quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Plantio do Milho



Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 50,268 milhões de toneladas de grãos produzidos em uma área de aproximadamente 14,126 milhões de hectares (Conab, 2009) referente a duas safras, normal e safrinha. Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtida produtividade superior a 16ton/ha em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente. No entanto, o nível médio nacional de produtividade é muito baixo, cerca de 3.559kgha, demonstrando que o manejo cultural do milho deve ser ainda bastante aprimorado para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar.

O plantio de uma lavoura deve ser muito bem planejado, pois determina o inicio de um processo de cerca de 120 dias que afetará todas as operações envolvidas, além de determinar as possibilidades de sucesso ou insucesso da lavoura. É por ocasião do plantio que se obtêm boas ou más população de plantas e densidade de plantio. Esta característica não é tão importante em outras culturas com grande capacidade de perfilhamento, como arroz, trigo, aveia, sorgo e outras gramíneas, ou de maior habilidade de produção de floradas, como feijão e soja. Isto faz com que o agricultor tenha especial atenção especial com plantio, de forma a assegurar um plantio com maiores chances de alcançar maiores produtividade e rentabilidade.

Neste contexto, a escolha e o cuidado com as plantadoras representam um importante elemento dentro do processo de produção, uma vez que afetam a distribuição e a localização do adubo, a distribuição de sementes nas fileiras e a profundidade de plantio, o espaçamento entre fileiras, determinando a qualidade do plantio e seu efeito sobre as operações subsequentes e a produtividade da lavoura.

O milho também desempenha importante papel em sistema de plantio direto e nos últimos anos tem também se destacado na integração lavoura-pecuária devido às inúmeras aplicações que este cereal tem dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada, na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção excedente. Outro ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras no que diz respeito ao consórcio dele com forrageiras.

Introdução

Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 54,37 milhões de toneladas de grãos produzidos, em uma área de aproximadamente 12,93  milhões de hectares (CONAB, 2010), referentes a duas safras: normal e safrinha.  Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtida no Brasil produtividade superior a 16 t.ha-1, em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente. No entanto, o nível médio nacional  de produtividade é muito baixo, cerca de 4.417 kg/ha-1 na safra e 4.045 kg.ha-1 na safrinha, demonstrando que os diferentes sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante aprimorados para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar.


Condições climáticas

O período de crescimento e desenvolvimento do milho é limitado pela  água, temperatura e radiação solar ou luminosidade. A cultura do milho necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, a precipitação pluviométrica e o fotoperíodo, atinjam níveis considerados ótimos, para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo.

Temperatura

A temperatura possui uma relação complexa com o desempenho da cultura, uma vez que a condição ótima varia com os diferentes estádios de crescimento e desenvolvimento da planta.
A temperatura da planta é basicamente a mesma do ambiente que a envolve. Devido a esse sincronismo, flutuações periódicas influenciam nos processos metabólicos que ocorrem no interior da planta. Nos momentos em  que a temperatura é mais elevada, o processo metabólico é mais acelerado e nos períodos mais frios o metabolismo tende a diminuir. Essa oscilação metabólica ocorre dentro dos limites extremos tolerados pela planta de milho, compreendidos entre 10ºC e 30ºC.  Abaixo de 10ºC, por períodos longos, o crescimento da planta é quase nulo e sob temperaturas acima  de 30ºC, também por períodos longos, durante a noite, o rendimento de grãos decresce, em razão do consumo dos produtos metabólicos elaborados durante o dia. Temperaturas noturnas elevadas, por longos períodos, causam diminuição do rendimento de grãos e provocam senescência precoce das folhas.
           A temperatura ideal para o desenvolvimento do milho, da emergência à floração, está compreendida entre 24 e 30ºC. Comparando-se temperaturas médias diurnas de 25ºC, 21ºC e 18ºC, verificou-se que o milho obteve maior produção de matéria seca e maior rendimento de grãos na temperatura de 21ºC. A queda do rendimento sob temperaturas elevadas se deve ao curto período de tempo de enchimento de grãos, em virtude da diminuição do ciclo da planta.
           A planta de milho precisa acumular quantidades distintas de energia  ou simplesmente unidades calóricas necessárias a cada etapa de crescimento e desenvolvimento. A unidade calórica é obtida através da soma térmica  necessária para cada etapa do ciclo da planta, desde o plantio até o florescimento masculino. O somatório térmico é calculado através das temperaturas máximas e mínimas diárias, sendo 30ºC e 10ºC, respectivamente, as temperaturas referenciais para o cálculo. Com relação ao ciclo, as cultivares são classificadas pelas empresas produtoras de sementes em normais ou tardias, semiprecoces, precoces e superprecoces.

As cultivares normais apresentam exigências térmicas correspondentes a 890-1200 graus-dias (G.D.), as precoces, de 831 a 890, e as superprecoces, de 780 a 830 G.D. Essas exigências calóricas se referem ao cumprimento das fases fenológicas compreendidas entre a emergência e o início da polinização.
De acordo com o Zoneamento Agrícola para a cultura de milho, as cultivares eram classificadas, em função do ciclo,  em três grupos:
Grupo I - necessita até 780 U.C (precoce);
Grupo II - necessita entre 780 e 860 U.C. (ciclo médio); e
Grupo III - necessita mais que 860 U.C. (ciclo tardio).
A partir da safra 2009/10, para efeito de simulação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento classifica as cultivares em três grupos de características homogêneas: Grupo I (n < 110 dias); Grupo II (n maior ou igual a 110 dias e menor ou igual a 145 dias); e Grupo III (n >145 dias), onde nexpressa o número de dias da emergência à maturação fisiológica.


Umidade do solo

O milho é uma cultura muito exigente em água. Entretanto, pode ser cultivado em regiões onde as precipitações vão desde 250 mm até 5000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida pela planta, durante seu ciclo está em torno de 600 mm. O consumo de água pela planta, nos estádios iniciais de crescimento, num clima quente e seco, raramente excede 2,5 mm/dia. Durante o período compreendido entre o espigamento e a maturação, o consumo pode se elevar para 5 a 7,5 mm diários. Mas se a temperatura estiver muito elevada e a umidade do ar muito baixa, o consumo poderá chegar até 10 mm/dia.
            A ocorrência de déficit hídrico na cultura do milho pode ocasionar danos em todas as fase. Na fase do crescimento vegetativo, devido ao menor elongamento celular e à redução da massa vegetativa, há uma diminuição na taxa fotossintética. Após o déficit hídrico, a produção de grãos é afetada diretamente, pois a menor massa vegetativa possui menor capacidade fotossintética. Na fase do florescimento, a ocorrência de dessecação dos estilos-estigmas (aumento do grau de protandria), aborto dos sacos embrionários, distúrbios na meiose, aborto das espiguetas e morte dos grãos de pólen resultarão em redução no rendimento. Déficit hídrico na fase de enchimento de grãos afetará o metabolismo da planta e o fechamento de estômatos, reduzindo a taxa fotossintética e, consequentemente, a produção de fotossimilados e sua translocação para os grãos.



Fotoperiodo

Dentre os componentes climáticos que afetam a produtividade do milho, está  o fotoperíodo, representado pelo número de horas de luz solar, o qual é um fator climático de variação sazonal, mas que não apresenta muita variação de ano para ano. O milho é considerado  uma planta  de dias curtos, embora algumas cultivares tenham pouca ou nenhuma sensibilidade às variações do fotoperíodo.
Um aumento do fotoperíodo faz com que a duração da etapa vegetativa aumente e proporcione também um incremento no número de folhas emergidas durante a diferenciação do pendão e do número total de folhas produzidas pela planta.
            Nas condições brasileiras, o efeito do fotoperíodo na produtividade do milho é praticamente insignificante.


