água.
Segundo Lacey et al. (1981), os aditivos utilizados para conservação do valor nutritivo de fenos com alto teor de água devem apresentar características como: ser de baixa toxicidade para mamíferos; possuir efeito sobre fungos, actinomicetos e bactérias; possibilitar distribuição uniforme nos fardos; apresentar baixo nível de perda por volatilização; não ser excessivamente absorvido pelo feno; ser de manuseio fácil e seguro; ter amplo espectro de ação e ser solúvel em água.
Dentre as técnicas utilizadas para a conservação de fenos com alta concentração de água, destaca-se a amonização, com amônia anidra ou ureia como fontes de amônia (REIS e RODRIGUES, 1992; REIS et al., 1997). É importante salientar que bovinos que consumam feno de alta qualidade tratado com alta dose de amônia (3,0% da MS) podem apresentar hipersensibilidade; essa dose pode causar danos ao animal e levar à redução no consumo de forragem (COLLINS, 1995).
Trabalhos de pesquisa indicam que as reações entre a amônia e os açúcares presentes na forragem de alta qualidade resultam na formação de 4-metilimidazol, que é tóxico. A aplicação de amônia anidra em forragens de baixo valor nutritivo não apresenta risco de formação desse composto em razão do baixo teor de açúcares solúveis destes volumosos (ROTZ, 1995; COLLINS, 1995). Além disto, deve-se considerar que o manuseio da amônia requer cuidados especiais, pois o contato deste produto com a pele pode causar queimaduras, e a sua inalação acarreta problemas cardíacos e respiratórios (ROTZ, 1995).
Estudos têm demonstrado a viabilidade de se usar ureia como fonte de amônia para o tratamento de fenos armazenados com alto teor de água. O sistema de tratamento é fundamentado no fato de que a uréia em contato com uma fonte de urease, em ambiente úmido, é hidrolisada, produzindo duas moléculas de amônia e uma de gás carbônico (SUNDSTOL e COXWORTH, 1984). Entretanto, Freitas et al. (2002) avaliaram duas fontes de amônia (amônia anidra ou uréia) para conservação do feno de alfafa armazenado com alta concentração de água e verificaram que somente a amônia foi eficiente no controle dos fungos. Nos tratamentos com ureia, apesar de haver controle dos gêneros Aspergillus e Penicillium, os demais gêneros presentes foram suficientes para causar a deterioração dos fenos. Os autores afirmaram que as quantidades de ureia aplicadas (0,9% e 1,8% na MS) possivelmente foram insuficientes para o controle de fungos no feno.
A utilização de aditivos microbianos, tais como as bactérias homofermentativas que aumentam a produção de ácido lático, tem sido recomendada para acelerar o abaixamento do pH das silagens. Segundo Collins (1995), inoculantes bacterianos podem ser usados para conservar a qualidade de fenos armazenados com alta concentração de água. Contudo, a forma de atuação destes aditivos não tem sido claramente definida. De acordo com Rotz (1995), inoculantes com poucas cepas de Lactobacillus não têm efeito sobre desenvolvimento de fungos, alterações na cor, aquecimento, perda de matéria seca e mudanças na qualidade de fenos armazenados com alto teor de água.

