sábado, 20 de maio de 2017

Plantas daninhas na Cultura do Algodão


Plantas daninhas

Interferência de plantas daninhas na cultura do algodoeiro

Uma planta é conceituada como daninha quando sua presença no ambiente interfere nos interesses do homem. De modo geral, planta daninha pode ser definida como toda e qualquer planta que ocorre em local onde não é desejada (BRINGHENTI, 2001). Para qualquer cultivo agrícola o termo interferência de plantas daninhas refere-se ao conjunto de ações que recebe uma determinada cultura, em decorrência da presença da comunidade infestante. Os efeitos negativos observados no crescimento, desenvolvimento e produtividade de uma cultura, não devem ser atribuídos exclusivamente à competição, mas a um conjunto de pressões ambientais que está direta ou indiretamente ligado à presença das plantas daninhas no ecossistema agrícola (PITELLI, 1985). De acordo com Pitelli & Pitelli (2008) os mecanismos de interferência podem ser divididos em diretos, dos quais se destacam competição, alelopatia e depreciação da qualidade do produto; e indiretos, com relevância para patógenos ou pragas hospedadas por plantas infestantes e efeitos prejudiciais às práticas agrícolas.
O metabolismo fotossintético C3, o crescimento inicial lento (AZEVEDO et al., 1994; BELTRÃO; AZEVEDO, 1994) e o ciclo longo estão entre as características do algodoeiro que o tornam bastante sensível à interferência das plantas daninhas. Na cotonicultura, as plantas daninhas podem reduzir a produtividade em mais de 90% (FREITAS et al., 2003; AZEVEDO et al., 2008).
Para que se possa adotar alguma medida no intuito de reduzir os efeitos das plantas daninhas, é necessário o conhecimento do período, durante o ciclo cultural, em que a presença de plantas daninhas interfere negativamente no crescimento e desenvolvimento da lavoura. Em média, o período de mato-competição das plantas daninhas no ciclo do algodoeiro ocorre entre 15 e 70 dias após a emergência da cultura, correspondendo ao intervalo no qual o controle deve ser realizado com o objetivo de eliminar a competição interespecífica e assegurar a produtividade. Porém, esse período pode variar, principalmente, em função do sistema de produção adotado (CHRISTOFFOLETI et al., 2011), nos quais se enquadram a possibilidade de utilização de irrigação, além de outros fatores, como condições ambientais específicas de cada região (clima e solo), composição da comunidade infestante, cultivar, nível de perda de produtividade considerado como aceitável, entre outros.
A presença de plantas daninhas no final do ciclo do algodoeiro, apesar de não afetar a produtividade, pode atrapalhar e onerar a colheita e o beneficiamento. Algumas plantas infestantes dificultam a colheita do algodão, com destaque para as espécies de corda-de-viola (Ipomoea spp.) e o apaga-fogo (Alternanthera tenella), enquanto outras, como Acanthospermum hispidumCenchrus echinatus e Bidens pilosa depreciam a qualidade do algodão colhido, devido à adesão de seus propágulos à fibra. Consequentemente, no beneficiamento, são requeridos maiores esforços mecânicos para obtenção de limpeza, podendo comprometer o comprimento, a uniformidade das fibras e o valor da pluma (AZEVEDO et al., 2008). Além disso, qualquer espécie que proporcione elevada infestação resultando em resíduos vegetais sobre a fibra, pode prejudicar a qualidade da mesma. No detalhe da Figura 1 é possível verificar impurezas vegetais em fardo de algodão oriundas da presença de comunidade infestante, durante a colheita.
Fotos: Valdinei Sofiatti e Augusto G. F. Costa
Figura 1. Fardo de algodão com impurezas vegetais oriundas de plantas daninhas presentes na colheita.
O controle dentro dos períodos de interferência pode ser realizado com base no limite aceitável de perda de produtividade, podendo ser considerados outros fatores, principalmente os custos de produção e controle, preço do produto e a produtividade esperada ou almejada. Entretanto, sabendo-se dos riscos de interferências na operação de colheita e na qualidade do produto, é indispensável planejar e estar atento ao manejo de plantas daninhas por todo o ciclo, com base, principalmente, nas informações sobre a comunidade infestante e o sistema de produção utilizado.

Métodos de controle de plantas daninhas

Controle preventivo
O controle preventivo envolve, basicamente, medidas que visam evitar a entrada ou transporte de plantas daninhas para uma determinada área, das quais podem ser destacadas:
  1. evitar o transporte de propágulos aderidos às vestimentas de homens ou à pele de animais;
  2. uso de insumos com ausência de propágulos de plantas daninhas, principalmente sementes. Nesses casos procurar utilizar sementes certificadas e de origem idônea para reduzir o risco de introduzir novas infestantes;
  3. limpeza de máquinas e equipamentos;
  4. controle de plantas infestantes nos arredores ou áreas adjacentes às de cultivo, como em estradas e canais de irrigação, entre outros.
Controle cultural
O controle cultural corresponde às práticas de manejo da cultura que favorecem o crescimento e estabelecimento da mesma, resultando em vantagens competitivas em relação às plantas daninhas. Na maioria das vezes é consequência das técnicas e sistemas de produção adotados em função da produtividade, qualidade, menores custos e maiores facilidades operacionais. Entretanto, diante das opções disponíveis, ao considerar o controle de plantas daninhas, algumas mudanças ou pequenos ajustes ao tomar as decisões durante o planejamento e condução da lavoura, podem representar benefícios fundamentais e específicos para o manejo das espécies infestantes. A seguir, são apresentados os principais métodos de controle cultural.
Preparo do solo
Nas áreas de plantio no sistema convencional, onde é possível a movimentação do solo, o preparo do mesmo representa uma alternativa de método de controle, podendo também ser considerado como um tipo de controle mecânico (Figura 2). O preparo primário (mais profundo), geralmente, é realizado com arados ou grades aradoras e o secundário (mais superficial) com grades niveladoras. Nesse processo, as sementes e demais propágulos podem ser incorporados a maiores profundidades e/ou destruídos junto com os demais restos culturais, dificultando ou impedindo a germinação, brotação ou emergência das plantas daninhas. Em relação à grade aradora, é importante salientar a desvantagem de sua utilização promover a compactação do solo. Por outro lado, o preparo do solo pode ocasionar o ressurgimento de espécies de plantas daninhas, devido à movimentação do solo, fazendo com que as sementes que estavam profundas no solo sejam trazidas até a superfície pelo preparo do solo.
Apesar de o preparo do solo contribuir no manejo de plantas daninhas, o uso desta técnica deve ser extremamente cuidadoso e criterioso, principalmente na cultura do algodoeiro, na qual é tradicionalmente e intensamente utilizado, pois leva a degradação química, física e biológica do solo, podendo resultar na diminuição do potencial produtivo do mesmo (LAMAS & STAUT, 2006).
Foto: Augusto G. F. Costa
Figura 2. Preparo do solo realizado contribuindo para o controle de plantas daninhas.  
Cobertura morta
Nas áreas onde a movimentação do solo não é realizada em função da adoção do sistema plantio direto, a palhada (cobertura) deixada sobre o solo e sobre a qual a cultura é semeada, além dos vários benefícios à lavoura e ao ambiente, pode apresentar vantagens no controle de plantas daninhas (Figura 3). A cobertura morta pode reduzir a infestação pelos efeitos de diminuição da alternância de temperatura do solo; menor disponibilidade de luz; barreira física e liberação de substâncias alelopáticas. Além disso, devido à não movimentação do solo, a elevada incidência de sementes próxima à superfície influencia a dormência, germinação e morte das mesmas; pode também reduzir a propagação vegetativa de determinadas espécies (SILVA et al., 2009), bem como favorecer a redução do banco de sementes devido à maior exposição das plantas aos métodos de controle, especialmente o químico (PITELLI, 1997).

Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
Figura 3. Presença de cobertura morta (palhada) no cultivo do algodoeiro.
Cultivar
O uso de cultivares adequadas às condições edafoclimáticas, época de plantio e demais atributos do sistema de produção de interesse tendem a favorecer o estabelecimento e o desenvolvimento da lavoura, contribuindo para a habilidade competitiva do algodoeiro em relação às plantas daninhas. As características de arquitetura do algodoeiro também podem proporcionar cobertura mais rápida do solo; entretanto, as cultivares mais modernas, em geral, têm apresentado menores porte, ramificação e área foliar.
Ainda relacionado ao material a ser plantado, têm sido disponibilizadas cultivares geneticamente modificadas tolerantes a herbicidas, representando importante estratégia associada ao controle químico, que será tratada com mais detalhes neste e em outro capítulo.
Sendo assim, a decisão da cultivar a ser utilizada pode estar baseada nas características da planta que favoreçam a competitividade do algodoeiro em relação à comunidade infestante, mas deve estar, principalmente, fundamentada nas respostas da mesma frente às condições ambientais e de manejo locais que contribuam para a redução da incidência ou controle direto de plantas daninhas por outros métodos.
População de plantas
O lento crescimento inicial do algodoeiro, associado aos espaçamentos convencionais (76 a 90 cm entre fileiras) favorece o crescimento das plantas daninhas, em especial nos primeiros meses, necessitando que estas sejam adequadamente manejadas para não comprometerem o potencial produtivo da cultura (FREITAS et al., 2006). Nesse contexto, a utilização de populações ou arranjo de plantas que favoreçam maior e mais rápida ocupação da área tende a aumentar as vantagens competitivas do algodoeiro. O espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são fatores que interferem na precocidade e na intensidade do sombreamento promovido pelas plantas de algodão (PITELLI & PITELLI, 2008), influenciando a germinação, emergência e desenvolvimento das plantas daninhas. Azevedo et al. (1994), ao reduzirem o espaçamento das linhas de semeadura do algodoeiro irrigado de 1,0 para 0,8 m, constataram redução do período crítico de prevenção a interferência das plantas daninhas, passando dos 16 aos 46 para 18 aos 34 dias após a emergência da cultura.
Rotação de culturas
A utilização de outras culturas alternativas ao algodoeiro, alternadas na sequência das safras, representa uma das mais importantes estratégias para o controle cultural de plantas daninhas e permite reduzir a incidência de infestantes no algodoeiro, especialmente no que se refere à diminuição do banco de sementes, resultado da associação de métodos de controle e manejo que são utilizados nas diferentes culturas, principalmente distintos herbicidas que não são registrados ou seletivos ao algodoeiro. Além do controle químico ou mesmo mecânico utilizado nas culturas antecessoras, o próprio efeito cultural das mesmas ou dos sistemas de produção podem exercer papel importante na dinâmica da comunidade de plantas infestantes.
Controle mecânico
Controle mecânico com enxada
Em grandes áreas, a enxada é utilizada de maneira complementar aos outros métodos, geralmente, em ação localizada, principalmente quando determinadas espécies não foram ou não são controladas pelos herbicidas disponíveis ou a aplicação dos mesmos não é mais possível devido ao estádio de desenvolvimento em que a cultura ou as plantas daninhas se encontram. Com a utilização de cultivares de algodão transgênicas resistentes aos herbicidas, essa prática está em desuso no Cerrado.
Controle mecânico com cultivador
O seu uso diminuiu ao longo dos anos devido à utilização de herbicidas e cultivares transgênicas resistentes a herbicidas. O seu uso se limita a áreas que utilizam cultivares não transgênicas para resistência a herbicidas, sendo utilizado como método complementar ao controle químico. 
De acordo com Beltrão & Azevedo (1994) e Azevedo (2002), os aspectos mais importantes para o cultivo são a profundidade de operação e a época. Com relação à época, os cultivos devem ser realizados dentro do período crítico de competição, iniciando-se logo após a emergência da cultura, pois quanto mais jovens estão as plantas daninhas menor a necessidade de aprofundar o implemento. Quanto à profundidade, o limite deve ser de 3 cm, pois o algodoeiro apresenta raízes superficiais que podem ser danificadas. Devido a esse risco, é considerada uma operação problemática (AMONOV et al., 2006). Por ser normalmente utilizado com equipamentos que permitem o controle na entrelinha da cultura, quando necessário, o uso tem sido mais frequente nos espaçamentos convencionais (a partir de 76 cm).
A frequência e o número de cultivos a serem realizados dependem das condições de cada situação particular encontrada no campo (SNIPES et al., 1992), considerando-se principalmente a incidência, a composição da flora infestante e a utilização das demais alternativas de controle disponíveis, especialmente a química. Eventualmente, o cultivador é necessário quando o efeito residual ou a própria eficácia dos herbicidas sobre determinadas espécies não é suficiente para mantê-las controladas durante o período de competição e/ou para evitar que prejudiquem a operação de colheita ou qualidade da fibra.
Controle químico
O controle químico é a principal técnica utilizada para manejo de plantas daninhas, devido, principalmente, à praticidade, agilidade, eficácia e menor dependência de mão de obra. A seguir, serão apresentados os principais aspectos das modalidades de aplicação e respectivos herbicidas utilizados nesse método de controle na cultura do algodoeiro. Na Tabela 1, estão também apresentados os principais herbicidas registrados para a cultura do algodoeiro no Brasil.
Dessecação
A dessecação é uma prática utilizada em áreas cultivadas sob o sistema plantio direto ou cultivo mínimo, sendo também conhecida como “manejo da palhada”. Tem como principal finalidade eliminar as plantas daninhas antes da semeadura do algodoeiro. É recomendável que a dessecação seja realizada de duas a três semanas antes da semeadura do algodoeiro possibilitando tempo suficiente para ação dos herbicidas e impedindo a interferência das plantas daninhas na cultura a ser implantada. Portanto, pode também ser considerado um método preventivo e significar o início da execução de um eficiente conjunto de estratégias de manejo de plantas daninhas pois, além de reduzir a infestação, evita que plantas daninhas não controladas previamente possam se desenvolver a ponto de tornar o controle mais difícil quando a cultura estiver instalada. A escolha dos herbicidas a serem utilizados na dessecação e suas respectivas doses deve levar em consideração as espécies e o estádio de desenvolvimento das plantas infestantes presentes na área.
Os herbicidas normalmente utilizados na dessecação são aplicados na pós-emergência das plantas daninhas, possuem amplo espectro, são não seletivos e de ação total. Para ampliar o número de espécies controladas e proporcionar efeito residual, em alguns casos, também são utilizados herbicidas sistêmicos que apresentam efeito residual, em mistura com herbicidas de ação total. A seguir, são descritos os principais herbicidas utilizados na dessecação.
Pré-plantio incorporado (PPI) e Pré-emergência (PRE)
O uso de herbicidas em pré-plantio incorporado (PPI) ou pré-emergência (PRE) visa controlar as plantas daninhas desde o início da instalação da cultura antes de as mesmas competirem com o algodoeiro. Esses herbicidas são conhecidos pelos seus efeitos residuais, fazendo com que o controle se estenda por um período mais longo em relação aos herbicidas pós-emergentes, que na maioria das situações controlam somente as plantas daninhas emergidas. Como o algodoeiro apresenta crescimento inicial lento, o uso desses herbicidas reduz a possibilidade de competição com as plantas daninhas no início do ciclo e pode favorecer a diminuição das infestações mais tardias. O efeito residual dos herbicidas de solo depende das características químicas e físicas do solo, da dose utilizada e das características de cada herbicida.
Alguns desses herbicidas são registrados para uso em pré-plantio incorporado, pois são sensíveis a fotodecomposição ou volatilização. Dessa forma, a incorporação ao solo reduz as perdas desses compostos, permitindo que os mesmos sejam utilizados em doses menores do que aquelas utilizadas com esses mesmos produtos, quando aplicados em pré-emergência. A desvantagem desse método de aplicação é que o mesmo exige o preparo do solo, sendo inviável a sua utilização em áreas de plantio direto.