Radiação solar

A radiação solar é um dos parâmetros de extrema importância para a planta de milho, sem a qual o processo fotossintético é inibido e a planta é impedida de expressar o seu máximo potencial produtivo. Grande parte da matéria seca do milho, cerca de 90%, provém da fixação de CO2 pelo processo fotossintético. O milho é uma planta do grupo C4 , altamente eficiente na utilização da luz. Uma redução de 30% a 40% da intensidade luminosa, por períodos longos, atrasa a maturação dos grãos ou pode ocasionar até mesmo queda na produção.
Em uma pesquisa avaliando a produção de sementes, verificou-se que o milho semeado em outubro teve redução na produtividade e no rendimento de  sementes beneficiadas, quando comparado com a semeadura em março, que apresentou 60% a mais  na produtividade e maiores valores no rendimento de beneficiamento nas peneiras 24, 22 e 20 e menores na peneira 18 e no resíduo final. Essa diferença foi atribuída ao fato de o período de enchimento de grãos do milho semeado em outubro ter ocorrido no mês de janeiro quando se constatou um longo período com alta nebulosidade, com grande frequência de período chuvoso durante o dia, ou seja, com redução na radiação fotossinteticamente ativa, necessária para intensificar o processo fotossintético.


Época de semeadura

O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo, temperatura, radiação solar e fotoperíodo. A época de plantio é função destes fatores, cujos limites extremos são variáveis em cada região agroclimática.  A época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar. Isto, considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta. Trabalho de pesquisa mostra  que as épocas em que o rendimento de grãos foram maiores e mais estáveis foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de quatro folhas totalmente desenvolvidas e a floração ocorrem  sob boas condições  de água no solo. Nas condições tropicais, devido a menor variação da temperatura e do comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor época de semeadura.
No Sul do Brasil, o milho geralmente é plantado de agosto a setembro e, à medida que se caminha para os estados do Centro-Oeste e Sudeste, a época de semeadura na safra varia de outubro a novembro. Resultados de pesquisa mostram que atraso na época de plantio além dos meses de setembro - outubro resultam em redução no ciclo da cultura e no rendimento de grãos. A época de semeadura afeta várias características da planta, ocorrendo um decréscimo mais acentuado no número de espigas por planta (prolificidade) e no rendimento de grãos. Vários resultados da literatura mostram que o atraso na semeadura pode resultar em perdas que podem ser superiores a 60 kg/ha/dia. Essa tendência pode ser revertida se não houver déficit hídrico e, ocorrer uma redução na temperatura do ar, nos meses de fevereiro - março.
Comparando as épocas de plantio das lavouras com produtividades superiores a 8.000 kg.ha-1, pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo verificaram que na região Sul do Brasil observa-se que o Estado do Rio Grande do Sul obtém maiores rendimentos com o plantio mais cedo. Cerca de 90% da área é plantada nos meses de agosto e setembro. Em Santa Catarina, 80% dos plantios são realizados também nos meses de agosto e setembro.  Esses resultados caracterizam-se pelo fato de serem locais com clima característico de regiões subtropicais. No Estado do Paraná, os resultados observados mostram que a época de plantio das lavouras de maiores rendimentos se concentra nos meses de setembro e outubro.
Na região Sudeste, as épocas de plantio das lavouras de milho de alta produtividade concentram-se nos meses de outubro e novembro, chegando a cerca de 80% das lavouras com produtividade acima de 8.000 kg/ha-1. O mesmo ocorre nos estados da região Centro-Oeste, onde as melhores lavouras de milho são plantadas, principalmente, nos meses de outubro e novembro. Já para os estados da região Nordeste, nas lavouras de alta produtividade na Bahia e no Piauí, principalmente, a época de plantio concentra-se no final do mês de novembro e principalmente no mês de dezembro. Na região Norte do país, lavouras com alta produtividade (acima de 8 mil kg/ha) foram registradas apenas no Estado do Pará, sendo que em 70% das lavouras a época de plantio neste estado ocorreu em janeiro. Com a análise dos levantamentos, pode-se concluir que as diferenças edafoclimáticas de cada região influenciam muito na tomada de decisão da época de plantio da cultura de milho.
Por ser plantado no final da época recomendada, o milho safrinha tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação solar e temperatura na fase final de seu ciclo. Além disso, como o milho safrinha é plantado após uma cultura de verão, a sua data de plantio depende da época do plantio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o planejamento do milho safrinha começa com a cultura do verão, visando liberar a área o mais cedo possível. Quanto mais tarde for o plantio, menor será o potencial e maior o risco de perdas por seca e/ou geadas.
Uma análise por estado mostrou  que nos estados do PR e MS as maiores frequências de altos  rendimentos de milho safrinha são obtidos em plantio entre a primeira quinzena de fevereiro e a primeira quinzena de março. Em  MT e GO as maiores frequências de altos rendimentos são obtidos no mês de fevereiro, sendo que em GO se concentram mais na primeira quinzena enquanto em MT se concentram na segunda quinzena. No Estado de São Paulo, a época de  plantio de maiores quantidades de lavouras de milho estende-se até o mês de abril (Figura 1).
Hoje, com os avanços nos trabalhos na área de climatologia, o Brasil já tem um Zoneamento Agrícola para o milho, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que fornece informações sobre as épocas de plantio,  tanto na safra como na safrinha, com menores riscos, para quase todo o país.
Nas regiões onde não ocorrem geadas, o plantio do milho poderá ser feito o ano todo, mas o agricultor deverá levar em consideração as alterações no ciclo da cultura, que afetarão a época de colheita e, consequentemente, o calendário agrícola, podendo afetar a época de plantio de culturas subsequentes, como mostrado na Tabela 1. Além disto, o potencial produtivo pode variar de acordo com as condições climáticas resultantes da época de plantio.


Época de semeaduraNormalPrecoceSuperprecoce
05 de fevereiro124117108
05 de março134129127
06 de abril145140138
05 de maio139138137
08 de junho138133131
09 de julho146134125
12 de agosto 124119118
08 de setembro125118115
07 de outubro 115112106
08 de novembro116112107
09 de dezembro 115115112
Fonte: Sans et al. citados por Pereira Filho & Cruz (1993).
Experimento com milho irrigado, realizado no Rio Grande do Sul, mostrou que os rendimentos de grãos foram, em média, 15% e 48% inferiores na semeadura de agosto e dezembro, respectivamente, em relação à de outubro. Essas diferenças foram atribuídas a alterações na quantidade de radiação solar disponível, em decorrência da época de plantio. No plantio em dezembro, a alta percentagem de plantas estéreis em função da competição interespecífica pode também ter contribuído para o baixo rendimento de grãos.


Profundidade da semeadura

A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores temperatura do solo, umidade e tipo de solo. A semente deve ser colocada numa  profundidade que possibilite um bom contato com a umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de semeadura vai depender do tipo de solo. Em solos mais pesados, com drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do mesocótilo, dificultando a emergência de plântulas, as sementes devem ser colocadas entre 3 e 5 cm de profundidade. Já em solos mais leves ou arenosos, as sementes podem ser colocadas mais profundas, entre 5 e 7 cm de profundidade, para se beneficiarem do maior teor de umidade do solo.
No Sistema Plantio Direto, onde há sempre um acúmulo de resíduos na superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura morta pode retardar a emergência, reduzir o estande e, em alguns casos, pode até causar queda no rendimento de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. A Tabela 2 mostra o efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a duração do período de emergência na cultura do milho.
Contrário a uma crença popular, a profundidade de semeadura tem influência mínima na profundidade do sistema radicular definitivo, que se estabelece logo abaixo da superfície do solo.


Tabela 2. Porcentagem de emergência, vigor e duração do periodo de germinação de sementes de milho em diferentes profundidades.
Profundidade (cm)Emergência (%)Vigor ¹Duração Média (dias)
2.5
100.03.08.0
5.0
97.53.010.0
7.597.53.012.0
10.080.02.515.0
12.5
32.50.718.0
Fonte: Adaptado de Fagundes (1975) citado por Bresolin(1993).
¹vigor aos 22 dias após a semeadura. Notas: 3.0 para o máximo vigor a zero para mínimo vigor.