Silagem

A conservação da alfafa como silagem e haylage é menos conhecida do que a conservação na forma de feno. A ensilagem é o método de conservação da forragem mediante um processo anaeróbio (sem a presença de oxigênio), com objetivo de produção de ácidos durante a fermentação que reduz o pH do meio, controlando, assim, a atividade de microrganismos. Denomina-se silagem de alto teor de água ou silagem de corte direto aquela em que a forragem é armazenada com mais de 70% de água e se aplica a denominação de haylage à silagem pré-secada, que tem no produto final de 40% a 60% de água (JUAN e ROSSI, 2007).
No processo de ensilagem, a forrageira é cortada, picada e posteriormente ensilada. Nesse processo, há sucessivas mudanças bioquímicas, que dependem de fatores externos e internos das plantas. A ação conjunta desses fatores favorece o desenvolvimento dos microrganismos durante o processo de fermentação (JUAN e ROSSI, 2007).
Quando a ensilagem é feita sob condições ideais, o processo é dividido em quatro fases. Na primeira fase, o oxigênio retido no ar que permanece no silo após a compactação da forragem é utilizado para a respiração da planta e, como consequência, na massa ensilada, ocorrem trocas gasosas. Esse fenômeno acontece quando no meio há açúcares solúveis e oxigênio (CLEALE et al., 1990; JUAN e ROSSI, 2007). O rompimento das membranas celulares da planta é chamado de segunda fase, aquela em que é liberado o conteúdo celular e em que há proliferação das bactérias contidas naturalmente na forragem. Nesse ponto, os carboidratos solúveis da planta são transformados rapidamente pelas enzimas em glicose e em frutose. Os carboidratos solúveis são imediatamente atacados enquanto houver oxigênio na massa ensilada.
A respiração provoca liberação de gás carbônico e pouco a pouco é consumido o oxigênio do silo. No processo há produção de calor e de água. Nesse momento prevalecem condições sem a presença de oxigênio na maior parte do silo. Segundo Devusyst e Van Belle (1964), citados por Juan e Rossi (2007), ao final de 5h a 6h o silo pode estar totalmente isento de oxigênio, se for fechado com rapidez. Mas se o fechamento for realizado 48h depois do enchimento, o processo respiratório continua por aproximadamente 72h.
A seguir, na fase de fermentação, os microrganismos iniciam o processo fermentativo. As bactérias que necessitam da presença de oxigênio para
sobreviver permanecem por pouco tempo no silo e, à medida que aumenta a anaerobiose, inicia-se a multiplicação das bactérias anaeróbias, representadas pelas coliformes (ou enterobactérias). Essas bactérias atuam até que o pH da silagem esteja em torno de 4,5. Em seguida, as bactérias láticas se multiplicam rapidamente, não só porque têm afinidade com o pH baixo, mas também porque impedem a proliferação de outras bactérias. Essas bactérias convertem o açúcar das plantas em ácido lático, principalmente. Além das bactérias homofermentativas (produzem apenas um produto final durante a fermentação) e das heterofermentativas (produzem mais de um produto final durante a fermentação), outras bactérias também participam desse processo fermentativo, porém com menor eficácia.
Finalmente, se a queda do pH é suficiente para limitar o crescimento bacteriano, a silagem estará na quarta fase ou fase estável, em que a atividade bioquímica é baixa ou inexistente, levando à preservação da massa e, consequentemente, dos seus nutrientes (CLEALE et al., 1990). Embora apresente elevado valor nutritivo, a alfafa possui características indesejáveis para o adequado processo de fermentação, tais como alto teor de água no momento do corte, alto poder-tampão (capacidade de resistir à variações do pH), baixos teores de carboidratos solúveis e caule  tubular e oco, o que impede a completa retirada do ar no momento da ensilagem (McALLISTER et al., 1998 citado por PEREIRA et al., 2005). Além disso, as referidas características indesejáveis são mais acentuadas quando a planta é mais jovem.
Uma forma de contornar esta situação é a forragem passar por um processo de emurchecimento ou ser ensilada com aditivos (PEREIRA et al., 2005). As perdas totais de matéria seca e de nutrientes durante o processo de ensilagem da alfafa podem variar entre valores mínimos de 3% a 6% em condições adequadas até 70% ou mais quando a forragem ensilada sofrer sérias alterações. Alguns estudos comprovaram que as perdas são mais severas em silagem do que em silagem pré-secada (JUAN e ROSSI, 2007). Por esses motivos é importante salientar a necessidade do abaixamento do pH o mais rapidamente possível, visando obter menores perdas durante a fermentação.
Para tanto, é necessário que as condições anaeróbias sejam alcançadas e com isso se retarde o crescimento e o metabolismo de microrganismos indesejados. Se houver falha nestas condições, há produção de volumoso de baixa qualidade, redução de consumo e, consequentemente, baixo desempenho animal (CLEALE et al., 1990).
Diversos procedimentos vêm sendo pesquisados visando contornar esses problemas, tal como o uso de inoculantes microbianos, os quais possuem a função de aumentar a população de bactérias láticas no silo e, consequentemente, a produção de ácido lático (CLEALE et al., 1990), de modo que haja rápido declínio no pH e decréscimo nos níveis de acetato e de butirato (ácidos indesejáveis na ensilagem). Além disso, os inoculantes auxiliam na fase de abertura do silo, na qual a silagem é exposta ao ar e inicia-se o processo de degradação, evitando perdas durante esta fase.