Os herbicidas pré-emergentes foram os principais herbicidas utilizados na cultura do algodão antes do surgimento dos herbicidas pós-emergentes seletivos à cultura. Atualmente, com o desenvolvimento de cultivares transgênicas tolerantes a herbicidas de ação total, muitos produtores não têm utilizado herbicidas pré-emergentes. Entretanto, vários trabalhos realizados nos EUA, onde o uso de cultivares tolerantes a herbicidas é mais antigo, mostraram que o uso de herbicidas pré-emergentes no programa de controle de plantas daninhas retarda o uso dos herbicidas pós-emergentes, além de garantir a emergência da cultura na ausência de competição com as plantas daninhas.
Pós-emergência com herbicidas seletivos (POS)
Mesmo com o uso de herbicidas que apresentam efeito residual no solo, algumas espécies de plantas daninhas não são adequadamente controladas. Além disso, com o passar do tempo, os herbicidas residuais perdem sua atividade devido à degradação, o que possibilita novos fluxos de emergência de plantas daninhas. Por isso, quando são utilizados herbicidas residuais, o período de controle destes compostos, normalmente, não atinge o final do período crítico de competição do algodoeiro com as plantas daninhas, o que torna necessária fazer a complementação do controle com produtos pós-emergentes seletivos. A utilização de herbicidas seletivos ao algodoeiro é vantajosa, uma vez que não são necessários equipamentos especiais para sua aplicação, bem como controlam as plantas daninhas junto à linha de plantio.
Para a cultura do algodoeiro, estão disponíveis comercialmente vários herbicidas seletivos para o controle de plantas daninhas gramíneas; entretanto, visando o controle de plantas daninhas de folhas largas, estão disponíveis apenas dois herbicidas (trifloxissulfurom-sódico e piritiobaque-sódico).
Pós-emergência com herbicidas não seletivos (POSd)
O uso de herbicidas seletivos, muitas vezes, não é suficiente para o controle adequado das plantas daninhas na cultura do algodoeiro. Algumas espécies daninhas não são adequadamente controladas pelos herbicidas pré e pós-emergentes aplicados em área total.
Outro motivo é a redução na eficácia resultante da aplicação de pós-emergentes com as plantas daninhas em estádio avançado, além do recomendado para os produtos, devido, por exemplo, aos atrasos causados pelas condições climáticas desfavoráveis à aplicação. Nessas situações, pode-se utilizar herbicidas não seletivos na entrelinha da cultura visando controlar essas espécies, bem como controlar a emergência das plantas daninhas por meio da adição de herbicidas residuais, prolongando assim o período de controle até o final do ciclo da cultura.
Nas situações em que o controle de plantas daninhas com herbicidas pós-emergentes seletivos foi ineficiente, a utilização de herbicidas não seletivos é vantajosa, uma vez que estes produtos possuem maior espectro de controle, bem como podem ser utilizados com as plantas daninhas em estádios fenológicos mais avançados.
No algodoeiro não transgênico tem sido relatado que as maiores eficiências de controle de plantas daninhas e produtividade da cultura são obtidas quando se utilizam herbicidas em PRE, POS e POSd combinados (BURKE e WILCUT, 2004). Para POSd produtos considerados não seletivos devem ser aplicados com pulverizadores munidos de proteção da cultura em relação ao do jato de pulverização, ou seja, uma barreira física para as gotas, denominada comumente de capota. Entretanto, o algodoeiro apresenta certa tolerância a determinados produtos aplicados em jato dirigido sem essa proteção, desde que a pulverização não atinja partes mais sensíveis da planta cultivada. Portanto, nesses casos, o ajuste adequado da altura do bico e a boa lignificação do caule (quando o caule está lenhoso) do algodoeiro são fundamentais para evitar maiores injúrias.
Nas novas cultivares transgênicas com resistência a herbicidas, pode-se utilizar herbicidas em área total que antes eram considerados não seletivos, representados atualmente pelo glifosato e glufosinato de amônio (Tabela 1).
Tabela 1. Herbicidas registrados para a cultura do algodoeiro no Brasil.
Nome comum (ingrediente ativo)
Formulação
Plantas suscetíveis
Época de aplicação
Dose do ingrediente ativo (g ha-1)*
Observação
Alachlor
EC 480 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
PRE
2400-3360
Usar as maiores doses para solos argilosos. Em solos arenosos não se recomenda a aplicação. Não é recomendado o replantio do algodão em áreas que foi utilizado.
Alachlor + trifluralin
EC 400 + 300 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
PRE
2400+1800 – 2800+2100
Aplicar as maiores doses em solos argilosos. A aplicação deve ser feita quando o solo apresentar umidade.
Ametryn + clomazone
EC 300 +200 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
POSd
900+600
É necessário que o solo esteja úmido para que o produto apresente efeito residual e controle a emergência das plantas daninhas.
Carfentrazone-ethyl
EC 400 g/L
Folhas-largas e algumas folhas-estreitas
DPS ou POSd
20-28
Fazer no máximo duas aplicações durante o ciclo da cultura. Utilizar óleo mineral a 0,5%.
Carfentrazone-ethyl + clomazone
EC 15 + 600 g/L
Folhas-largas e folhas-estreitas
DPS ou PRE
11,25+450 –
24+960
Tratar as sementes do algodão com o protetor dietholate. Em PRE, a aplicação deve ser feita imediatamente após a semeadura da cultura (sistema “plante e aplique”)
Clethodim
EC 240 g/L
Folhas-estreitas
POS
84-108
Utilizar óleo mineral a 0,5% e aplicar nas plantas daninhas gramíneas com até quatro perfilhos.
Clomazone
EC 500 g/L
CS 360 g/L
Folhas-estreitas e algumas folhas-largas
PRE
PRE
800-1000
756-1260
Tratar as sementes do algodão com o protetor dietholate. Usar as menores doses em solos arenosos.
Diuron
SC 500 g/L
SC 800 g/L
WG 900 g/kg
Folhas-estreitas e folhas-largas
PRE
PRE-POSd
PRE e POSd
1600-3200
1200-2000
1350-1800
Não deve ser aplicado em solos arenosos e com baixo teor de matéria orgânica, pois poderá causar toxicidade severa ao algodoeiro. As maiores doses devem ser aplicadas em solos argilosos. As aplicações em jato dirigido deverão ocorrer quando o algodoeiro apresentar mais de 30 cm de altura e com as plantas daninhas nos estádios iniciais de crescimento.
Diuron + MSMA
SC 140 + 360 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
POSd
1120+2880-1400+3600
Aplicar quando o algodoeiro apresentar mais de 40 cm de altura.
Diuron + paraquat
SC 100 + 200 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
POSd
200+400
A aplicação deve ser feita em plantas daninhas com no máximo 20 cm de altura. Utilizar a maior dosagem em condições de plantas infestantes desenvolvidas e maior densidade. Utilizar espalhante adesivo não iônico.
Fluazifop-p-butyl
EW 250 g/L
Folhas-estreitas
POS
125 - 250
Aplicar quando as plantas daninhas gramíneas estiverem no início do desenvolvimento. As maiores doses deverão ser utilizadas para o controle da espécie Cynodon dactylon.
Flumioxazin
WP 500 g/kg
Folhas-largas e algumas folhas-estreitas
DPS ou POSd
25-30
Evitar aplicação em plantas daninhas com déficit hídrico. Quando aplicado em POSd, as plantas daninhas deverão estar com duas a quatro folhas para que o produto seja eficiente.
Fomesafen
SL 250 g/L
Folhas-largas
PRE
375
É recomendada uma única aplicação em PRE.
Glyphosate
SL 480 g/L
WG 720 g/kg
Folhas-estreitas e folhas-largas
DPS, POS e POSd
Variável
A utilização em POS somente é permitida nas cultivares de algodoeiro transgênico resistentes a este herbicida (tecnologias RR®, RRFlex®e GLT®). Para cultivares com a tecnologia RR®, utilizar o herbicida até o algodoeiro apresentar quatro folhas verdadeiras. As doses variam de acordo com a concentração do produto comercial, espécies infestantes e estádio fenológico das mesmas. Para algodão não transgênico à  resistência ao glyphosate, a aplicação em POSd deve ocorrer quando o algodoeiro apresentar mais de 40 cm de altura.
Glufosinate-ammonium
SL 200 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
POS, POSd
400-750
A utilização em POS somente é permitida no algodoeiro transgênico resistente a este herbicida. No algodoeiro Liberty Link® (geneticamente modificado resistente ao glufosinate-ammonium), pode-se fazer a aplicação sequencial parcelada com intervalo de 14 dias ou em uma única aplicação na dose de 750 g i.a. ha-1. Aplicação em POSd quando o algodoeiro apresentar mais de 40 cm de altura.
Haloxyfop-P-methyl
EC 124,7 g/L
Folhas-estreitas
POS
50-62,35
Aplicar com as plantas daninhas gramíneas nos estádios iniciais de desenvolvimento.
Isoxaflutole
WG 750 g/kg
Folhas-estreitas e folhas-largas
POSd
30-37,5
Não aplicar em áreas que receberam calagem nos últimos 90 dias.
MSMA
SL 480 g/L
790 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
POSd