Densidade de Plantio

A densidade de plantio, ou estande, definida como o número de plantas por unidade de área, tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho, uma vez que pequenas variações na densidade têm grande influência no rendimento final da cultura.
O milho é a gramínea mais sensível à variação na densidade de plantas. Para cada sistema de produção, existe uma população que maximiza o rendimento de grãos. A população recomendada para maximizar o rendimento de grãos de milho varia de 40.000 a 80.000 plantas.ha-1, dependendo da disponibilidade hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo da cultivar, da época de semeadura e do espaçamento entre linhas. Vários pesquisadores consideram o próprio genótipo como principal determinante da densidade de plantas. O aumento da densidade de plantas até determinado limite é uma técnica usada com a finalidade de elevar o rendimento de grãos da cultura do milho. Porém, o número ideal de plantas por hectare é variável, uma vez que a planta de milho altera o rendimento de grãos de acordo com o grau de competição intra-específica proporcionado pelas diferentes densidades de planta.
O rendimento de uma lavoura aumenta com a elevação da densidade de plantio, até atingir uma densidade ótima, que é determinada pela cultivar e por condições externas resultantes de condições edafoclimáticas do local e do manejo da lavoura. A partir da densidade ótima, quando o rendimento é máximo, aumento na densidade resultará em decréscimo progressivo na produtividade da lavoura. A densidade ótima é, portanto, variável para cada situação e, basicamente, depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e do nível de fertilidade de solo. Qualquer alteração nesses fatores, direta ou indiretamente, afetará a densidade ótima de plantio.
            Além do rendimento de grãos, o aumento da densidade de plantio também afeta outras características da planta. Dentre essas características, merecem destaque a redução no número de espigas por planta (índice de espigas) e o tamanho da espiga. Também o diâmetro do colmo é reduzido e há maior susceptibilidade ao acamamento e ao quebramento. Além disso, é reconhecido que pode haver um aumento na ocorrência de doenças, especialmente as podridões de colmo, com o aumento na densidade de plantio. Esses aspectos podem determinar o aumento de perdas na colheita, principalmente quando esta é mecanizada. Por estas razões, às vezes deixa-se de recomendar densidades maiores, que embora em condições experimentais apresentem maiores rendimentos, não são aconselhadas em lavouras colhidas mecanicamente.
A densidade de plantio, dentre as técnicas de manejo cultural, é um dos parâmetros mais importantes. Geralmente, a causa dos baixos rendimentos de milho é o baixo número de plantas por área. Entretanto, para que haja um aumento da produtividade, é necessário que vários outros fatores, como o nível de fertilidade do solo, o nível de umidade e as cultivares estejam em consonância com o número de plantas por área. A velocidade de semeadura deve se basear no conhecimento do produtor sobre as condições de operação do equipamento, as condições do solo e as características  da plantadeira. Deve ser definida visando a uniformidade na produtividade e na distribuição da semente.
 A densidade de plantio e a distribuição de sementes são  também afetadas pela velocidade de plantio. Para plantadeiras a disco, recomendam-se velocidades não superiores a 5 Km/h. Estudos apontam perdas de produtividade  de até 11% ao aumentar a velocidade de 5 para 10 Km/h em plantadeiras a disco (Tabela 3). Plantadeiras a dedo ou a vácuo podem realizar operações de semeadura com velocidade de até10 Km/h, desde que as condições de topografia do terreno, umidade e textura do solo permitam a operação nesta velocidade (é importante consultar o fabricante). De um modo geral, não se recomenda  a semeadura em velocidades superiores a 7 Km/h quando se utilizar essas plantadeiras.
Aconselha-se que se faça um teste antes da semeadura, operando a plantadeira em diferentes velocidades para, então, se escolher a melhor opção, tendo em vista principalmente a uniformidade da profundidade das sementes.
Velocidades acima do recomendado aumentam o número de falhas e duplas e prejudicam a uniformidade da profundidade das sementes. Esses dois fatores reduzem a população de plantas e aumentam o número de plantas dominadas, prejudicando dois dos principais componentes do rendimento: o número de espigas por área e o número de grãos  por espiga.


Tabela 3.Média de populações alcançadas com diferentes velocidades de plantio (média de 7 anos e 61 locais)
Velocidade de plantio (km h-1)
5,0
7,510,0
Densidade desejada
55.000 plantas ha-1
Densidade na colheita (plantas ha-1)
52.612
51.131
46.821
% em relação à densidade desejada95,793,085,1
Dif. de densidade plantas ha-¹ para 5 km/h0-1.481
-5.791
Perdas em % em relação à velocidade de  5 km/h02,811,0
Produtividade  (kg ha-¹)
9.327
8.589
8.203
Diferença em  (kg ha-¹)0
738
1.124
Fonte: Pioneer Sementes, 2004Em termos genéricos, verifica-se que cultivares precoces (ciclo mais curto) exigem maior densidade de plantio em relação a cultivares tardias para expressarem seu máximo rendimento. A razão desta diferença é que cultivares mais precoces, geralmente, possuem plantas de menor altura e menor massa vegetativa. Essas características morfológicas determinam um menor sombreamento dentro da cultura, possibilitando, com isto, menor espaçamento entre plantas, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo dentre os grupos de cultivares (precoces ou tardios), há diferenças quanto à densidade ótima de plantio.
Uma análise de cerca de 362 cultivares de milho comercializadas na safra 2010/11 mostra que as variedades são indicadas para plantios com densidades variando de 40.000 a 55.000 plantas por hectare, o que é coerente com o menor nível de tecnologia dos sistemas de produção empregados pelos agricultores que usam esse tipo de cultivar. As faixas de densidades mais frequentemente recomendadas para os híbridos duplos variam de 50 a 60, havendo casos de recomendação até de 70 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é frequente a densidade de 55 a 65-70 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas por ha. Deve ser ressaltado que na safra 2009/10 apenas 23 cultivares eram recomendadas com densidades de plantio igual ou maior do que 70 mil plantas por hectare. Nesta safra (2010/11) esse número passou para um pouco mais de 100 híbridos (triplos e simples) representando cerca de 28% de todos os híbridos triplos e simples disponíveis no mercado, independentemente se são ou não transgênicos, mostrando também a importância da densidade de plantio para que as cultivares possam expressar seus potenciais produtivos. Por outro lado, a idéia tradicional de se utilizar um saco de sementes para o plantio de um hectare já não é verdadeira, havendo necessidades de se utilizar 1,2 a 1,4 sacos de sementes (com 60.000 sementes) para o plantio de um hectare.
 A maioria das empresas já estão recomendando densidades de plantio em função da região, da altitude e da época de plantio. Além disso, já existem empresas recomendando a densidade em função do espaçamento, o que representa uma evolução.
O surgimento de novas cultivares de milho de ciclo mais curto, estatura reduzida, menor número de folhas e folhas mais eretas aumentou o potencial de resposta da cultura à densidade de plantas.
O aumento e o arranjo da população de plantas podem contribuir para a correta exploração do ambiente e do genótipo, com consequências no aumento do rendimento de grãos.
 O arranjo de plantas basicamente pode ser manipulado através de alterações na densidade de plantas e no espaçamento entre fileiras.
A interceptação da radiação fotossinteticamente ativa pelo dossel exerce grande influência sobre o rendimento de grãos da cultura do milho, quando outros fatores ambientais são favoráveis. Uma forma de aumentar a interceptação de radiação e, consequentemente, o rendimento de grãos, é através da escolha adequada do arranjo de plantas. Teoricamente, o melhor arranjo de plantas de milho é aquele que proporciona distribuição mais uniforme de plantas por área, possibilitando melhor utilização de luz, água e nutrientes.
Atualmente, a redução no espaçamento entre linhas e o aumento da densidade de plantio é uma realidade na cultura de milho, no Brasil, encontrando-se, no mercado, inclusive, plataformas adaptáveis às colhedoras que realizam a colheita em espaçamentos de até 0,45 m.
Com relação à disponibilidade hídrica e à disponibilidade de nutrientes, observa-se que a densidade deve ser aumentada sempre que esses fatores forem otimizados, para que seja atingido o máximo rendimento de grãos.
            Em situações de áreas irrigadas, ou quando não há restrições hídricas, é aconselhável usar o limite superior da faixa da densidade recomendada. Um fator importante quando se usa alta densidade de plantio é assegurar que a cultivar usada apresenta grande resistência ao acamamento e ao quebramento.