Emurchecimento e aditivos

Ensilar a alfafa sem emurchecimento, com teor de matéria seca (MS) menor do que 35% resultará em perda decorrente de formação de efluente no silo e em fermentações indesejáveis causadas por bactérias do gênero Clostridium. Entretanto, teor de MS acima de 60% dificulta a compactação e favorece a penetração de oxigênio (MUCK, 1990), com consequente superaquecimento da massa, o que provoca menor disponibilidade do nitrogênio.
Há de se considerar que o crescimento dos clostrídios é estimulado por elevação da temperatura no interior do silo, baixo teor de MS da forragem ensilada, baixo teor de carboidratos solúveis, alta capacidade tamponante da forragem e vedação inadequada do silo (JOBIM e GONÇALVES, 2003). Segundo Muck (1988), citado por Jobim e Gonçalves (2003), o pH no qual a atividade dos clostrídios é interrompida depende da atividade da água, relacionada ao teor de matéria seca da silagem. Portanto, é necessário pH baixo para conservar a silagem. Isso mostra que nem sempre o baixo pH em silagens com alto teor de água pode controlar o crescimento de clostrídios. Portanto, o emurchecimento é uma ferramenta que poderá ser utilizada para auxiliar o controle desses microrganismos indesejáveis.
Os aditivos biológicos (enzimas e bactérias homoláticas e heteroláticas) e o emurchecimento têm sido propostos como formas de propiciar melhores resultados no processo fermentativo de silagens. Na literatura, vários autores relatam a utilização de inoculantes microbianos. Muitos têm demonstrado efeitos positivos na qualidade de silagens, evidenciados por diminuição da proteólise inicial, redução do pH final, aumento da produção de ácido lático e diminuição do nitrogênio não-protéico solúvel (JONES et al., 1992).
Ainda assim, boas condições ambientais, substrato suficiente para as bactérias láticas, no caso da utilização de aditivos (HENDERSON, 1993), bom manejo, boa regulagem do maquinário destinado à colheita, garantia da manutenção do meio anaeróbio, tamanho certo das partículas a serem ensiladas (STOKES, 1992; HARRISON et al., 1994), boa compactação para efetiva e rápida expulsão do ar (WOOLFORD, 1990), ausência de rachaduras a fim de evitar a infiltração de ar ou de água, rápido fechamento do silo e cobertura do silo com lonas plásticas (MUCK, 1987), são mecanismos para minimizar as perdas de matéria seca, de energia e de qualidade da silagem. O manejo deve permitir a ocorrência e a manutenção do meio anaeróbio do silo, já que este é o ponto crítico da confecção de uma boa silagem (McDONALD et al., 1991).


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Produção de sementes de Alfafa


A produção comercial de sementes de alfafa requer dias ensolarados e quentes, com pouca ou nenhuma precipitação pluviométrica (RINCKER et al., 1988). Essas condições climáticas promovem a floração e a atividade dos polinizadores, permitem o adequado amadurecimento dos frutos e previnem a queda e/ou danos às sementes.
Quando se deseja obter altos rendimentos, a produção de sementes deve ser considerada como uma indústria especializada, separada da produção de forragem (MARBLE, 1980). Os fatores mais importantes na produção de sementes são a fertilidade do solo, o controle de pragas, de plantas daninhas e de doenças, a polinização e o manejo de água. Isto significa que devem adotar-se práticas de manejo que tenham por finalidade exclusivamente a produção e a colheita de sementes.
Há dois sistemas de colheita de sementes: corte, enleiramento e trilha; e colheita direta, com prévia aplicação de um desfolhante (dessecação). Na colheita, é necessário cuidar bem da regulagem de máquinas, principalmente a colhedora, para evitar perdas elevadas de produtividade e da qualidade das sementes.

 