1440-2400
1422-2370
Aplicar em POSd quando o algodoeiro apresentar mais de 40 cm de altura e com as plantas daninhas até 20 cm. Dose variável de acordo com o estádio de desenvolvimento das plantas daninhas.
Oxifluorfen
EC 240 g/L
Folhas-estreitas e algumas folhas-largas
POSd
480-720
Aplicar em POSd quando as plantas daninhas apresentarem no máximo 3 cm ou 4 cm, quando o algodoeiro apresentar 50 cm de altura.
Paraquat
SL 200 g/L
Folhas-estreitas e folhas-largas
DPS
300-400
Adicionar adjuvante conforme recomendação do fabricante. Dependendo do estádio fenológico das plantas daninhas, poderá ocorrer rebrote e ser necessária reaplicação.
Pendimethalin
EC 500 g/L

Folhas-estreitas e algumas folhas-largas
PPI e PRE
750-1500
A aplicação em PRE deverá ser feita no máximo até um dia após a semeadura. Usar as menores doses em solos arenosos.
Pyrithiobac-sodium
CS 280 g/L
Folhas-largas
POS
70-140
Aplicar quando as plantas daninhas estiverem com uma a três folhas. Utilizar adjuvante de acordo com a recomendação do fabricante.
Prometryn
SC 500 g/L
Folhas-estreitas e algumas folhas-largas
PRE e POSd
750-1000
Aplicar com solo úmido. Usar as maiores doses em solos com elevado teor de matéria orgânica.
Propaquizafop
EC 100 g/L
Folhas-estreitas
POS
100-125
A dose deve ser determinada de acordo com o estádio fenológico das plantas daninhas.
Quizalofop-P-ethyl
EC 50 g/L
Folhas-estreitas
POS
75
Aplicar quando as plantas daninhas apresentarem até quatro perfilhos.
Quizalofop-P-tefuryl
EC 120 g/L
Folhas-estreitas
POS
720-1200
Aplicar quando as plantas daninhas apresentarem até dois perfilhos. Adicionar óleo mineral à calda de pulverização.
Saflufenacil
WG 700 g/Kg
Folhas-largas
DPS e POSd
24,5-35
Não aplicar em condições de solo leve, arenoso (menos de 30% de argila) e em períodos menores que 20 dias antes do plantio. Nas aplicações de jato dirigido, evitar que o produto atinja as folhas da cultura. Adicionar adjuvante não iônico.
Sethoxydim
DC 120 g/L
DC 184 g/L
Folhas-estreitas
POS
180-240
184-230
Utilizar adjuvante conforme recomendação do fabricante.
S-metolachlor
EC 960 g/L
Folhas-estreitas e algumas folhas-largas
PRE
576-1440
Não utilizar em solos arenosos. Pode ser feita a aplicação sequencial com a menor dose na pré-emergência e uma reaplicação após a emergência do algodoeiro (POS), porém antes da emergência das plantas daninhas (PRE).
Tepraloxydim
EC 200 g/L
Folhas-estreitas
POS
75-100
As menores doses são utilizadas antes do perfilhamento das plantas daninhas. Aplicar até as plantas daninhas gramíneas apresentarem um a dois perfilhos. Utilizar adjuvante conforme recomendação do fabricante.
Trifloxysulfuron-sodium
WG 750 g/kg
Folhas-largas
POS
7,5
Aplicar somente quando o algodoeiro apresentar cinco folhas verdadeiras. As plantas daninhas devem ter até quatro folhas. Não usar óleo mineral ou vegetal, usar somente adjuvante recomendado pelo fabricante.
Trifluralin
EC 445 a 480 g/L
EC 600 g/L
Folhas-estreitas e algumas folhas-largas
PPI
PRE e PPI
Variável
1800-2400
Usar as maiores doses em solos argilosos. Para aplicação em PPI na formulação de 600 g/L a dose deve ser reduzida, seguindo-se a recomendação do fabricante.
DPS = dessecação pré-semeadura; PPI = Pré plantio incorporado; PRE = Pré-emergência da cultura e das plantas daninhas; POS = Pós-emergência da cultura e das plantas daninhas; POSd = Pós-emergência da cultura e das plantas daninhas em jato dirigido; EC = Concentrado emulsionável; WG = Grânulos dispersíveis em água; WP = Pó-molhável; EW = Emulsão óleo em água; CS = Concentrado solúvel; SC = Suspensão concentrada; SL = Concentrado solúvel; DC = Concentrado dispersível.
* Dose pode variar conforme registro de cada do produto comercial. Fonte: MAPA (BRASIL, 2014).