De forma análoga ao suprimento hídrico, quanto maior for a disponibilidade de nutrientes para as plantas, seja pela fertilidade natural do solo ou por adubação, maior será a densidade para se alcançar o máximo rendimento. As interações mais frequentes entre o nível de fertilidade e a densidade de semeadura se dão principalmente com a adubação nitrogenada.



Espaçamento entre fileiras

Ainda é muito variado o espaçamento entre fileiras de milho nas lavouras, embora seja nítida a tendência de sua redução.
Dados de pesquisa mostram vantagens do espaçamento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras) comparado ao espaçamento convencional (80 a 90 cm), especialmente quando se utilizam densidades de plantio mais elevadas, como é demonstrado na Figura 2.
Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados o aumento do rendimento de grãos, em função de uma distribuição mais equidistante de plantas na área, aumentando a eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes, melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis, diminuindo, dessa forma, a duração do período crítico das plantas daninhas, redução da erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo, melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes e maximização da utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, a exemplo do milho e da soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo. Tem sido também mencionado que os espaçamentos reduzidos permitem melhor distribuição da palhada de milho sobre a superfície do solo, após a colheita, favorecendo o sistema de plantio direto.


Diversos trabalhos têm mostrado tendência de maiores produções de grãos em espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm), principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Essa redução no espaçamento resulta também em maior peso de grãos por espiga. Esse comportamento se deve aos milhos atuais terem características de porte mais baixo,  melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses materiais exercem menores índices de sombreamento e captam melhor a luz solar.
Uma avaliação de diferentes cultivares de milho, espaçamento e densidade de plantio, mostrou que o rendimento de grãos cresceu com o aumento da densidade de plantio, em ambos os espaçamentos (reduzido e normal), demonstrando que se poderia aumentar ainda mais a produtividade, com aumento na densidade de plantio; entretanto, no espaçamento de 0,50 m entre fileiras, a produtividade apresentou maior ampliação quando se passou de 40.000 plantas. ha-1 para 77.500 plantas.ha-1 do que no espaçamento de 0,80 m, indicando que a redução de espaçamento  é mais vantajosa quando se utilizam maiores densidades de plantio, comprovando mais uma vez que o benefício das linhas mais estreitas aumenta à medida que aumenta a população de plantas (Figura 2).
Avaliações realizadas, tanto na safra como na safrinha, em lavouras de alta produtividades, mostraram que de fato tem havido um aumento da densidade de plantio e uma redução no espaçamento entre fileiras, entretanto, não tem se verificado, adensamento do plantio associado a uma redução no espaçamento (Figuras 3 e 4).



Quando se pensa em diminuir o espaçamento entre linhas e/ou aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os híbridos ou as variedades de porte alto e ciclo longo produzem bastante massa e quase sempre não proporcionam um bom arranjo das plantas dentro da lavoura e, por essa razão, já no início do crescimento é prejudicada a captação da luz. Os híbridos de menor porte, mais precoces, desenvolvem pouca massa vegetal, com menor quantidade de auto-sombreamento, o que proporciona uma maior penetração da luz solar. Estas plantas permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades.
Uma das dificuldades para o uso de espaçamentos mais estreitos eram as plataformas das colheitadeiras, que, muitas vezes, não se adaptavam a esta situação. No entanto, hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já não existe.

Considerações gerais

A cultura do milho, por sua versatilidade, adapta-se a diferentes sistemas de produ ção. Devido à grande produção de fitomassa de alta relação C/N, a cultura é fundamental em programas de rotação e sucessão de culturas em Sistemas de Plantio Direto envolvendo ou não Sistemas de Produção  de Integração Lavoura-Pecuária. Embora apresente alto potencial de produção, comprovado nos concursos de produtividade e por agricultores que utilizam alto nível tecnológico, o rendimento de milho, no Brasil, ainda é muito baixo. Levando, ainda, em consideração a qualidade e o potencial da semente de milho disponível, com predominância dos híbridos simples, verifica-se que é fundamental um aperfeiçoamento dos sistemas de produção para que esses materiais possam expressar ao máximo seu potencial genético, alcançando altas produtividades em sistema de produção sustentáveis.

Plantadoras

No plantio do milho, um importante aspecto é a regulagem da densidade de plantio, onde a densidade ótima que promoverá o rendimento máximo da lavoura, varia basicamente, com a cultivar, e com a disponibilidade de água e nutrientes. Uma análise de mais de 200 cultivares de milho mostrou que a densidade recomendada pode variar de 40.000 a 70.000 plantas por hectare. Neste contexto, as semeadoras representam um importante elemento dentro do processo de produção, uma vez que a produtividade de milho é afetada de forma significativa pelo fator estande. A semeadora pode atuar como um elemento restritivo ao desenvolvimento da cultura do milho e no momento do plantio todo o esforço para melhoria de produtividade pode estar sendo infrutífero; de pouco adianta utilizar sementes de alta qualidade genética, fazer um bom preparo do solo, manter uma fertilidade adequada e controlar pragas e plantas daninhas, se não se obtém uma quantidade de sementes distribuídas para um estande final em torno de 50.000 plantas por hectare. Dessa maneira, se o objetivo é aumentar a produtividade da cultura, a regulagem da semeadora passa a merecer uma atenção especial.
Associado a densidade de plantio está o espaçamento entre fileiras. No Brasil esse espaçamento é muito variável, indo de um metro a 80 cm, mas verifica-se uma tendência de se utilizar cada vez mais os espaçamentos reduzidos pelas seguintes razões: aumento no rendimento de grãos, por propiciar uma distribuição melhor de plantas na área, aumentando a eficiência na utilização de luz solar, água e nutrientes; melhor controle de plantas daninhas, em função do mais rápido fechamento dos espaços disponíveis; e redução da erosão, pela cobertura antecipada da superfície do solo (Cruz, 1999). O objetivo seria utilizar o mesmo espaçamento para o milho e a soja. Para isto já existem colhedoras de milho que permitem a colheita de espaçamentos de até 50 cm.
A ocorrência de densidade de plantio aquém da desejada é comum em plantio direto onde as condições de solo e da semeadora não são favoráveis. Onde há excesso de palha, palhada mal distribuída, microrelevo irregular, normalmente associados a solo com maior teor de umidade do que o adequado, pode haver uma redução na densidade de plantio, além de causar emergência desuniforme e atraso no desenvolvimento inicial. Estes problemas podem ser agravados se a qualidade da semeadora não for boa. Estudos realizados por DELAFOSSE (1986), mostraram que a falta de regularidade de espaçamento entre plantas pode resultar em perdas superiores a 15% na cultura do milho. Além disso, MANTOVANI et al. (1992) avaliaram nove semeadoras de milho e concluíram que, de maneira geral, a distribuição longitudinal de sementes era irregular e fora dos limites aceitáveis, tendendo a se tornar mais irregular, à medida que a velocidade de semeadura aumentava. Sugere-se, nestes casos, aumentar, na regulagem da semeadora, a quantidade de sementes de 5 a 10% comparado com o plantio convencional. Também é importante manter a velocidade de semeadura dentro dos limites recomendados de 4 a 6 km/h. O estabelecimento da densidade de plantio recomendada é também favorecido pelo uso de sementes de melhor qualidade, e de cultivares que apresentem um melhor enraizamento e bom vigor inicial (Cruz,1999).
Várias marcas e modelos de semeadoras-adubadoras, são disponíveis hoje no mercado brasileiro que basicamente utilizam os seguintes sistemas de distribuição de sementes:

  • Pratos ou discos: utiliza discos rotativos perfurados, que devem ser trocados conforme as dimensões das sementes e a quantidade a ser distribuída no solo, além de exigirem regulagem na rotação conforme a velocidade de deslocamento da máquina, permitindo ao agricultor uma regulagem de acordo com o stand desejado, a peneira de classificação do milho.Dedinhos: caracteriza-se por um disco onde se fixam uma série de pequenas chapas curvas, pivotadas, que, sob o efeito de molas, ao mergulhar dentro do leito de sementes, fecham-se, prendendo uma única semente, elevando-a até a cavidade de distribuição. É mais utilizado para sementes graúdas, como é o caso do milho. Este tipo de semeadora também deve ser regulado a exemplo dos outros sistemas.