Requerimentos ambientais

Clima

As condições climáticas que favorecem a produção de sementes são: a) um período de crescimento de ao menos 150 dias de duração; b) durante o período de floração, temperaturas médias em torno de 24-25 ºC durante o dia e menores que 18 ºC durante a noite, com ar relativamente seco (umidade relativa menor que 50%); c) alta luminosidade e ausência de ventos fortes durante a floração, com um mínimo de dias nublados e frescos; d) dias longos, com um mínimo de 14h de luz; e e) uma distribuição de chuvas ou irrigação que promova um crescimento vegetativo controlado e que, através de uma redução gradual da umidade do solo após a floração, provoque um adequado crescimento reprodutivo (MOSCHETTI et al., 2007).
Em zonas úmidas e com chuvas frequentes nos períodos de maturação e colheita, a produção de sementes costuma ser muito baixa (50 a 100 kg/ha). Ao contrário, em climas áridos, onde se pode controlar a irrigação, a produção pode chegar a 1.000 kg/ha (ECHEVERRIA, 1993). Assim, uma chuva de apenas 5 mm pode provocar a queda de vagens e causar perdas de sementes de certa magnitude; uma chuva de 10 mm a 20 mm pode produzir perdas de até 75%, se a semente estiver seca e no ponto de ser colhida (MARBLE, 1980; MARBLE, 1987). Com base na precipitação no momento de maturação e colheita das sementes, Ochoa (1980) sugeriu a seguinte classificação da aptidão agrícola para se produzir sementes em uma região: excelente: 0-20 mm; muito boa: 20-40 mm; boa: 40-60 mm; regular: 60-80 mm; problemática: 80-100 mm; muito difícil: 100-120 mm e impossível: > 120 mm.
Ainda que a alfafa seja uma espécie de dias longos, a resposta ao comprimento do dia também é influenciada pela radiação e pela temperatura (FICK et al., 1988). De modo geral, a formação de flores é favorecida por um mínimo de 12h de luz, com alta intensidade luminosa e temperaturas mínimas acima de 20 ºC (FICK et al., 1988). A temperatura e o fotoperíodo não só condicionam o desenvolvimento das inflorescências e a fertilidade do pólen e dos óvulos, como também a atividade dos polinizadores, o crescimento e a maturação das vagens (HACQUET, 1986). Temperaturas muito altas ou ventos extremamente secos podem provocar uma significativa queda de flores e/ou afetar o desenvolvimento das sementes, aumentar a proporção de sementes duras e diminuir o seu vigor (FICK et al., 1988).
Solo
Embora a alfafa se adapte a várias condições de solo, os altos rendimentos de sementes são obtidos em solos bem drenados, com baixo teor de sais e uma profundidade mínima em torno de 1 m. Os solos argilosos, argilo-arenosos ou franco-argilo-arenosos são preferíveis aos solos arenosos, por sua maior capacidade de retenção de água. Devem-se evitar os solos extremamente arenosos, pedregosos ou com algum tipo de compactação próximo à superfície. Um terreno de textura uniforme facilita o manejo da umidade no perfil do solo e a sincronização dos estádios de desenvolvimento da cultura (MARBLE et al., 1986; MARBLE, 1987; RINCKER et al., 1988). 
O excesso de umidade é prejudicial não só porque favorece demasiadamente o desenvolvimento vegetativo, mas também porque pode provocar a morte de plantas por anoxia radical (ausência de ar no solo) ou o desenvolvimento de doenças (CABRAL et al., 1985). Dessa forma, ao se utilizar um sistema de irrigação, é fundamental um bom nivelamento do terreno (sistematização), para eliminar pontos de encharcamento e uniformizar a distribuição de água. Também é importante conhecer a profundidade e a dinâmica do lençol freático, pois suas contribuições ao cultivo podem diminuir a frequência e a intensidade das irrigações aplicadas ao longo do ciclo produtivo (BRASE, 1987).
A fertilidade do solo é um fator importante para definir os rendimentos de sementes. Os conteúdos de nitrogênio (N), fósforo (P), enxofre (S) e boro (B), na ausência de restrições hídricas severas, costumam ser os elementos que mais limitam o crescimento e o desenvolvimento das plantas (DARWICH, 1992). Também não se deve descuidar do fornecimento de outros elementos como potássio (K), magnésio (Mg), zinco (Zn), cobre (Cu), manganês (Mn) e molibdênio (Mo) (CULOT, 1986; DIAZ ZORITA et al., 2007). As necessidades de fertilização podem ser definidas com base na análise do solo ou tecido vegetal. Outro fator importante é o grau de acidez dos solos, pois a alfafa não se desenvolve em solos ácidos. A acidez excessiva do solo reduz a disponibilidade de alguns macronutrientes (como P, N, Ca, Mg e K), assim como pode aumentar a solubilidade do alumínio (Al) a níveis fitotóxicos, prejudicando a fixação simbiótica do N2 ao diminuir a atividade dos rizóbios (Sinorhizobium meliloti). Quando necessário, deve-se corrigir a acidez do solo por meio da calagem (HONDA e HONDA, 1990; DIAZ ZORITA e GAMBUADO, 2007).