Manejo integrado de plantas daninhas no algodoeiro

O manejo integrado de plantas daninhas pode ser definido pela utilização conjunta de duas ou mais técnicas de controle para minimizar a interferência das mesmas, mantendo as populações em baixos níveis, sem causarem danos econômicos, além de mitigar os efeitos negativos ao ambiente (RONCHI et al., 2010). Ao integrar métodos de controle, aumenta-se a chance de interferência em algum tipo de relação existente entre a planta daninha, a cultura e/ou ambiente, de modo que o algodoeiro seja favorecido na competição em detrimento da comunidade infestante.
A adoção do manejo integrado de plantas daninhas na cultura do algodoeiro pode significar redução da infestação de plantas daninhas, maior produtividade e retorno financeiro com a cultura (SHAIKH et al., 2006; ALI & SHARIF, 2011). Para tanto, a estratégia de manejo deve ser iniciada com as medidas preventivas, evitando maiores infestações e dificuldades de controle durante o cultivo.
Em função da cotonicultura estar principalmente em extensas áreas, o controle químico é comum e nem sempre o controle mecânico é considerado viável, entretanto, o mesmo não pode ser descartado, especialmente quando é necessária alguma complementação. Nesse contexto da busca pelo manejo integrado, as medidas culturais são fundamentais, como por exemplo, a rotação de culturas, que pode ser associada com a cobertura morta no sistema plantio direto, ou mesmo com o adequado preparo convencional do solo realizado nas áreas onde não é utilizada a semeadura direta na palha.
Portanto, de uma maneira geral, sempre que possível, as diferentes medidas ou tipos de métodos de controle de plantas daninhas devem ser avaliados para utilização integrada, respeitando-se o nível tecnológico e econômico de cada unidade de produção, para atingir resultados mais efetivos e maior retorno para a cotonicultura.



segunda-feira, 15 de maio de 2017

Produção de Sementes de Algodão

Sementes

O produtor que adquire uma semente de qualidade deve esperar que o seu plantio resulte na reprodução das características especificadas pela descrição da cultivar, com o máximo de uniformidade.
O controle de qualidade das sementes é regulamentado pelo Governo Federal em legislação específica que trata do comércio e fiscalização de sementes e mudas.
A legislação brasileira recente permitiu a implantação, em todo o país, de sementes certificadas. A produção de sementes envolve diferentes entidades, responsáveis pelas sucessivas etapas que resultam na disponibilização das sementes aos produtores.
Abaixo, são descritos os papéis das diferentes entidades envolvidas na produção de sementes como segue:

Entidade certificadora

É considerada entidade certificadora o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ou pessoa jurídica por este credenciada para executar a certificação de sementes e mudas. Essa entidade pode produzir a semente certificada. Entretanto, esse papel vem sendo desempenhado pelo setor privado, por meio de contratos estabelecidos entre o obtentor da cultivar e uma entidade produtora.

Entidade produtora

Pode ser do setor público ou privado. Caracteriza-se por ser responsável pelo nível de qualidade constante do certificado. Quem emite o certificado, de acordo com as análises realizadas, é a entidade certificadora; porém, quem se responsabiliza perante o cliente consumidor pelo que consta no certificado é a entidade produtora.

Cooperante

É o indivíduo em cuja área agrícola são produzidas as sementes. Quando a entidade produtora não dispõe de área suficiente para produzir toda a semente a que se propõe, faz contratos específicos com outros produtores para este fim.
No Cerrado brasileiro, para a produção de sementes de algodão, normalmente, a entidade produtora é também cooperante, uma vez que produz as sementes em sua própria área agrícola.