  • Pneumático: opera também com discos dosadores perfurados rotativos, nos quais as sementes aderem a cada furo devido ao vácuo criado por uma corrente de ar que os atravessa, causando a sucção de um ventilador, sendo as sementes liberadas, quando o vácuo é neutralizado por um obturador, e captadas por tubos distribuidores. Como nos outros sistemas, para cada tipo de semente, deve-se dispor de um disco dosador e fazer uma regulagem de velocidade adequada.
  • A classificação das sementes de milho também é um importante fator a ser considerado, uma vez que pode comprometer o desempenho das semeadoras, principalmente das que utilizam o sistema de distribuição de sementes tipo disco perfurado, pois o formato das sementes é bem variável, podendo dificultar o preenchimento das células e a escolha dos discos.
    O tratamento de sementes de milho com inseticidas, utilizado para combater pragas de solo durante o plantio, altera a rugosidade da superfície delas, pelo aumento do ângulo de repouso, afetando o desempenho da semeadora, pela dificuldade de movimentação no depósito e também nos sistemas distribuidores (discos ou dedos prensores). Uma maneira de contornar este problema de escoamento pode ser o uso de uma substância inerte lubrificante, como o grafite, que diminua tanto o coeficiente de atrito entre as sementes como destas com a parede do reservatório. De acordo com Mantovani et all(1999) a dose de grafite indicada para uso no depósito é de no mínimo , 4 g/kg de sementes.

    Equipamentos para plantio direto

    Basicamente, existem 3 tipos de máquinas de plantio direto: as que utilizam enxada rotativa, as que utilizam discos e as que utilizam facas.

    Máquinas com enxada rotativa

    Esta máquina possibilita uma boa distribuição e incorporação de adubo em faixa e é bastante resistente. Para as culturas de milho e soja, a semente é lançada rente ao solo, atrás das lâminas. Em culturas de espaçamento estreito, como trigo, as "botas" longas são substituídas por "botas" curtas, para evitar embuchamento com resíduos da cultura anterior


    Apresenta as seguintes desvantagens:
    1. Demanda tratores de alta potência;Desgaste rápido das lâminas de corte em solos abrasivos;Dificuldade de trabalho em solos ondulados;

    2. Rendimento relativamente baixo.


    Máquina com discos



    Os equipamentos de plantio direto com sistema de disco, disponíveis no mercado brasileiro, são, na sua maioria , de arrasto e conseqüentemente a sua penetração no solo é feita individualmente, devido ao fato de os discos de corte serem montados na barra porta-ferramenta, com a finalidade de acompanhar as pequenas ondulações do terreno. Este sistema demanda tratores de menor potência, comparado com os sistemas que utilizam enxada rotativa e o seu sucesso depende do teor de umidade do solo no plantio



    Máquinas com facas 

    Este sistema é o mais simples e o mais barato que existe, já sendo utilizado em algumas máquinas convencionais para plantio direto, e os resultados mostram as seguintes dificuldades:

    • movimentação excessiva do solo e consumo desnecessário de combustível;maior formação de torrões, principalmente em condições mais secas;mau funcionamento de herbicida residual;má colocação de sementes;

    • problemas de embuchamento onde há muita palha.
    Com algumas modificações, muitas vezes simples, nas máquinas convencionais, pode-se eliminar ou pelo menos minimizar esses problemas. Para as áreas de plantio direto de milho, deve-se empregar semeadoras com sulcadores (facão), visando eliminar compactações na linha e colocar o adubo em maior profundidade.









    terça-feira, 24 de novembro de 2015

    Cultivares de Milho


    Introdução 

    Sem dúvida alguma, o primeiro passo na produção de uma cultura é a escolha da semente. O rendimento de uma lavoura de milho é o resultado do potencial genético da semente e das condições edafoclimáticas do local de plantio, além do manejo da lavoura. De modo geral, a cultivar é responsável por 50% do rendimento final. Consequentemente, a escolha correta da semente pode ser a razão do sucesso ou insucesso da lavoura.
    Observa-se crescimento da produtividade de milho nas principais regiões produtoras do País desde a metade do século passado. Modelo semelhante já foi descrito nos EUA, com utilização de sementes híbridas com maior potencial de rendimento (melhoramento genético), maior uso de fertilizantes e defensivos, melhoria no arranjo espacial de plantas (espaçamento e densidade), máquinas agrícolas mais eficientes e adoção do sistema de plantio direto na palha. A adoção conjunta de cultivares melhoradas, insumos e técnicas de cultivos adequados fez com que o rendimento das lavouras crescesse progressivamente.
    A grande mudança ocorrida na arquitetura de plantas, resultado da seleção para plantas de porte baixo e com baixa inserção de espigas, e abaixamento do porte, maior proporção de grãos em relação à matéria seca no colmo, resultou em plantas mais eficientes, produtivas, com menor percentagem de acamamento e adaptadas a colheita mecânica. Além disso, a seleção em múltiplos ambientes levou ao desenvolvimento de genótipos eficientes e responsivos a melhorias de ambiente, tornando possível a mudança de patamar de produtividade das cultivares lançadas pela indústria de sementes.
    Atualmente, com a presença de cultivares transgênicas no mercado é necessária uma análise separada entre cultivares transgênicas e convencionais.