Estabelecimento do cultivo

Escolha e preparo do solo
A escolha do solo onde será feito o plantio deve basear-se primeiramente nas características desejáveis do solo, tanto físicas (textura, profundidade, etc.) como químicas (fertilidade, acidez, salinidade, etc.). Devem-se, também, evitar solos que tenham alta infestação de plantas daninhas que sejam difíceis de controlar e que causarão sérios prejuízos à produção, inviabilizando economicamente a atividade.
Outro critério para a seleção da área é a necessidade de isolamento, que é a distância mínima que deve existir entre lotes contíguos de alfafa de outra variedade ou de outra categoria de sementes. Desse modo, evita-se a contaminação com outras fontes de pólen, preservando-se a pureza genética da variedade que está sendo multiplicada.
Uma vez escolhida a área, as práticas de preparo de solo devem oferecer um solo bem destorroado, com uma camada fina e firme para efetuar a semeadura. As crostas superficiais de solo (pé de arado ou de grade, horizontes adensados etc.) devem ser eliminadas com aração profunda antes da preparação final para a semeadura.
Época e densidade da semeadura
Da mesma forma que para a produção de forragem, a melhor época de plantio de um cultivo de alfafa para semente deve ser escolhida com base em três fatores importantes: temperatura, umidade e incidência de plantas daninhas. A combinação desses fatores sugere que o outono é a melhor época de semeadura na grande maioria dos casos. No Brasil, o período de abril a junho (outono) é o mais indicado para a implantação da cultura (HONDA e HONDA, 1990). A semeadura na primavera, especialmente sob irrigação, também tem sido feita com êxito. No entanto, nesta época, deve-se intensificar o controle de plantas daninhas, particularmente as gramíneas.
A inoculação das sementes com Sinorhizobium meliloti é uma prática recomendável, especialmente para solos em que ainda não se cultiva alfafa. Para as condições do Brasil, o uso de sementes peletizadas - que combinam a inoculação com o uso de fungicida e recobrimento com carbonato de cálcio - pode oferecer vantagens significativas comparativamente à utilização de semente natural, pois não há tradição de cultivo da alfafa e as condições edáficas nem sempre são propícias. Ao se usar sementes peletizadas, deve-se considerar a quantidade de material inerte que se incorpora, a fim de se calcular corretamente a quantidade de sementes a serem utilizadas.
As densidades de semeadura em cultivos de alfafa destinados à produção de sementes devem ser consideravelmente mais baixas que as empregadas para a produção de forragem. Recomenda-se semear até 1 kg/ha em fileiras espaçadas de 0,7 a 1 m (ECHEVERRIA et al., 1995).
A profundidade ótima de semeadura não deve exceder 1,5-2 cm de profundidade em solos franco-arenosos ou 0,6-1,5 cm em solos franco-argilosos. Quando se semeia a profundidades de 2,5 a 3,5 cm, a emergência de plântulas é significativamente reduzida e é quase nula a partir dos 5 cm (SMITH et al., 1967). A semeadura profunda atrasa a emergência e aumenta a probabilidade de perda de plantas por ocorrências meteorológicas desfavoráveis, por invasão de plantas daninhas e/ou crostas de solo (MARBLE, 1980; MARBLE et al., 1986).
Espaçamento entre fileiras
Vários trabalhos de pesquisa têm demonstrado que as semeaduras em espaçamentos maiores produzem maiores rendimentos de semente do que os espaçamentos menores usados para a produção de forragem (GOPLEN, 1975 e 1976; HART, 1980). Isto se deve a maior produção de néctar (e, portanto, maior atração para os polinizadores) e menor índice de aborto de flores nas plantas distanciadas. Outras vantagens observadas incluem o desenvolvimento de plantas mais eretas, que facilitam o trabalho dos polinizadores; a penetração da luz e o aumento da temperatura do solo; a diminuição do acamamento e a redução da umidade na folhagem, que reduzem a incidência das doenças foliares e os danos à semente; a maior eficiência no uso de agroquímicos, devido à maior penetração na pulverização; a simplificação no manejo da irrigação; e a possibilidade de se realizar controles mecânicos de plantas daninhas e de plantas de alfafa de cultivos anteriores, assegurando-se, desta forma, a pureza genética (MARBLE, 1976; MARBLE, 1987; RINCKER et al., 1987).
O espaçamento entre fileiras mais aconselhável varia de 0,9 m a 1 m para áreas com maior período de crescimento, e de 0,7 m a 0,8 m para áreas com menor período de crescimento, depositando 4 a 5 sementes a cada 20 cm ou 30 cm da linha de plantio, formando-se o conceito de grupo de plantas e não plantas individuais (Figura 1).
Foto: Daniel Horacio Basigalup

Figura 1. Germinação de grupos de plantas de alfafa em sistema de irrigação por gotejamento.