Classes de Sementes

A semente certificada é o resultado de um material vegetal, de cujas características genéticas os atores envolvidos no processo produtivo têm pleno conhecimento. Para que se produza a semente certificada, o ponto de partida é uma pequena quantidade de sementes de determinada cultivar, obtida pelo melhoramento genético ou da multiplicação das sementes de uma cultivar já existente, sob condições rigorosamente controladas (Carvalho & Nakagawa, 1980).
Essa pequena quantidade de sementes, ao ser multiplicada, resulta no aparecimento de algumas classes intermediárias, até se alcançar o nível de semente certificada:
  1. Semente Genética: material de reprodução obtido a partir de processo de melhoramento de plantas, sob a responsabilidade e controle direto do seu obtentor ou introdutor, mantidas as suas características de identidade e pureza genéticas. É produzida sob responsabilidade do melhorista. A partir desta, é produzida a semente básica.
  2. Semente Básica: material obtido da reprodução de semente genética, realizada de forma a garantir sua identidade genética e sua pureza varietal. Resulta da multiplicação da semente genética, produzida sob a responsabilidade do obtentor ou de uma instituição por ele autorizada. Em geral, é a partir desta classe que se produz a certificada.
  3. Semente Certificada de Primeira Geração (C1): material de reprodução vegetal resultante da reprodução da semente básica ou da semente genética. Resulta da multiplicação da semente básica, mantendo sua pureza varietal e identidade genética e produzida sob controle da entidade certificadora.
  4. Semente Certificada de Segunda Geração (C2): material de reprodução vegetal resultante da reprodução da semente genética, da semente básica ou da semente certificada de primeira geração. É produzida pela entidade produtora de acordo com normas estabelecidas pela entidade certificadora.
  5. Semente S1 e Semente S2:  referem-se, respectivamente, às sementes de primeira e de segunda geração da classe não certificada, com origem genética comprovada. Quando não houver tecnologia disponível para a produção de sementes genéticas da espécie, o MAPA poderá permitir a produção de “Semente S1" e "Semente S2" sem comprovação de origem genética.

Estabelecimento de campo para produção de sementes

O estabelecimento de um campo de produção de sementes requer uma série de medidas, cujo objetivo principal é evitar que as sementes sofram contaminação genética ou varietal durante qualquer uma das fases do processo produtivo. As principais medidas a serem tomadas visando a produção de sementes são:
  1. Definição da cultivar.
  2. Registro do produtor ou contrato firmado com o obtentor da cultivar.
  3. Escolha da área.
  4. Isolamento dos campos de produção; e
  5. Purificação ou "roguing".

Cuidados a serem tomados no processo de produção de sementes de algodoeiro

Taxa de cruzamento natural: também conhecida como taxa de alogamia. É considerada bastante baixa no Cerrado, em função da baixa população de abelhas silvestres, grande extensão de lavouras comerciais e alta frequência de aplicação de inseticidas que provocam a morte de insetos polinizadores. Esta taxa varia de 0% a 15% no Estado de Mato Grosso.
Misturas mecânicas: podem ocorrer durante as operações de plantio, colheita e armazenamento, beneficiamento, ensacamento e deslintamento. Devem ser tomadas medidas preventivas visando evitar as misturas, destacando-se entre estas: evitar o plantio de algodão em área previamente plantada com algodão; passar corrente de ar com uso de compressor pelos fusos da colheitadeira e dutos da algodoeira; limpar as máquinas entre o beneficiamento de uma cultivar e outra; eliminar uma pequena parte do material beneficiado após a mudança de cultivar.
Degeneração genética natural: fenômeno que ocorre de forma natural, principalmente quando a cultivar é derivada de hibridação interespecífica. Para minimizar tal problema, deve-se evitar o plantio sucessivo de algodão em uma mesma área e isolar os campos de produção de sementes.
O isolamento de um campo de produção de sementes de algodão deve levar em consideração as seguintes distâncias entre campos cultivados com diferentes variedades:

Isolamento de campos para produção de sementes básica, certificada, S1 e S2

250 metros entre cultivares diferentes;
800 metros entre espécies diferentes.

Inspeções no campo

O objetivo das inspeções nos campos de produção de sementes é comparar a qualidade dos mesmos, com os padrões de lavoura recomendados oficialmente (Tabela 1). Estas inspeções visam assegurar que as sementes não estejam contaminadas, física ou geneticamente além dos limites tolerados (Vieira & Beltrão, 1999).
Os campos de produção de sementes de algodoeiro devem ser inspecionados, pelo menos, duas vezes visando confirmar os padrões de isolamento, presença e incidência de plantas fora do padrão, de plantas de outras espécies, raças e cultivares, ervas daninhas proibidas e doenças, entre outros. Os estádios fenológicos onde as inspeções devem ocorrer são os seguintes:
Pré-floração: compreendido o período de crescimento vegetativo que precede o florescimento;
Floração: período em que as flores estão abertas, o estigma receptivo e a antera liberando pólen. Para fins de inspeção, 5% ou mais de plantas florescidas, caracteriza o período de floração;
Pré-colheita: quando 50% das maçãs encontram-se abertas, as sementes se aproximam da maturação fisiológica e estão completamente formadas. É possível que, inspeções posteriores, sejam necessárias.
Tabela 1. Padrões oficiais mínimos de sementes exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Fatores de Qualidade
Níveis de tolerância
Básica
Certificada 1
Certificada 2
Germinação
70%
75%
75%
Pureza
98%
98%
98%
Outras espécies cultivadas/350g1
zero
1
1
Outras espécies de algodão2
zero
zero
zero
Sementes silvestres
Sementes nocivas toleradas/1000
1
1
2
2
2
2
Sementes nocivas proibidas/1000
Presença adventícia de OGM em semente convencional3
Zero

1%
Zero

1%
Zero

1%
Plantas atípicas (inclusive algodão árboreo

1/10.000

1/2.000

1/1.000
Fonte: MAPA.
1Esta determinação de Outras Sementes por Número em Teste Reduzido Limitado será realizada em conjunto com a análise de pureza.
2Esta identificação resulta da prática do “roguing” que deverá ser realizada antes da floração.
3 É obrigatória a análise qualitativa para a detecção da presença de Organismos Geneticamente Modificados - OGM nos lotes de sementes de cultivares convencionais. Constatada a presença, será obrigatória a determinação quantitativa, tolerando-se o índice máximo de 1% (um por cento).
Existem, também, padrões de sanidade de sementes de algodão definidos por uma comissão que trata desse assunto em nível nacional (Tabela 2)
Tabela 2. Proposta de padrões de tolerância de patógenos em sementes de algodoeiro.  
Patógenos
Classes de sementes
Básica
Certificada1
Certificada2
C. gossypii var. cephalosporioides
0
0
0
Fusarium oxysporum f. sp vasinfectum
0
0
0
Xanthomonas axonopodis pv.malvacearum
0
0
0
Fonte: Menten (1997).

Qualidade física e fisiológica das sementes

Para cultivos altamente tecnificados, como aqueles conduzidos em regime de irrigação, a qualidade da semente é de fundamental importância, pois a utilização de sementes de alta qualidade pode prevenir problemas na lavoura e prejuízos financeiros decorrentes de desuniformidade e falhas na emergência. Fracassos em algodoais nas várias regiões produtoras do país são frequentes, por causa, principalmente, da utilização de sementes de origem e qualidade desconhecidas.
O uso de sementes de elevada qualidade possibilita a obtenção de estande uniforme, com plantas vigorosas e sadias, aumentando significativamente a chance de sucesso das operações e práticas culturais durante o ciclo da cultura.