    Cultivares Convencionais

    Na safra 2010/11, estão sendo disponibilizadas 362 cultivares de milho convencionais. Entre elas, 71 novas (12 variedades, 1 híbrido intervarietal, 10 híbridos duplos, 16 híbridos triplos e 32 híbridos simples) substituíram 34 cultivares  (1 variedade, 4 híbridos duplos, 9 híbridos triplos e 20 híbridos simples) que deixaram de ser comercializadas na safra atual, mais uma vez demonstrando a dinâmica dos programas de melhoramento, a evolução do nível tecnológico da cultura e a importância do uso da semente no aumento da produtividade.
     Dessa forma, pode-se afirmar que existem cultivares adaptadas a qualquer região do país e a qualquer sistema de produção, sendo provavelmente o insumo moderno de uso mais generalizado na cultura do milho.
    Para toda cultivar lançada, uma série de informações são fornecidas pela Empresa que a comercializa, de forma que os agricultores possam explorar ao máximo seu potencial produtivo. Com o objetivo de melhor informar aos produtores e técnicos que trabalham com a cultura do milho, a partir da safra de 2000/2001, foram levantadas as cultivares e suas características. Esses dados foram inicialmente obtidos em materiais de divulgação e promoção das empresas do ramo e em outras fontes disponíveis, como a ABRASEM e o Zoneamento Agrícola do Ministério da Agricultura. Nas últimas safras as informações têm sido obtidas diretamente de cerca de 25 firmas produtoras de sementes de milho.
    As cultivares de milho podem ser subdvididas em dois tipos princincipais: híbridos e variedades, sendo que os híbridos podem ser simples, triplos ou duplos. O híbrido simples é o resultado do cruzamento entre duas linhagens puras e é indicado para sistemas de produção que utilizam alta tecnologia, pois possui o maior potencial produtivo. São também os mais caros. O híbrido triplo é obtido a partir do cruzamento entre uma linha pura e um híbrido simples e é indicado para média a alta tecnologia, enquanto o híbrido duplo é o resultado do cruzamento entre dois híbridos simples, sendo indicado para média tecnologia.
    Existem ainda no mercado os híbridos simples modificados (HSm) e os híbridos triplos modificados (HTm). Para obtenção de um HSm, é utilizado como progenitor feminino um híbrido entre duas linhagens irmãs e, como progenitor masculino, uma outra linhagem não aparentada. No caso do HTm, o parental feminino é um híbrido simples e híbridos triplos modificados – HTm (o híbrido triplo pode também ser obtido sob forma de híbrido modificado, em que a terceira linhagem é substituída por um híbrido formado por duas linhagens afins). Outros tipos de híbridos encontrados no mercado, mas em menor proporção, são os híbridos intervarietais (HIV), que são o resultado do cruzamento entre duas variedades, e os híbridos Top-crosses, que são produzidos pelo cruzamento de uma linhagem com uma variedade.
    Os híbridos só têm alto vigor e produtividade na primeira geração (F1), sendo necessária a aquisição de sementes híbridas todos os anos. Se os grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a uma segunda geração (F2), haverá redução, dependendo do tipo do híbrido, de 15 a 40% na produtividade, perda de vigor e grande variação entre plantas.
    Uma variedade de milho é um conjunto de plantas que apresentam certa variabilidade, mas com características genéticas comuns. Quando se considera a população, esse tipo de material é geneticamente estável e, por essa razão, com os devidos cuidados em sua multiplicação, as sementes podem ser reutilizadas por várias gerações em sucessivas safras, sem nenhuma perda de seu potencial produtivo.
    As sementes das variedades melhoradas são de menor custo e de grande utilidade em regiões onde a utilização de milho híbrido torna-se inviável devido às condições econômico-sociais e de baixa tecnologia. As variedades são também muito importantes em sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos.  Embora estes sistemas de produção não restrinjam o uso de híbridos, a adoção de variedades permite ao produtor produzir sua própria semente a um preço bem menor e com menor utilização de recursos externos.
    Na Figura 1, são apresentadas as distribuições percentuais dos diferentes tipos de cultivares nas últimas safras. A maioria das empresas produz apenas híbridos, sendo que algumas produzem apenas híbridos triplos e simples. As variedades são produzidas principalmente por empresas públicas e por empresas licenciadas a partir de cultivares obtidas por programas públicos de pesquisa. Nos últimos anos, tem-se verificado um crescente aumento da disponibilidade de híbridos simples no mercado, sendo que na safra 2010/11 esse tipo de cultivar já representa mais de 48,75% das sementes disponíveis. Os híbridos triplos e simples somados representam 70,91% do mercado. Deve ser enfatizado que a cultura do milho no Brasil apresenta uma taxa de utilização de sementes de 85% (ANUARIO ABRASEM, 2006).

    Com relação ao ciclo, há uma predominância do ciclo precoce (67,95%). As cultivares superprecoces representam 21,55% das opções de mercado enquanto as cultivares semiprecoces (7,46%) e normais (3,04) são minorias. Tanto para variedades como, principalmente, para os híbridos há predominância do ciclo precoce.

    Cultivares Transgênicas

    Na safra atual, novos eventos transgênicos foram liberados oficialmente e, como consequência, resultaram em 136 versões transgênicas.

    Nesta safra (2010/11), 19 cultivares de milho transgênico deixaram de ser comercializadas (14 híbridos simples e 5 híbridos triplos) e 51 novas versões transgênicas foram acrescentadas ao mercado (40 híbridos simples, 4 híbridos simples modificados e 7 híbridos triplos). Estes dados demonstram a grande dinâmica no mercado de sementes de milho no Brasil, mesmo entre as cultivares geneticamente modificadas.
    As cultivares transgênicas encontradas atualmente no mercado são resultantes de cinco eventos transgênicos para o controle de lagartas: 50cultivares contêm o evento MON 810 - marca registrada YieldGard; 41 apresentam o evento TC 1507 - marca Herculex I;  17 apresentam o Agrisure TL – conhecido como Bt11; 4 apresentam o evento  MON 89034 e 2 apresentam o evento MIR162.
    Existem, no mercado, dois eventos  transgênicos que conferem resistência ao herbicida glifosato aplicado em pós-emergência: o evento NK603 Milho Roundup Ready 2 e o evento GA21. Treze cultivares transgênicas apresentam o evento NK603, mas o evento GA 21 só aparece associado ao evento Agrisure TL,  conhecido como Bt11, em uma cultivar.
    Podem ser encontradas oito cultivares transgênicas resistentes a insetos da ordem lepidóptera e tolerantes ao herbicida glifosato, sendo que quatro apresentam os eventos Milho TC1507 x NK603 e quatro apresentam os eventos Milho MON810 x NK603. 
    Embora as cultivares transgênicas que apresentam resistência ao herbicida glifosato tenham sido registradas no Zoneamento Agrícola de Risco Climático, aparentemente elas ainda não foram comercializadas no Brasil, uma vez que ainda não há registro do glifosato para sua aplicação em pós-emergência. Para se beneficiar das vantagens do plantio de milho transgênico com resistência ao herbicida glifosato, é necessário que haja no mercado algum herbicida à base de glifosato para a aplicação na pós-emergência do milho com registro no Brasil.  
    Como uma mesma cultivar convencional pode ser comercializada com mais de uma versão transgênica, 80 cultivares convencionais (18 híbridos triplos, 8 híbridos simples modificados e  54 híbridos simples) também são comercializadas na forma transgênica, havendo caso de uma mesma cultivar convencional apresentar até quatro versões transgênicas diferentes.
    Todas as versões transgênicas, exceto 13 cultivares, são também comercializadas na versão convencional e, obviamente, apresentam as mesmas características agronômicas, diferindo apenas na característica que lhe é conferida pelo evento transgênico.
    Na safra de verão (2009/10), cerca de 35% das sementes de milho comercializadas foram de cultivares com eventos transgênicos e na safrinha (2010) este percentual atingiu cerca de 42%. Em alguns dos principais estados produtores, as cultivares transgênicas ultrapassaram as convencionais já neste segundo ano de liberação comercial. Podem ser citados os estados de São Paulo e Bahia na safra de verão e São Paulo e Paraná, na safrinha.
    A maior concentração dos transgênicos no mercado de sementes de milho é verificada para híbridos simples. Em sua esmagadora maioria, as cultivares com eventos transgênicos eram deste tipo de cultivar, sendo que apenas uma quantidade reduzida de sementes de híbridos triplos foi comercializada, não se verificando a oferta nem de híbridos duplos nem de variedades transgênicas.
    Embora os híbridos simples ocupem uma parcela cada vez maior no mercado de sementes no Brasil, ainda existe um percentual grande de área plantada com híbridos duplos, triplos e com variedades, o que, de certa forma, estabelece um teto para a penetração dos transgênicos. Em âmbito nacional, os híbridos simples ocuparam, em 2010, cerca de 60% da área plantada com milho no verão e de aproximadamente 65% na safrinha. Entretanto, este percentual varia muito, mesmo entre os principais estados produtores. 
    No verão, o percentual da área plantada com híbridos simples foi de 95% na Bahia (região de Barreiras); 75% em Goiás; 74% em São Paulo; 71% no Paraná; 59% em Minas Gerais; 51% em Santa Catarina e 46% no Rio Grande do Sul. Na safrinha, os percentuais foram de 88% em Goiás; 70% no Paraná; 65% em São Paulo; 65% em Mato Grosso e 57% no Estado de Mato Grosso do Sul. Somente esta dispersão ilustra a forma como tal tecnologia poderá se disseminar entre os agricultores de diferentes regiões. 
    Caso a utilização de híbridos simples em determinadas regiões seja relativamente reduzida e se constitua um empecilho para o crescimento das cultivares com eventos transgênicos, a opção pela disponibilização de híbridos triplos transgênicos está aparentemente sendo exercitada pelas empresas. No verão, nos estados do RS e SC, onde os híbridos simples têm menor penetração, nota-se uma maior participação dos híbridos triplos no total dos transgênicos, atingindo um percentual de 12% (nos outros estados esta participação se situou abaixo dos 10%). Na safrinha, época de maior risco climático, de lavouras implantadas com menor investimento e de sementes geralmente mais baratas, este percentual dos triplos sobe para 30% em São Paulo; 26% em Mato Grosso do Sul e 15% nos estados do Paraná e de Mato Grosso. Isto pode indicar que a opção de incorporar eventos transgênicos em híbridos triplos existe e pode ser exercitada na medida em que o mercado dos híbridos simples seja ocupado, ou que seja necessário oferecer uma opção de menor custo.
    Uma forma de verificar esta situação é quantificar nos dados da APPS a percentagem de sementes de híbridos simples (como forma de homogeneizar o ambiente tecnológico em uso pelos agricultores) que apresentam eventos transgênicos, comercializadas em cada estado. No verão, o resultado também varia: 66% em São Paulo; 60% na Bahia (região de Barreiras) e Goiás; 56% em Minas Gerais; 50% no Paraná; e ao redor de 45% no RS e SC. Na safrinha, estes percentuais também variam: 74% em São Paulo e no Paraná; 32% em Goiás; 49% em Mato Grosso e 46% em Mato Grosso do Sul. 
    Nota-se que existe um diferencial entre agricultores de mesmo patamar tecnológico com relação ao uso dos transgênicos. Isto, inclusive, indica a conjunção de forças que atuam em diferentes sentidos, como no caso da safrinha no Centro-Oeste, onde as condições climáticas atuariam no sentido de justificar a adoção de cultivares transgênicas (pelas condições favoráveis para o desenvolvimento de pragas), ao mesmo tempo em que o menor potencial de produção das lavouras nesta época e a crise de preços do milho na região tornam o acréscimo do preço das sementes transgênicas em relação às convencionais menos interessante, em termos econômicos.