Irrigação
O uso de irrigação é um aspecto fundamental para a produção de sementes de alfafa e é um dos temas mais difíceis de regular na prática. Como cada situação particular requer seu próprio ajuste, a irrigação é mais uma arte que uma técnica rígida. Entre outros fatores, as quantidades e os momentos de aplicação de água variam em função da textura e da profundidade dos solos, das chuvas recebidas, da evapotranspiração, da influência dos lençóis freáticos, da quantidade e qualidade da água disponível, da densidade do cultivo e do tipo de cultivar (MARBLE, 1976; RINCKER, 1979; MARBLE et al., 1986; RINCKER et al., 1987). Em consequência, a complexidade das interações entre todos esses fatores torna quase impossível a definição de um esquema de irrigação de aplicação geral.
Quando bem manejada, a irrigação deve promover um crescimento lento e sustentado das plantas, evitando o desenvolvimento vegetativo excessivo e favorecendo o desenvolvimento reprodutivo. Um desenvolvimento vegetativo excessivo, como consequência da aplicação de água em demasia, aumenta a predisposição ao acamamento e reduz a produção de flores, com menor conteúdo de néctar. Por outro lado, uma severa deficiência de água gera plantas com pequeno desenvolvimento vegetativo, baixa produção de flores e sementes muito pequenas.
Nas áreas produtoras de semente do mundo se empregam basicamente três sistemas de irrigação: sulco ou inundação, aspersão ou gotejamento.
Controle de plantas daninhas
Uma forte infestação de plantas daninhas em uma área de alfafa pode reduzir significativamente a produção de sementes e o resultado econômico da atividade, não só pela competição por luz, água e nutrientes, mas também pela interferência no trabalho dos agentes polinizadores, pelas complicações na colheita e pelo aumento dos custos de produção e das perdas durante o processamento da semente (DELL’ AGOSTINO et al., 1990; ECHEVERRIA et al., 1995). É mais simples e econômico eliminar as plantas daninhas antes da colheita do que fazê-lo depois da semente colhida. Se as plantas daninhas amadurecerem e formarem sementes – além de aumentar o banco de sementes da área – estas serão colhidas junto com a alfafa e terão que ser eliminadas no processo de limpeza. Esta é uma prática muito difícil, particularmente quando se trata de sementes com peso e tamanho similares às de alfafa.
Um programa racional de controle das plantas daninhas, tanto no estabelecimento quanto em cultivos já estabelecidos, deve combinar medidas de prevenção com controles culturais, mecânicos e químicos. Uma das medidas mais efetivas de prevenção é a escolha de um lote livre de plantas daninhas problema e com baixa ou nenhuma infestação de plantas daninhas perenes.
O controle mecânico é um método econômico, mesmo que seja efetivo somente para as plantas daninhas anuais. Pode ser feito com implementos como grade de discos, carpideiras, cultivadores rotativos, etc. Obviamente, o cultivo em espaçamentos maiores facilita essas operações. Para se decidir o momento e a frequência do controle mecânico, deve-se verificar o desenvolvimento das plantas e o dano que ele pode ocasionar. Portanto, é conveniente que o trator tenha rodas estreitas. O controle mecânico também pode ser útil para a eliminação de plântulas de alfafa de cultivos anteriores, bem como para melhorar a infiltração da água de irrigação no perfil do solo (ECHEVERRIA et al., 1995).
O controle químico com herbicidas seletivos costuma ser efetivo e duradouro, mas exige maior grau de planejamento e conhecimento do que o requerido no controle mecânico. Moschetti et al. (2007) descrevem os herbicidas que têm sido empregados na produção de sementes de alfafa, que podem resumir-se da seguinte maneira: A- Preparação do terreno: glifosato (2-4 L i.a/ha) para plantas daninhas perenes e paraquat (500 a 750 g i.a/ha) para plantas daninhas anuais; B- Estabelecimento da cultura: a) pré-plantio incorporado: trifluralina (550 a 900 g i.a./ha) e EPTC (2,5-3,0 kg i.a/ha); b) pré-emergência: methazole (1,5 a 1,8 kg i.a./ha) e flumetsulam (50 a 70 g i.a./ha); e c) pós-emergência: i) latifoliadas (dicotiledôneas ou “folhas largas”): 2,4-DB (0,75 a 1,0 kg i.a./ha); bromoxinil (350 a 550 g i.a./ha); e flumetsulam (35 g i.a./ha) ou bentazon (300 a 500 g i.a./ha), geralmente combinados com 2,4-DB para controlar plantas daninhas pouco sensíveis ou resistentes a este último; e ii) gramíneas (monocotiledôneas ou “folhas estreitas”): cletodim, fenoxaprop-p-etil, fluazifop-p-butil, haloxifopmetil, quizalofop-etil, quizalofop-p-etil, e setoxidim (DELL’AGOSTINO et al., 1987; DELL’AGOSTINO, 1990); e C- Cultivos já estabelecidos: a) durante o repouso invernal e em pré-emergência das plantas daninhas: diuron (2,0-2,4 kg i.a./ha), terbacil (0,8 a 1,0 kg i.a./ha), metribuzin (550 a 750 g i.a./ha) e propizamida (1,0 a 2,0 kg i.a./ha); e b) pós-emergência: 2,4-DB, bromoxinil, flumetsulam (25 a 35 g i.a./ha), imazetapir (80 a 100 g i.a./ha), clorimurón etil (5 a 7,5 g i.a./ha), bentazon (300 a 500 g i.a./ha) e glifosato (0,5 a 1,0 kg i.a./ha), aplicados durante os meses sem rebrota ativa na alfafa. Deve-se ressaltar que estes herbicidas não possuem registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para serem utilizados em alfafa no Brasil.