Vantagens do uso de sementes de elevada qualidade

O bom desempenho das plântulas sob condições desfavoráveis é a principal vantagem quando são oriundas de sementes vigorosas, entre outras arroladas a seguir:
  • Maior resistência das plântulas às pragas e doenças iniciais.
  • Estabelecimento mais rápido de um estande uniforme, que contribui para maior precocidade das plantas.
  • As plântulas são mais tolerantes ao estresse hídrico inicial.
  • As necessidades de replantio são significativamente reduzidas.
  • A quantidade de sementes por área é menor.
  • A emergência é mais rápida e o crescimento do sistema radicular, mais vigoroso.

Critérios para controle de qualidade

A análise de sementes é essencial para o controle da qualidade na comercialização, sendo esta realizada em laboratórios oficiais credenciados.
Para a avaliação de um lote de sementes, analisa-se uma pequena amostra, extrapolando-se o resultado para o lote em questão. É importante que a amostra seja representativa do lote analisado, que deve ser homogêneo, a fim de expressar sua real qualidade.

Análise de pureza

A pureza diz respeito à composição física de um lote de sementes, demonstrando a limpeza do campo de produção e a eficiência da colheita e do beneficiamento. É feita em laboratório, com base nas metodologias prescritas nas Regras para Análise de Sementes, e separam-se na amostra os seguintes componentes:
  • Sementes puras: sementes pertencentes à cultivar em análise.
  • Outras sementes: sementes de outras cultivares ou espécies.
  • Material inerte: tudo o que não é semente e está presente na amostra.
O grau de pureza da amostra analisada deve ser, no mínimo, de 98%.

Teste de germinação

O principal atributo da qualidade fisiológica de qualquer lote de semente é a porcentagem de germinação, que representa a capacidade da semente em dar origem a uma plântula normal e sadia.
A porcentagem de germinação é determinada por meio do teste de germinação, com o objetivo de avaliar as sementes tanto para fins de plantio como para comercialização.
As sementes usadas no teste de germinação são originadas da fração “semente pura” e devem ser contadas sem discriminação quanto ao tamanho e aparência.
O prazo para a avaliação da germinação é de 2 semanas, sendo a primeira e segunda contagens com 7 e 14 dias; é quando as plântulas são avaliadas.
O poder germinativo das amostras testadas é a média da porcentagem das plântulas normais, presentes em 4 ou 8 repetições. Considera-se uma plântula normal aquela que apresenta características indicativas de sua capacidade de, sob condições favoráveis, crescer e se transformar em planta normal.
O potencial de germinação das amostras testadas pode ser avaliado pelo próprio cotonicultor por meio de testes de emergência no campo ou em areia.
No teste de areia, que é o mais simples, para cada amostra, utilizam-se 4 repetições de 50 sementes cada uma, que devem ser semeadas em caixas de madeira, de 22 cm x 30 cm x 10 cm, contendo cerca de 4 kg de solo de textura média. Devem-se fazer 5 sulcos em cada uma e colocar 10 sementes por sulco. A quantidade de água a ser aplicada nas caixas de solo deve ser controlada para evitar encharcamento. Em geral, de 7 a 10 dias após a semeadura, dependendo da temperatura ambiental, ocorre a germinação quando se realiza a contagem das plântulas emergidas, ou seja, aquelas cujas partes aéreas se apresentarem normais.
O resultado do teste de germinação da amostra analisada deve ser de pelo menos 80%, com um mínimo admissível de 75%.

Grau de umidade

O objetivo desta análise é determinar o teor de água nas sementes por métodos adequados em análises de rotina, que se baseiam na perda de massa das sementes secas em estufa.
A determinação deste critério é importante, porque o teor de umidade das sementes afeta diversos processos biológicos. Se a semente for armazenada com teor de umidade superior ao ideal, pode ocorrer o desenvolvimento de fungos e outros microrganismos, inclusive a indução de sua germinação.
O teor de água máximo tolerável para a amostra de sementes de algodão é de 12%, pois favorece a manutenção da germinação e possibilita a conservação das sementes em ambiente aberto, durante 6 a 8 meses, podendo acarretar nesta faixa ataque de insetos.

1. INTRODUÇÃO
O algodoeiro é um importante componente do sistema de produção, permitindo a rotação de culturas com soja e milho, sendo uma das fibras vegetais cultivadas mais antigas do mundo (EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE).
As sementes são produzidas por produtores e empresas especializadas. A semente é um pacote cujo conteúdo são todos os genes que caracterizam a espécie e a cultivar. Se uma cultivar é eleita pela pesquisa e pelo consenso dos produtores, é porque seu comportamento é o melhor possível para as condições de clima, solo e de tecnologia agrícola da região, e as características de seus produtos são as mais aceitas. Consequentemente, o patrimônio genético desta cultivar, tem que ser protegido.
Ao desenvolver uma nova cultivar de algodão, o melhorista coloca todo o seu trabalho à disposição do consumidor final da semente, o cotonicultor. Seja para um rendimento maior, para resistência a determinadas doenças ou pragas ou outras características que tragam benefícios (EMBRAPA ALGODÃO).
Para garantir aos agricultores em qualidade e em quantidade suficiente de sementes, há um grupo formado por produtores, responsáveis por multiplicarem a trabalho realizado pelo melhorista. Os produtores de semente tem se organizado cada vez mais, no que se diz respeito a controle de qualidade e sistemas de avaliação, com o intuito de melhorar a qualidade do produto final.
A produção de sementes de algodão no Brasil vem se ampliando a cada ano visando, sobretudo, atender a expansão da área cultivada na região Centro-Oeste (GUERRA).
Este trabalho tem como objetivo conhecer os processos produtivos de um campo de sementes de algodão, assim como tomar conhecimentos da legislação e logística em torno desse processo.
2. ENTIDADES ENVOLVIDAS NO PROCESSO PRODUTIVO
2.1 ENTIDADE CERTIFICADORA
Desempenha diferentes papéis no processo de produção de sementes certificadas.
É responsável pelo programa de melhoramento genético, dos quais as novas cultivares são registradas, protegidas e recomendas aos produtores. A entidade certificadora também exerce papel fiscalizador de todas as etapas do processo produtivo, podendo aprovar ou rejeitar o trabalho de produção da semente.
Guerra, em seu trabalho de inspeção fitossanitária em campos de produção de sementes de algodão destaca a importância de inspeções regulares de caráter fiscalizatório nos campos de produção de sementes, ressaltando a melhoria dos padrões fitossanitários dos materiais disponibilizados aos produtores comerciais e conclui que as fiscalizações servem para conscientizar os produtores de sementes quanto à necessidade de atendimento às exigências de mercado.
2.2 ENTIDADE PRODUTORA
Pode ser do setor público ou privado, sendo responsável pelo nível de qualidade constante do certificado. O produtor de sementes deve estar inscrito no RENASEM, dispor de área para tal fim, possuir infra-estrutura, recursos humanos e equipamentos e instalações adequados à produção de sementes. Além de encaminhar o mapa de produção e comercialização de sementes e manter à disposição do órgão de fiscalização projeto técnico de produção, laudos de vistoria, controle de beneficiamento, atestado de origem genética e boletim de análise das sementes produzidas.
2.3 ENTIDADE COOPERANTE
É indivíduo em cuja área agrícola serão produzidas as sementes. Quando a entidade produtora não dispõe de área suficiente para produzir toda a semente a que se propõe, faz contratos específicos com outros produtores para esse fim.
3. SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SEMENTES
O sistema de produção de sementes de sementes de algodão do Brasil prevê dois modelos de produção de sementes: o sistema de produção de semente fiscalizada e o sistema de produção de semente certificada.
O sistema de produção fiscalizada é menos rigoroso, com um controle e organização inicial, procurando selecionar e educar os produtores a fim de oferecer ao cotonicultor, uma semente de origem conhecida de produção controlada, a um custo mais acessível.
O sistema de produção de sementes certificadas divide-se em classes: i) Semente genética: é produzida sob responsabilidade do melhorista e mantida sob suas características de pureza genética. A partir desta é produzida a semente básica; i) Semente básica: produzida sob a responsabilidade do obtentor ou de uma instituição por ele autorizada. Em geral é a partir desta classe que se produz a certificada, dependendo da quantidade produzida; i) Semente fiscalizada: resulta da multiplicação da semente básica, certificada ou da própria fiscalizada, mantendo sua pureza varietal e identidade genética e produzida sob controle da entidade certificadora; iv) Semente certificada: resulta da multiplicação da semente básica, da registrada ou da própria certificada da categoria. É produzida pela entidade pela entidade produtora de acordo com as normas estabelecidas pela entidade certificadora. É a classe de semente que será disponibilizada aos produtores.
4. CUIDADOS NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE SEMENTES
A EMBRAPA ALGODÃO cita alguns cuidados que o produtor de sementes deve ter conhecimento quanto ao manejo, isolamento de área e genético da cultura. i) taxa de cruzamento natural: também conhecida como alogamia. Considerada bastante baixa no cerrado devido a baixa população de abelhas silvestres e do uso constante de inseticidas, além de grandes extensões de lavouras cultivadas. Esta taxa varia de 0 a 15% no estado do Mato grosso; i) misturas mecânicas: podem ocorrer durante as operações de plantio, colheita, armazenamento, beneficiamento, ensacamento e deslintamento. Evitar plantios sucessivos de algodão numa mesma área, limpar máquinas entre beneficiamento de uma cultivar e outra, limpeza das colhedeiras e algodoeiras são algumas medidas preventivas que contribuem para a diminuição de misturas; i) degeneração genética natural: esse fenômeno ocorre de maneira natural, principalmente quando a cultivar é derivada de hibridação interespecífica. Evitar o plantio sucessivo de algodão e uma mesma área e isolar os campos de produção de sementes ajudam a minimizar esse problema; iv) o isolamento do campo de sementes de algodão deve levar em consideração as seguintes distâncias de acordo com a variedade: para campos de produção de sementes básica e certificada o isolamento da área deve ser de 50 metros quando houver barreira vegetal e de
800 metros quando não houver barreira vegetal. Já para o isolamento de campos de produção de sementes fiscalizada a distância ideal do isolamento é de 30 metros quando houver barreira vegetal e de 500 metros quando essa barreira vegetal não existir.
5. ESTABELECIMENTO DE CAMPO PARA PRODUÇÃO DE SEMENTES
O estabelecimento de um campo de produção de sementes requer uma série de medidas, cujo objetivo principal é evitar que as sementes sofram contaminação genética ou varietal durante qualquer uma das fases do processo produtivo. A EMBRAPA ALGODÃO cita medidas primordiais a serem tomadas visando a produção de sementes: i) definição da cultivar: as sementes deve ter pureza genética, origem e classe conhecida, ser livre de doenças e com alta germinação e vigor; i) registro do produtor ou contrato firmado com obtentor da cultivar; i) escolha da área: histórico do campo e da região, regime de chuvas, espécies ou cultivares produzidos anteriormente, plantas daninhas, pragas e doenças existentes, condições de fertilidade são alguns fatores a serem considerados na escolha da área; iv) Isolamento dos campos de produção: contribui para evitar a contaminação genética e varietal; v) purificação ou “roguing”: consiste na retirada de plantas indesejáveis que possam polinizar, produzir sementes que causem contaminação mecânica na colheita, plantas daninhas de difícil controle químico e plantas doentes.
6. PROCESSAMENTO E ARMAZENAMENTO
O processamento de sementes de algodão envolve etapas diferenciadas como o descaroçamento e deslintamento, além do armazenamento temporário no campo, que podem causar danos mecânicos e efeitos imediatos e latentes na sua qualidade (SILVA et al, 2006). De uma maneira geral, o roteiro seguido das sementes do campo até a usina consiste na colheita, armazenamento temporário por um mês no campo, transporte, armazenamento temporário por três meses na usina em forma de tulhas, transporte e beneficiamento em descaroçadores de serra ou de rolo, além é claro do processo de deslintamento das sementes que são armazenadas até a próxima semeadura.
Durante o armazenamento temporário, o línter presente nas sementes de algodão pode ser um importante veículo de disseminação de patógenos, que pode comprometer o sucesso da cultura. O línter também favorece a presença de fungos saprófitas que podem dificultar a detecção de microorganismos importantes (LIMA et al., 1982 apud SILVA et al., 2006). Dessa forma o deslintamento melhora a qualidade fisiológica das sementes por reduzir os microorganismos que se encontram na superfície das sementes.
Silva et al. (2006), em um trabalho que observaram o desempenho das sementes de algodão após o processamento e armazenamento submeteram as sementes ao deslintamento químico utilizando ácido sulfúrico concentrado na dose de 0,15L por quilo de semente por três minutos e depois lavadas com água corrente e neutralizadas com solução de carbonato de sódio, na proporção de 1kg de carbonato de sódio para cada 10L de água.
Após o deslintamento e a classificação, as sementes são embaladas em sacaria de papel e armazenadas, aguardando a próxima semeadura. O Serviço de Produção de Sementes Básicas da Embrapa Algodão, em Campina Grande-PB, recomenda o armazenamento das sementes de algodão por no máximo oito meses, nas condições ambientais e com teor de umidade abaixo dos 10%.
No trabalho realizado por SILVA et al. o armazenamento temporário das sementes de algodão em fardo no campo, por até 85 dias, não causa perda imediata da qualidade das sementes e completam que a porcentagem de germinação mantém-se dentro do padrão para o comércio por até seis meses após a colheita.
Fonte: EMBRAPA



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