    Em resumo, três aspectos influenciarão o desenvolvimento futuro desta tecnologia no Brasil (e mesmo em diferentes regiões):
    a) o prejuízo potencial causado pelos insetos-praga passíveis de serem controlados com o uso de cultivares transgênicas (isto envolve o potencial de produção das lavouras e a intensidade normal de ataque das pragas na região);
    b) o preço do milho no mercado (que, combinado com o item (a), conduz ao prejuízo financeiro causado pelo ataque das pragas); e
    c) o diferencial de custo entre as cultivares transgênicas e convencionais (pode ser mais vantajoso adquirir uma semente de híbrido simples convencional com maior potencial de produção do que adquirir uma semente de híbrido triplo transgênico com o preço incrementado pelo diferencial do custo do evento transgênico). Este último aspecto está sob o controle das empresas licenciadoras dos eventos transgênicos e já se verificou, na safrinha, uma redução no diferencial de preços entre sementes convencionais e transgênicas dos híbridos triplos em relação ao cobrado no caso dos híbridos simples.

    As cultivares, convencionais e transgênicas, que estão no comércio na safra 2010/11 e suas principais características e recomendações, podem ser vistas nas Tabelas 1 e 2 do site http://www.cnpms.embrapa.br/milho/cultivares/index.php 

    A Tabela 1, encontrada no link acima, lista todas as cultivares e suas características agronômicas, especificando se ela é transgênica ou convencional; se é híbrida ou variedade; qual o seu ciclo, em termos de soma térmica, em ºC, da emergência ao florescimento masculino, ou em relação ao número de dias da emergência à maturação fisiológica; sendo fornecidas  informações sobre época e região de plantio mais indicadas para cada cultivar. 
    Algumas empresas especificam apenas o plantio de verão (V) ou safra normal (N) e a safrinha. Um maior número de empresas, entretanto, fornece maiores informações, separando o plantio cedo (C), normalmente em agosto e setembro; normal (N), em outubro e novembro; tardio (T), em dezembro e janeiro, e safrinha (S), principalmente, em fevereiro e março. 
    Quanto ao fim a que se destinam, além da produção de grãos (GRÃOS), o milho pode ser indicado para silagem da planta inteira (SPI), silagem de grãos úmidos (SGU) e/ou para a produção de milho verde (MV). Também são listadas cultivares de milho-pipoca, de milho-doce e uma cultivar de milho-ceroso, para a indústria de amido. 
    Com relação à cor do grão, verifica-se que há variação de branca e creme a avermelhada (AV), podendo também ser alaranjada (AL), amarelada (AM), amarela/alaranjada (AM/AL), amarela/laranja (AM/LR), alaranjada (AL), laranja (LR), laranja/avermelhada (LR/AV). Quanto à textura do grão, verifica-se uma predominância de grãos semiduros (SMDURO) e duros no mercado, atendendo à expectativa da indústria, que valoriza mais esses tipos. Os grãos semidentados (SMDENTADO) e os dentados são minoria e não são bem aceitos pela indústria. Grãos dentados são uma característica desejada e frequente em materiais para produção de milho-verde e silagem. A Tabela 2 fornece ainda informações sobre a resistência ao acamamento (alta: A; média: M; e baixa: B) e com relação ao nível tecnológico recomendado para cada cultivar, também divididos em alto (A), médio (M) e baixo (B) e suas variações, como por exemplo, médio a alta (M/A).

    Na Tabela 2 também podem ser encontradas informações sobre o comportamento das cultivares em relação às principais doenças, de acordo com os critérios: AT - Altamente tolerante; T - Tolerante; MT - Medianamente tolerante; BT - Baixa tolerância; AR - Altamente resistente, MR - Medianamente resistente; MS - Medianamente suceptível; S - Suceptível; AS - Altamente susceptível; SI - Sem informação.

    Escolha da semente

    O rendimento de uma lavoura de milho é resultado do potencial genético da cultivar, das condições edafoclimáticas da região e do manejo da lavoura. Consequentemente, a escolha correta da semente pode ser um dos principais fatores condicionantes do sucesso ou insucesso da lavoura. Aspectos relacionados às características da cultivar e do sistema de produção deverão ser levados em consideração, para que a lavoura se torne mais competitiva. 

    Os aspectos a serem considerados são os seguintes:
     (i) Adaptação às condições edafoclimáticas de cada região - atualmente o zoneamento agroclimático  indica  as cultivares recomendadas para cada estado, tanto no plantio da safra como na safrinha;
     (ii) Estabilidade e potencial de rendimento de grãos;
    (iii) Resistência ou tolerância às principais doenças que ocorrem na região;
    (iv) Nível de tecnologia  disponível para a cultivar a ser utilizada;
    (v) Ciclo adequado aos diferentes sistemas de produção;
    (vi) Aceitação comercial do tipo de grão pelo mercado consumidor, principalmente quanto  à cor e à textura do grão.


    A escolha de cada cultivar deve atender a necessidades específicas, pois não existe uma cultivar superior que consiga atender a todas as situações. Na escolha da cultivar, o produtor deve fazer uma avaliação completa das informações geradas pela pesquisa, assistência técnica, empresas produtoras de sementes, experiências regionais e pelo comportamento de safras passadas.

    Adaptação à região:

    De fato, um dos primeiros aspectos a serem considerados na escolha da semente é sua adaptação à região. Entretanto, esse aspecto é minimizado, pois normalmente as empresas de sementes já direcionam suas cultivares de acordo com as suas regiões de adaptação, das principais doenças que ocorrem na região, do sistema de produção predominante, das exigências do mercado e do perfil dos agricultores. O problema é quando o agricultor adquire sua semente em locais diferentes daquele onde será implantada a lavoura.

    Estabilidade e produtividade:

    O potencial produtivo de uma cultivar é um dos primeiros aspectos considerados pelos agricultores na compra de sua semente. Entretanto, a sua estabilidade de produção, que é determinada em função do seu comportamento em cultivos em diferentes locais e anos, também deverá ser considerada. Cultivares estáveis são aquelas que, ao longo dos anos e dentro de determinada área geográfica, têm menor oscilação de produção, respondendo à melhoria do ambiente (anos mais favoráveis) e não tendo grandes quedas de produção nos anos mais desfavoráveis. 

    Sementes de variedades melhoradas são de menor custo que sementes de híbridos e, com os devidos cuidados na multiplicação, podem ser reutilizadas por alguns anos, sem diminuição substancial da produtividade. As variedades são, ainda, de grande utilidade em regiões onde a utilização de sementes de milho híbrido torna-se inviável devido às condições econômico-sociais mais precárias e consequente uso de baixa tecnologia na cultura do milho. O preço de um saco de 20Kg de sementes de variedade varia de R$ 45,00 a R$ 55,00. No segmento da agricultura familiar e em sistemas de produção orgânica, as variedades são amplamente utilizadas e recomendadas.
    Os híbridos só têm alto vigor e produtividade na primeira geração (F1), sendo necessária a aquisição de sementes híbridas todos os anos. Se os grãos colhidos forem semeados, o que corresponde a uma segunda geração (F2), dependendo do tipo do híbrido haverá redução de 15 a 40% na produtividade, devido à perda de vigor e à grande variação entre plantas.
    Os híbridos simples são potencialmente mais produtivos que os outros tipos, apresentando maior uniformidade de plantas e espigas. São também os mais caros, custando, muitas vezes, acima de R$ 300,00 o saco de 60.000 sementes, normalmente suficiente para o plantio de um hectare. Os híbridos triplos são também bastante uniformes e seu potencial produtivo é intermediário entre os híbridos simples e duplos. O mesmo ocorre com o preço de suas sementes. Os híbridos duplos são um pouco mais variáveis em características de plantas e de espigas que os simples e triplos. O custo da semente dos duplos é mais baixo que o preço da semente dos simples e triplos.


    Resistência ou tolerância às principais doenças

    As doenças podem ocorrer de forma epidêmica, podendo atingir até 100% das plantas na lavoura. Em áreas de plantio direto, os problemas poderão ser agravados, principalmente com cercosporiose, helmintospirose e podridões do colmo e espigas. Atualmente, o problema com doenças é sério em algumas regiões do país, especialmente onde a cultura permanece no campo durante todo o ano, como em áreas irrigadas, ou onde o plantio de safrinha é significante. Nessas situações, é fundamental a escolha de cultivares tolerantes às principais doenças (Ver Tabela 2 do site http://www.cnpms.embrapa.br/milho/cultivares/index.php ), para evitar redução de produtividade. A sanidade dos grãos também deve merecer atenção na escolha da cultivar. Essa característica é função da quantidade de inóculo, da resistência genética da cultivar aos fungos que atacam o grão, sendo normalmente associada a um bom empalhamento, mas é também dependente das condições climáticas nos estágios de desenvolvimento e secagem dos grãos no campo. Baixa percentagem de espigas doentes e grãos ardidos são características que podem estar incorporadas ao insumo semente e representam valor agregado, pois melhor qualidade de grãos poderá significar maior preço no mercado.

    Ciclo:

    Com relação ao ciclo, as cultivares são classificadas em normais, semiprecoces, precoces e superprecoces. Algumas cultivares são classificadas, pela empresa produtora, como hiperprecoces. No mercado há ampla predominância de cultivares precoces (72,5%) que são as mais plantadas tanto na safra como na safrinha. Entretanto, em situações especiais, para escapar de estresses climáticos como geada, em plantios tardios de safrinha nos estados mais ao sul, ou em condições de período chuvoso reduzido, como em algumas regiões do Nordeste, e mesmo em sistemas de sucessão de culturas em agricultura irrigada, quando  há necessidade em liberar a área para o plantio de uma outra cultura, as cultivares hiperprecoces ou superprecoces que representam cerca de 24% do mercado, são utilizadas preferencialmente. Esta classificação quanto ao ciclo não é muito precisa. Provavelmente por esta razão, para efeito de zoneamento agrícola de riscos climáticos, houve uma grande mudança para a safra 2009/10. Para efeito de simulação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento classifica as cultivares em três grupos de características homogêneas: Grupo I (n < 110 dias); Grupo II (n maior ou igual a 110 dias e menor ou igual a 145 dias); e Grupo III (n >145 dias), onde nexpressa o número de dias da emergência à maturação fisiológica.

    Qualidade do colmo e raiz

    Com o aumento do nível tecnológico na cultura do milho, um dos fatores que deve ser considerado é a resistência da planta ao acamamento e ao quebramento. Embora essas características também sejam afetadas pelo manejo da lavoura, elas variam com a cultivar. Lavouras que serão colhidas mecanicamente deverão ser plantadas com cultivares que apresentam boa qualidade de colmo, evitando, dessa forma, perdas na colheita.

    Textura e coloração dos grãos:

    As cultivares de milho podem ser agrupadas de acordo com a textura do grão. Os milhos comuns podem apresentar grãos com as seguintes texturas: 1-dentado ou mole ("dent"); ou 2 - grão duro ou cristalino ("flint").

    Para milhos do tipo dentado (“dent”), os grãos de amido são densamente arranjados nas laterais dos grãos, formando um cilindro aberto que envolve parcialmente o embrião, enquanto na parte central os grãos de amido são menos densamente dispostos e farináceos. O grão é caracterizado pela depressão ou "dente" na sua parte superior, resultado da rápida secagem e contração do amido mole; 
    Para milhos do tipo duro ou cristalino ("flint"), os grãos apresentam reduzida proporção de endosperma amiláceo em seu interior, notando-se que a parte dura ou cristalina é a predominante e envolve por completo o embrião. A textura dura é devida ao denso arranjo dos grãos de amido com proteína. 
    Existem, ainda, os grãos semiduros (SMDURO) e os semidentados (SMDENTADO), que apresentam características intermediárias. 
    Os grãos mais duros apresentam a vantagem de boa armazenagem e qualidade de germinação. Milhos de grãos mais duros, preferidos pela indústria alimentícia, em algumas situações alcançam preço um pouco superior no mercado, enquanto os de grãos dentados não são aceitos ou comprados por um preço menor. No entanto, em materiais para produção de milho-verde e silagem, grãos dentados são uma característica desejada e frequente. 
    Verifica-se no mercado uma predominância de grãos semiduros (em torno de 54%) e duros (em torno de 28%). Materiais dentados são minoria (em torno de 5%) e geralmente são utilizados para a produção de milho-verde ou produção de silagem. 
    Com relação à cor do grãos, verifica-se uma   predominância  no mercado, de cultivares de grãos alaranjados (AL) ou laranja (LR), variando de cerca de 56% a 65%; grãos avermelhados (AV) e avermelhados/alaranjados (AV/AL), variando de 5,4% a 7,3%; e grãos amarelados (AM) e amarelados/alaranjados (AM/AL), variando de 26,8% a 35,4%.

    Além desses aspectos relatados acima, as cultivares também se diferenciam em outras características morfofisiológicas, como: arquitetura de planta, sincronismo de florescimento, empalhamento, decumbência (percentagem de dobramento de espigas após a maturação), tolerância a estresses de seca e temperatura, tolerância às pragas, tolerância ao alumínio tóxico e eficiência no uso de nutrientes. Todas estas outras características também devem ser consideradas na escolha da cultivar.

    Considerações gerais:

    Com todas essas considerações, conclui-se que a escolha da cultivar é uma tarefa complexa. O agricultor deverá levar em consideração todas as informações que conseguir junto às empresas produtoras de semente, assistência técnica e pesquisa, de forma a ajustar a semente escolhida ao seu sistema de produção, principalmente levando em consideração que todos os anos novas cultivares são lançadas no mercado.








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