Merece consideração especial o controle de uma planta daninha muito problemática para a produção de semente de alfafa: a cuscuta. Esta espécie anual e parasita aparece geralmente em forma de manchas isoladas (reboleiras) que, se não forem controladas, podem chegar a invadir toda a área. O controle preventivo inclui o uso de semente livre de cuscuta; a adequada limpeza das máquinas ao término da colheita de uma área; o controle de cuscuta e de plantas daninhas hospedeiras em estradas e carreadores, alambrados e canais de irrigação, e impedir o pastejo em áreas contaminadas (DAWSON et al., 1984; DELL’ AGOSTINO, 1990). Quando aparecem manchas (reboleiras) de cuscuta em uma área, é fundamental eliminá-las antes que a mesma floresça e produza sementes. Para isso, devem-se cortar as plantas de alfafa parasitadas abaixo do ponto onde a cuscuta está aderida, deixá-las secar e depois retirá-las do lote e destruí-las. Uma alternativa é cortar as plantas de cuscuta e  queimá-las após a secagem. Outra opção é queimar diretamente o setor invadido com um lança-chamas ou aplicar um herbicida de contato (paraquat) e, após a secagem, queimá-lo. Em todos os casos, é aconselhável o tratamento de uma área maior do que a invadida para se evitar a permanência de plantas parasitadas na cultura (DAWSON et al., 1984; DELL’ AGOSTINO, 1990). Quanto ao controle químico, podem-se usar diversos produtos. O glifosato, em doses muito baixas (75 a 150 g i.a/ha), permite um controle seletivo da cuscuta quando esta já está aderida ao
hospedeiro (DAWSON, 1986). No caso de lotes já invadidos, com uma grande quantidade de sementes de cuscuta no solo, os herbicidas propizamida (1 a 2 kg i.a./ha), trifluralina (granulada e em doses muito altas), cloroprofán, pendimetalín ou dinitroanilina tem sido usados com sucesso nos EUA, em aplicações de préemergência (ORLOFF, 1985; DAWSON, 1986; BURRIL et al., 1988; ORLOFF et al., 1989; DELL’ AGOSTINO, 1990).
Polinização
Para produzir semente em quantidade e qualidade, a alfafa requer que haja polinização cruzada (alogamia). A disposição dos órgãos florais requer um mecanismo que libere os órgãos sexuais das flores (pistilo e estames), atividade que é realizada por várias espécies de insetos (MARTINEZ, 1987). Deste modo, quando os órgãos sexuais da planta tocam o abdômen do inseto, o estigma entra em contato com o pólen proveniente de outras flores. Mecanismos de auto-incompatibilidade e auto-esterilidade favorecem a alogamia (VIANDS et al., 1988).
A polinização deficiente é um dos fatores que mais dificultam a produção de sementes de alfafa no mundo. Na ausência de insetos polinizadores, a grande maioria das sementes provém da auto-fecundação, o que dará origem a plantas com pouco vigor, tendo, consequentemente, baixa produção de forragem e de sementes. Com auto-fecundação, somente 35% das flores fecundadas formam vagens, enquanto na polinização cruzada esse valor chega a 60%. Em geral, rendimentos de sementes de 50 a 150 kg/ha e 1 a 3 sementes/vagem indicam alto nível de auto-fecundação. Por outro lado, rendimentos acima de 500 kg/ha indicam polinização cruzada, chegando a produzir 9 sementes/vagem (MOSCHETTI et al., 2007).
As abelhas são os insetos mais eficientes como polinizadores de alfafa. As espécies mais importantes são: abelha melífera ou européia (Apis mellifera), abelha cortadeira de folhas (Megachile rotundata), abelha alcalina (Nomia melanderi) (MARBLE, 1976; MARBLE, 1980; MARBLE et al., 1986).
A atividade das abelhas depende, entre outros fatores, das condições ambientais, da cultivar, da proximidade de fontes competitivas de pólen, do tamanho e cor das flores, da aplicação de inseticidas na área ou em áreas vizinhas, etc. (MARTINEZ et al., 1983). As temperaturas baixas, os ventos fortes, o céu nublado e a chuva retardam o vôo das abelhas e dificultam a colheita de pólen ou néctar (MARTINEZ, 1987).
Polinização com abelhas melíferas
Nos campos de semente de alfafa, as abelhas operárias são principalmente coletoras de néctar (MARTINEZ et al., 1983) e, mesmo visitando as flores rapidamente (cerca de 14/minuto), evitam o mecanismo de desenlace dos órgãos sexuais florais, chegando a fecundar somente 1% das flores visitadas. Mesmo em número reduzido (1-5% da população da colméia), as operárias que colhem pólen trabalham mais lentamente (8 flores/minuto), mas conseguem ativar o mecanismo de desenlace em 80% das flores visitadas, o que faz com que polinizem uma média de 384 flores/hora e sejam 45 vezes mais eficientes como polinizadoras do que as operárias coletoras de néctar (MARTINEZ, 1988). As abelhas coletoras de pólen têm picos de atividade entre 32 ºC e 44ºC, enquanto as coletoras de néctar alcançam sua máxima atividade entre 32 ºC e 35ºC (FRANKLIN, 1951).
Colheita
Há basicamente dois métodos de colheita de sementes de alfafa: a) corte, enleiramento e trilha; e b) colheita direta, com prévia aplicação de um desfolhante (dessecação). Utiliza-se o primeiro método quando é necessário colher cultivares de maturação tardia com uma significativa percentagem de vagens imaturas, com uma alta proporção de sementes verdes, que terminam de amadurecer após o enleiramento. Por sua vez, a colheita direta permite reduzir a incidência dos fatores ambientais, como chuvas, alta umidade relativa (que podem provocar sementes ardidas e manchadas) ou ventos (que podem disseminar o material cortado e amontoado na fileira) (MARBLE, 1976; STEPHEN et al., 1976; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1982; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1990).
Quando o enleiramento se realiza em condições de baixa umidade relativa e ventos fortes, as perdas de semente podem superar 50% (MARBLE, 1976; GOSS, 1979). O uso de dessecantes químicos na colheita direta permite uma secagem rápida e homogênea do cultivo, diminuindo os riscos da secagem natural.
Se for utilizado o sistema de enleiramento, a cultura deve ser cortada quando cerca de 70% das vagens apresentarem cor marrom-escura, mas antes de começarem a abrir. A operação deve ser feita durante as horas do dia com maior umidade do ar, ou quando as folhas estão úmidas por efeito do orvalho (STANGER e THORP, 1974). A semente está pronta para ser trilhada quando o conteúdo de umidade da folhagem oscilar entre 12% e 18% (BUNNELLE et al., 1954). Sob condições ótimas de trabalho, as perdas na barra de corte da enleiradeira não devem exceder os 10 kg/ha.
Para a implementação do sistema de colheita direta, o dessecante químico deve ser aplicado quando pelo menos 80-85% das vagens apresentarem cor marrom-escura. Para que a aplicação do dessecante seja mais efetiva, as plantas devem apresentar um crescimento aberto e ereto, e o teor de umidade do solo deve ser baixo, para inibir a rebrotação da coroa (ROYLANCE, 1968; MARBLE, 1976). Se o cultivo é muito denso e apresenta abundante folhagem, ou se está com alta infestação de plantas daninhas, é mais eficaz efetuar duas aplicações separadas com 2-4 dias de intervalo (MARBLE, 1976; MOSCHETTI e DELL’ AGOSTINO, 1979). Para evitar perdas por deiscência (abertura de vagens), a colheita deve iniciar-se quando o teor de umidade das folhas e vagens está ao redor de 15-20% e ao redor de 50% nos talos. Em áreas com altas temperaturas, a colheita se efetua normalmente entre 3 e 5 dias após a aplicação do dessecante, enquanto em áreas com temperaturas mais baixas podem ser necessários entre 5 e 12 dias (JONES e MARBLE, 1961; MARBLE, 1976). Se as recomendações técnicas de ajuste dos implementos são seguidas, as perdas na colheita devem oscilar entre 10 e 20 kg/ha (MARBLE, 1976; GOSS et al., 1977 e 1979).
Os dessecantes químicos, que são produtos de contato e que não se translocam na planta nem afetam a coroa ou a raiz, têm efeito temporário e não afetam a rebrotação posterior das plantas. Os mais usados são diquat e paraquat, em doses de 1 a 4 L/ha de produto formulado, com um volume de água não inferior a 100 L/ha em aplicações terrestres, e de 20-25 L/ha em aplicações aéreas. Recomenda-se o uso de espalhante adesivo não iônico, em concentrações de 0,10% ou 0,50%. A efetividade destes dessecantes é mais alta quando a aplicação é sucedida por um período de horas sem luz (fim da tarde), favorecendo a penetração do produto nas plantas. Nos EUA, são utilizados outros produtos, como dinoseb, pentaclorofenol, DNOC e endothal, embora ocasionalmente possa aumentar o número de sementes duras . Na maioria dos casos, a maior segurança de colheita e a diminuição das perdas tornam mais econômico o uso do dessecante, apesar do seu preço relativamente elevado.
Na colheita, é necessário cuidar bem da regulagem de máquinas, principalmente a colhedora, para evitar perdas elevadas de produtividade e qualidade das sementes.




Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *