sábado, 5 de setembro de 2020

Doenças da Mamona


Doenças

Mofo Cinzento

Agente causal: Botryotinia ricini (Godfrey) Whetzel [= Amphobotrys ricini (N.F. Buchw.) Hennebert]

Condições favoráveis: Ocorrência de temperaturas amenas (20°C-24 °C) e alta umidade (maior que 85%) durante o florescimento.

Sintomas e desenvolvimento da doença: O patógeno afeta principalmente as inflorescências da planta em qualquer estágio de seu desenvolvimento, causando, inicialmente, pequenas manchas de coloração cinza-azulada. Em condições climáticas favoráveis, o fungo se desenvolve abundantemente sobre as flores femininas e masculinas, antes da antese (abertura), ou em frutos em desenvolvimento. Partes da inflorescência afetadas pelo fungo podem se desprender e, quando em contato com outros órgãos da planta (folhas, pecíolos, raque), podem produzir novos pontos de infecção. O patógeno é facilmente disperso pelo vento, o que pode ser observado, pelo desprendimento de nuvens de esporos. O patógeno pode ainda ser disseminado por insetos e pela semente. Dependendo do estágio em que ocorre a doença, esta pode afetar o teor de óleo e a qualidade das sementes. No início da ocorrência da doença usualmente se observa a presença do patógeno em poucas inflorescências ou frutos; no entanto, se persistirem condições climáticas favoráveis, em poucos dias a doença pode afetar todas as plantas da lavoura.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 1. Sintomas iniciais do mofo cinzento.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 2. Inflorescência destruída pelo mofo cinzento.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 3. Sintomas do mofo cinzento nos frutos.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 4. Sintomas do mofo cinzento no pecíolo foliar.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 5. Sintomas do mofo cinzento na folha.

Manejo: Não existem cultivares resistentes a esta doença disponíveis no Brasil, assim como não existem fungicidas registrados para a cultura; contudo, estudos tem permitido concluir que procimidona e iprodiona são eficientes no controle do patógeno, desde que aplicados quando constatados os primeiros sintomas da doença. Ressalta-se, entretanto que, dependendo das condições climáticas, a relação custo/benefício não é vantajosa, devido à necessidade de aplicações sucessivas destes fungicidas. Dessa forma, a melhor estratégia disponível é o plantio em locais ou épocas desfavoráveis a ocorrência da doença, evitando que o florescimento coincida com a época chuvosa.

Podridão Negra do Caule

Agente causal: Macrophomina phaseolina (Tassi) Goid.

Condições favoráveis: Baixa umidade do solo associada a altas temperaturas provocam estresse na planta e favorecem a ocorrência da doença; assim como o cultivo sucessivo de plantas hospedeiras aumenta a quantidade de inoculo do patógeno no solo favorecendo a infecção.

Sintomas e desenvolvimento da doença: Os sintomas na parte aérea usualmente se confundem com aqueles da murcha de Fusarium e são caracterizados pelo amarelecimento das folhas e murcha da planta, podendo ou não haver escurecimento do caule. Na parte subterrânea, os sintomas são mais característicos, e pode ocorrer necrose parcial ou total da raiz e do colo da planta, com o desprendimento da camada cortical da raiz; com o decorrer do tempo, a podridão evolui da raiz em direção ao caule, tornando-se parcial ou totalmente enegrecida. Nesta fase, é mais fácil distinguir a podridão de Macrophomina da murcha de Fusarium, uma vez que pode ser observada, na parte interna do caule, a presença de pequenas estruturas negras arredondadas que correspondem aos microescleródios do fungo. O patógeno sobrevive por vários anos no solo e em restos de cultura e é capaz de infectar uma ampla gama de plantas, como por exemplo, feijão, girassol, gergelim, algodão, soja, entre outras.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 6. Planta de mamoneira com sintomas da podridão do caule causado por Macrophomina phaseolina.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 7. Detalhe do caule de uma planta infectada por M. phaseolina onde é possível observar a presença dos microescleródios do fungo.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 8. Detalhe interno do caule de uma planta de mamoneira em estágio avançado da infecção por M. phaseolina (note a densa presença de pontuações negras que correspondem aos microescleródios do fungo).

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 9. Plantas de mamoneira apresentando sintomas da podridão negra causada por M. phaseolina onde é evidente o enegrecimento do sistema radicular e da região do colo da planta.

Manejo: Não existem informações sobre variedades resistentes a esta doença no Brasil. O tratamento químico das sementes pode retardar o desenvolvimento da doença, mas não protege a planta durante todo o ciclo da cultura. A melhor estratégia para controlar a doença é o plantio em locais livres do patógeno, além de um manejo adequado da irrigação, eliminação dos restos culturais, e a rotação de culturas com espécies não hospedeiras, principalmente gramíneas, exceto milho, que também é hospedeiro do patógeno. Por se tratar de um patógeno que sobrevive no solo não se recomenda o controle químico das plantas infectadas.

Murcha de Fusarium

Agente causal: Fusarium oxysporum f.sp. ricini (Wollenw.) L.W. Gordon.

Condições favoráveis: Solos de textura leve (arenosos) e temperaturas amenas (22°C-26 °C) associadas à presença de nematóides, que causam ferimentos nos tecidos radiculares da planta, são fatores preponderantes para o estabelecimento do patógeno. Temperaturas mais elevadas podem favorecer a expressão dos sintomas.

Sintomas e desenvolvimento da doença: Os sintomas iniciais da doença são caracterizados pela perda de turgescência, amarelecimento e queda das folhas mais velhas; com a evolução dos sintomas, é possível observar o amarelecimento generalizado da planta, levando à morte parcial de ramos ou de toda planta. À medida que a doença progride, pode haver enegrecimento externo do caule, o que muitas vezes é confundido com sintomas da podridão negra causada por M. phaseolina. Nesta fase, para se distinguir a murcha de Fusarium da podridão negra é necessário observar o caule internamente. No caso da murcha de Fusarium, ocorre o escurecimento dos vasos condutores da planta podendo ser observada também a presença de micélio esbranquiçado no interior dos entrenós, diferentemente da podridão negra, onde se observa, internamente, a presença de pontuações negras arredondadas, que são as estruturas de resistência (microescleródios) de M. phaseolina. O patógeno sobrevive por vários anos no solo e em restos de cultura, sua dispersão ocorre principalmente pelo transporte de partículas de solo contaminado, pela movimentação de máquinas no campo de cultivo, e por meio de sementes contaminadas.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 10. Planta de mamoneira com sintomas da murcha de Fusarium.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 11.  Planta de mamoneira com sintomas avançados da murcha de Fusarium (escurecimento externo do caule e morte de ramos laterais). 

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 12. Corte transversal do caule evidenciando o escurecimento dos vasos condutores da planta, devido a infecção por Fusarium oxysporum f.sp. ricini.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 13. Caule de mamoneira sem casca, evidenciando o escurecimento dos tecidos internos, devido a infecção por Fusarium oxysporum f.sp. ricini.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 14. Secção interna do caule de uma planta de mamoneira em estágio avançado de infecção por Fusarium oxysporum f.sp. ricini, evidenciando a presença do micélio do fungo em seu interior.

Manejo: Cultivares com níveis elevados de resistência ainda não estão disponíveis comercialmente no Brasil. Recomenda-se o tratamento químico das sementes, de forma a eliminar o patógeno associado às mesmas ou visando retardar a infecção após a semeadura; é aconselhável também a prática da rotação de culturas e a eliminação dos restos culturais, visando à redução da densidade de inoculo do patógeno no solo. Por se tratar de um patógeno que sobrevive no solo não se recomenda o controle químico das plantas infectadas.

Mancha de Alternaria

Agente causal: Alternaria ricini (Yoshii) Hansf.

Condições favoráveis: Temperaturas amenas (22°C-26 °C) e alta umidade relativa (maior que 80%).

Sintomas e desenvolvimento da doença: No Brasil a mancha de Alternaria causa problema principalmente na fase de inicial do cultivo, provocando a morte prematura dos cotilédones, e retardando assim o estabelecimento da cultura. Nesta fase, são observadas manchas irregulares de coloração marrom e má formação dos cotilédones. Na planta adulta as manchas são geralmente circulares a elípticas, de coloração marrom, inicialmente isoladas, as quais, à medida que envelhecem, podem coalescer  e afetar grande parte do limbo foliar. Em ataques severos pode haver queda prematura das folhas. O fungo pode também afetar os frutos, provocando lesões marrom-escuras deprimidas e eventualmente o chochamento dos mesmos.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 15. Sintomas da mancha de Alternaria em folha cotiledonar de mamoneira.

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 16. Sintomas da mancha de Alternaria em folhas de mamoneira.

Manejo: Não existem informações sobre cultivares resistentes a esta doença no Brasil. Recomenda-se o tratamento químico de sementes para reduzir a ocorrência da doença nos estágios iniciais do desenvolvimento da planta Pulverizações da parte área também podem ser realizadas, ressalta-se, entretanto, que não existem produtos registrados para o controle desta doença na mamoneira.

Mancha Bacteriana

Agente causal: Xanthomonas axonopodis pv. ricini (Yoshii & Takimoto 1928) Vauterin, Hoste, Kersters & Swings 1995

Condições favoráveis: Chuvas e ventos, alta temperatura (26°C-30 °C) e alta umidade relativa (maior que 85%).

Sintomas e desenvolvimento da doença: A doença ocorre principalmente nas folhas, onde são observadas inicialmente pequenas manchas circulares de coloração escura com um halo aquoso. À medida que os sintomas evoluem, as manchas geralmente adquirem um formato irregular, sendo muitas vezes delimitadas pelas nervuras, principalmente na face abaxial das folhas. Com o coalescimento das lesões, grandes áreas do limbo foliar podem ser afetadas. Dependendo das condições climáticas, o halo aquoso pode ser mais ou menos pronunciado, o que pode facilitar o diagnóstico da doença. A dispersão do patógeno ocorre principalmente por meio de respingos de água (chuva ou irrigação).

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 17. Sintomas da mancha bacteriana causada por X. axonopodis pv. ricini.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 18. Sintomas da mancha bacteriana, evidenciando a presença do halo “encharcado” (anasarca).

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 19. Sintomas da mancha bacteriana, evidenciando a delimitação das lesões pelas nervuras (manchas-angulares).

Manejo: Não existem cultivares resistentes a esta doença disponíveis no Brasil. Recomenda-se  a utilização de sementes sadias provenientes de campos isentos da doença e o plantio em locais desfavoráveis ao seu desenvolvimento.

Mancha de Cercospora

Agente causal: Cercospora ricinella Sacc. & Berl.

Condições favoráveis: Temperaturas amenas (22°C-26 °C) e períodos de alta umidade relativa (superior a 80%) alternados com períodos mais secos.

Sintomas e desenvolvimento da doença: A doença caracteriza-se por pequenas manchas deprimidas, circulares a elípticas, com centro esbranquiçado e margens marrom escuras. À medida que os sintomas evoluem, as manchas tornam-se maiores e eventualmente coalescem. As folhas mais velhas são afetadas com mais frequência; no caso de infecções severas, pode ocorrer desfolha da planta.

Fotos: Dartanhã José Soares
Figura 20. Sintomas da mancha de Cercospora em diferentes níveis de severidade.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 21. Detalhe dos sintomas da mancha de Cercospora, evidenciando as lesões com centro esbranquiçado e margens marrom-escuras.

Manejo: Não existem informações sobre variedades resistentes a esta doença no Brasil, assim como não existem fungicidas registrados para a cultura. Recomenda-se evitar o plantio de cultivares que tenham apresentado níveis elevados da doença, em plantios anteriores, e propiciar uma adubação equilibrada às plantas.

Murcha Bacteriana

Agente causal: Ralstonia solanacearum (Smith 1896) Yabuuchi, Kosako, Yano, Hotta & Nishiuchi 1996.

Condições favoráveis: Solos de textura leve e temperaturas elevadas (26°C-32 °C).

Sintomas e desenvolvimento da doença: Um dos primeiros sintomas da doença é caracterizado pela murcha da planta nas horas mais quentes do dia, o que pode ser facilmente confundido com deficiência hídrica. À medida que os sintomas evoluem, observa-se a murcha permanente, associada com a queima e queda prematura de folhas, o que pode culminar com a morte da planta. Diferentemente da murcha de Fusarium, a murcha bacteriana não causa escurecimento dos vasos condutores, sendo facilmente diagnosticada por meio de um corte no caule, onde se observa exsudação (escorrimento) do pus bacteriano.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 22. Planta de mamoneira com sintomas iniciais da murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 23. Planta de mamoneira com sintomas avançados da murcha bacteriana causada por Ralstonia solanacearum.

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 24. Corte longitudinal em caule de planta de mamoneira, evidenciando a exsudação do pus bacteriano (setas).

Foto: Dartanhã José Soares
Figura 25. Teste diagnóstico (teste do copo) da murcha bacteriana onde se observa a exsudação do pus bacteriano (seta).

Manejo: Recomendas-se evitar o plantio em áreas com o histórico da doença, usar material propagativo sadio, fazer rotação com culturas não hospedeiras, principalmente gramíneas, e realizar um manejo adequado da irrigação evitando o escorrimento superficial da água.




sábado, 22 de agosto de 2020

Plantas Daninhas na Cultura da Mamona


Plantas daninhas

Planta daninha pode ser definida como toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada (SHAW, 1982). Para qualquer cultivo agrícola o termo interferência de plantas daninhas refere-se ao conjunto de ações que recebe uma determinada cultura em decorrência da presença da comunidade infestante.

Os efeitos negativos observados no crescimento, desenvolvimento e produtividade de uma cultura, não devem ser atribuídos exclusivamente à competição, mas a um conjunto de pressões ambientais que estão direta ou indiretamente ligadas à presença das plantas daninhas no ambiente agrícola (Pitelli, 1985). De acordo com Pitelli; Pitelli (2008), os mecanismos de interferência podem ser divididos em diretos, dos quais se destacam competição, alelopatia e depreciação da qualidade do produto; e indiretos, com relevância para patógenos ou pragas hospedados por plantas daninhas, e os possíveis efeitos prejudiciais às práticas agrícolas.

A mamoneira é muito sensível à interferência das plantas daninhas, principalmente por causa do crescimento inicial lento da cultura. Em termos de produtividade, a redução pode ser maior que 80% em razão da presença da infestação (AZEVEDO et al., 2007). Na Figura 1, é exemplificada uma situação em área experimental do Semiárido (Sousa-PB), na qual o cultivo da oleaginosa sem controle algum de plantas daninhas resultou em 95% de redução da produtividade, em relação ao controle durante todo seu ciclo realizado por meio de capinas.

Fotos: Augusto Guerreiro Fontoura Costa
Figura 1. Cultivo de mamoneira sem (A) e com (B) controle de plantas daninhas no Semiárido no Município de Sousa/PB.

Outro aspecto a ser considerado quanto à elevada sensibilidade da cultura à mato-interferência, refere-se aos largos espaçamentos entre linhas de semeadura e à baixa densidade entre plantas no estande, comumente utilizados, que resultam em menores populações de plantas e, consequentemente, aumento do número de dias para o fechamento da cultura. Esse fato, muitas vezes associado ao baixo nível tecnológico empregado na lavoura, tende a favorecer ainda mais as plantas daninhas na ocupação da área e competição pelos recursos disponíveis. Durante o período que ocorre essa interferência sobre a cultura (período crítico de prevenção à interferência, conhecido como PCPI), o controle deverá ser efetivamente realizado para evitar a presença das plantas daninhas. Esse período pode variar de acordo com diversidade das espécies e densidade da comunidade infestante, condições ambientais e do próprio sistema de cultivo.

Em trabalhos realizados no Brasil, pode se verificar que o PCPI pode ser mais longo, ocorrendo dos 14 aos 84 dias após a emergência (DAE) para mamoneira de porte médio semeada em espaçamento de 2m x 1 m (entre linhas x plantas, respectivamente), conforme constatado nas condições do Semiárido nordestino por Azevedo et al. (2006); ou  mais curto, quando se utiliza cultivares de porte baixo e espaçamentos menores (0,5m x 1,0 m e 0,5m x 0,5 m), conforme informações mencionadas por Maciel et al. (2004; 2006a; 2007); Tropaldi et al. (2011), que verificaram ocorrência do PCPI entre 3 e 42 DAE, em estudos realizados no Sudeste e Centro-Oeste (Paraguaçu Paulista/SP, Garça/SP e Cassilândia/MS).

Para evitar a interferência das plantas daninhas na cultura da mamoneira, o manejo das plantas infestantes deve se basear na integração de estratégias preventivas e de controle. A seguir serão abordadas as principais técnicas que podem ser utilizadas.

Prevenção
A prevenção tem por objetivo evitar que sementes e outras estruturas de propagação das plantas daninhas sejam transportadas para área de cultivo. Medidas importantes são: a limpeza de máquinas e equipamentos; uso de insumos mais seguros quanto à ausência de propágulos, como sementes certificadas e esterco curtido; controle de plantas infestantes nos arredores da área e evitar a entrada de animais na mesma.

Métodos de controle
os métodos de controle para o manejo de plantas daninhas em mamoneira devem ser considerados como estratégias adaptadas às condições locais de infraestrutura, a disponibilidade de mão de obra, implementos e custos envolvidos. A seguir são apresentadas informações a respeito dos principais métodos de controle de plantas infestantes e a possibilidade de utilização na cultura da mamoneira.

Controle cultural
O controle cultural envolve ações adequadas de manejo que reduzam a incidência das plantas daninhas e/ou favoreçam a capacidade da cultura em se estabelecer e desenvolver. Portanto, o controle pode ser resultado da adequação de práticas como o preparo do solo e fertilização do solo, seleção da cultivar, uso de sementes certificadas, rotação de culturas, estande de plantas, uso de cobertura morta, sucessão e consórcio, entre outros.

Quando se realiza o preparo do solo, o mesmo representa uma alternativa de método de controle. O preparo primário geralmente é realizado em maior profundidade com arados ou grades aradoras, e o secundário, de forma mais superficial, com grades niveladoras. Nesse processo as sementes e demais propágulos de plantas daninhas podem ser incorporados a maiores profundidades e/ou destruídos junto com os demais restos culturais, dificultando ou impedindo sua germinação, brotação ou emergência. A prática deve ser realizada com critério técnico, caso contrário pode levar a degradação física, química e biológica do solo.

Foto: Cleber Daniel de Góes Maciel
Figura 2. Solo preparado para semeadura da mamoneira. Nas laterais encontra-se ilustrado o controle das plantas daninhas onde efetuaram-se as operações de aração, calagem e gradagem, ao contrário do centro onde não foi efetuado gradagem final para incorporação do calcário, juntamente com as plantas daninhas remanescentes.

A seleção de cultivar adaptada e recomendada para o ambiente e sistema de cultivo é fundamental para maior capacidade competitiva da cultura com as plantas daninhas. As características genéticas adequadas ao maior desenvolvimento nas condições de solo e clima da região contribuem para o estabelecimento, desenvolvimento e fechamento da cultura a partir do favorecimento da captação dos recursos disponibilizados no agroecossistema. Sendo assim, a adequada escolha da cultivar, devidamente registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), deve seguir as recomendações para o cultivo da mesma, como adubação, espaçamento, densidade de plantas, época de semeadura, conforme zoneamento agroecológico, e demais tratos culturais para o pleno desenvolvimento da mamoneira.

Populações ou arranjos de plantas que favoreçam a ocupação mais rápida da área de cultivo tendem a aumentar as vantagens competitivas da mamoneira. O espaçamento entre linhas e a densidade de semeadura são fatores fundamentais para capacidade competitiva da cultura, por determinar a precocidade e intensidade do sombreamento do solo (PITELLI; PITELLI, 2008), resultando em efeitos negativos sobre a germinação, emergência e desenvolvimento das plantas daninhas.

Utilizar arranjos de plantas adequados que permitam maiores populações pode contribuir para redução do nível e o período de interferência das plantas daninhas na mamoneira. Esse tipo de constatação pôde ser observada em trabalho realizado por Maciel et al (2006a), pois ao diminuírem o espaçamento entre plantas de 1,0 para 0,5 m, verificaram a redução do PCPI de 9 aos 35 DAE para 3 aos 25 DAE, respectivamente. Portanto, dentre os fatores que afetam o PCPI, a combinação das características de crescimento das cultivares de mamoneira associadas a maiores populações tendem a reduzir o período de interferência de plantas daninhas, especialmente se o tempo necessário para o fechamento das entre linhas e o ciclo da cultura forem menores. De maneira geral, isso acontece com os materiais genéticos (cultivares ou híbridos) mais modernos.

Fotos: Augusto Guerreiro Fontoura Costa
Figura 3. Efeito da população de plantas de mamoneira no fechamento da cultura.

Foto: Cleber D. de G. Maciel
Figura 4. Cultura da mamoneira semeada em espaçamento de 1,0m x 0,5 m.

Em relação à utilização de cobertura morta como método de controle cultural, a mesma pode reduzir a infestação de plantas daninhas pelos efeitos de diminuição da alternância na temperatura do solo; menor disponibilidade de luz; barreira física e liberação de substâncias alelopáticas.

O sistema de semeadura direta na palha, apesar de ainda não ser uma realidade para a mamoneira, tem grande potencial de ser adaptado aos sistemas de produção dessa oleaginosa, principalmente se a mesma for cultivada na chamada “segunda safra” ou “safrinha”. Nesse sistema, a dessecação do cultivo ou vegetação anterior, bem como a premissa de não movimentar o solo permite obter resíduos vegetais (palhada) sobre a superfície do solo. De acordo com Maciel (2006), a adoção desse sistema de produção para cultura da mamona permitiria maior flexibilidade na época de semeadura, possibilitando que a mesma seja semeada logo após a dessecação ou em até vários dias após o manejo da cobertura vegetal antecessora.

Foto: Cleber D. de G. Maciel
Figura 5. Cultura da mamona de porte baixo implantada em sistema de semeadura direta na palha de Brachiaria ruzizienses na região de Paranavaí/PR.

A rotação de culturas é outra prática agrícola que se enquadra como método cultural de controle de plantas daninhas. Entre outros benefícios para o agroecossistema, permite reduzir a incidência de infestação, especialmente no que se refere à atividade do banco de sementes, uma vez que possibilita alternância dos métodos de controle que são utilizados pelas culturas anteriores, principalmente relacionados aos aspectos de herbicidas. Além disso, o controle mecânico e o próprio efeito cultural das culturas antecessoras ou dos sistemas de produção podem exercer papel importante na dinâmica da comunidade de plantas daninhas. Para o cultivo da mamoneira a rotação de culturas é uma alternativa bastante interessante, a qual pode beneficiar tanto o pequeno como o grande produtor em relação aos aspectos agronômicos.

O consórcio de culturas agrícolas, prática utilizada principalmente em pequenas propriedades para produção de alimentos, pode contribuir para a redução da comunidade de plantas daninhas pelo simples motivo da maior ocupação da área. Essa prática contribui para que a mamoneira e as culturas cultivadas na entrelinha, como por exemplo, o feijão caupi (Figura 6), tenham vantagens competitivas em relação às plantas daninhas. Entretanto, a decisão da utilização do consórcio por parte do produtor também deve levar em consideração os aspectos relacionados ao aproveitamento da área e práticas culturais necessárias, bem como expectativas quanto à produtividade, diversificação de produtos, complementação alimentar e de renda.

Foto: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Figura 6. Cultivo de mamoneira consorciada com feijão-caupi.

Controle mecânico
Na cultura da mamoneira o controle mecânico é o principal método utilizado, especialmente nas pequenas áreas, podendo ser realizado principalmente com enxada (Figura 7) ou por cultivos mecânicos com equipamento tratorizado (Figura 8) ou de tração animal (Weiss, 1983; Deuber, 1997; Savy Filho, 2005; Beltrão et al., 2006a; Beltrão et al., 2006b; Azevedo et al., 2007).

As capinas com enxadas e/ou cultivadores, nas linhas e entrelinhas, resultam em controle em área total, sendo normalmente realizadas a partir dos estágios iniciais do desenvolvimento da cultura, evitando-se solos úmidos e, preferencialmente, dias quentes e secos (SILVA et al., 2007; CONSTANTIN, 2011). Para evitar danos às raízes a profundidade de corte da capina não deve ultrapassar 3 cm (YAROSLAVSKAYA, 1986; MELHORANÇA; STAUT, 2005; AZEVEDO et al., 2007).

Outra possibilidade também é a utilização de roçadeiras manuais ou motorizadas, principalmente na entrelinha, substituindo o cultivador quando as raízes da cultura estão mais desenvolvidas e os riscos de danos às mesmas aumentam.

Em geral, são necessárias de duas a quatro capinas ao longo do ciclo da cultura para um controle satisfatório das plantas daninhas, podendo variar de acordo com a condição local. Considerando-se a escassez de mão de obra e os custos envolvidos cada vez mais elevados para esse tipo de controle, o tamanho da área a ser plantada deve ser cuidadosamente avaliado no planejamento para implantação e condução da lavoura.

Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim
Figura 7. Controle mecânico com enxada.

Fotos: Cleber D. de G. Maciel
Figura 8. Controle mecânico com cultivadores tratorizados e possíveis danos físicos na cultura da mamona.

Controle químico
Apesar de existirem estudos que comprovam a seletividade e eficácia de herbicidas, atualmente não existem produtos registrados no Brasil para uso na cultura da mamoneira (BRASIL, 2013). Entretanto, a partir das pesquisas realizadas no Brasil (MACIEL et al., 2006bcd;  2007b; MACIEL et al., 2008; SOFIATTI et al., 2008; SILVA et al., 2010bc; MACIEL et al., 2011; SILVA, 2011, SOFIATTI et al., 2012) tem se verificado resultados positivos para o controle químico. Na Tabela 1 estão apresentados os principais herbicidas com maior viabilidade técnica para utilização na cultura da mamoneira, de acordo com as respectivas modalidades de aplicação.

Tabela 1.  Principais herbicidas que tem apresentado maior viabilidade técnica para uso em mamoneira a partir de pesquisas realizadas no Brasil.
Modalidade de aplicação
Herbicida
Dessecação
- glifosato isolado ou em mistura com carfentrazona-etílica ou 2,4-D*
Pré-plantio-incorporado
- trifluralina, pendimetalina.
Pré-emergência
- trifluralina, pendimetalina e clomazona.
Pós-emergência (área total)
- fluazifope-P-butílico, setoxidim, haloxifope-P-metílico, quizalofope-P-etílico, cletodim, propaquizafope, butroxidim, clorimurom-etílico e halossulfurom-metílico.
Pós-emergência (jato dirigido)
- paraquate em mistura com bentazona ou
diquate.
* Com intervalo mínimo de 6 dias entre a aplicação de 2,4-D e a semeadura da mamoneira.

Manejo integrado de plantas daninhas em mamoneira
Em geral, para diversos cultivos agrícolas, o manejo integrado de plantas daninhas tem contribuído para o controle mais efetivo e sustentável, portanto, sempre que possível deve ser utilizado. De acordo com Ronchi et al. (2010), essa integração visa à utilização conjunta de técnicas de controle para minimizar a interferência das plantas daninhas, mantendo suas populações em níveis abaixo de causarem danos econômicos, além de mitigar os efeitos negativos ao meio ambiente. Como não existem herbicidas registrados para a cultura da mamoneira para uso no Brasil (BRASIL, 2013), o manejo integrado de plantas daninhas deve envolver as técnicas de controle culturais e mecânicas, associadas sempre às medidas preventivas.





sábado, 1 de agosto de 2020

Cultivares de Mandioca


As cultivares de mandioca são classificadas em: 1) doces ou de “mesa”, também conhecidas como aipim, macaxeira ou mandioca mansa e normalmente utilizadas para consumo fresco humano e animal; e 2) amargas ou mandiocas bravas, geralmente usadas nas indústrias.

Para consumo humano,  as cultivares devem  apresentar menos de 50 ppm ou 50mg de ácido cianídrico (HCN) por quilograma de raízes frescas. O teor de HCN varia com a cultivar, com o ambiente e com a idade de colheita, que é um fator decisivo na escolha da cultivar de aipim. Outros caracteres de natureza qualitativa também são importantes,  tais como, o tempo de cozimento das raízes, que varia de acordo com a cultivar e com a idade de colheita. É comum variedades de aipim ou macaxeira passarem um determinado tempo de seu ciclo “sem cozinhar”, o que é um fator crítico para o mercado in natura. Outras características referentes à qualidade, tais como, ausência de fibras na massa cozida, resistência à deterioração pós-colheita, facilidade de descascamento das raízes, raízes curtas e bem conformadas são também importantes para o mercado consumidor de mandioca para mesa e devem ser consideradas na escolha da cultivar. Cultivares de mandioca para mesa em geral devem apresentar um ciclo mais curto para manter a qualidade do produto final. 

Como o ácido cianídrico das raízes é liberado durante o processamento, na indústria podem ser utilizadas tanto cultivares de mandioca mansas quanto bravas. A mandioca industrializada pode dar origem a inúmeros produtos e subprodutos, dentre os quais se destacam a farinha e a fécula, também chamada de amido, tapioca ou goma. Nesse caso, as cultivares devem apresentar alta produção e qualidade do amido e da farinha. Além disso, na maioria das regiões do Brasil é importante que as cultivares apresentem raízes com polpa, córtex e película de coloração branca, ausência de cintas nas raízes, película fina e raízes grossas e bem conformadas, o que facilita o descascamento e garante a qualidade do produto final.

A mandioca pode ser usada na alimentação de animais domésticos, como bovinos, aves e suínos. As raízes são fontes de carboidratos; a parte aérea, incluindo as manivas, fornecem carboidratos e proteínas, estas últimas concentradas nas folhas. Para a alimentação animal, o ideal é que as cultivares apresentem alta produtividade de raízes, de matéria seca e de parte aérea, com boa retenção foliar e altos teores de proteínas nas folhas. O teor de ácido cianídrico deve ser baixo, tanto nas folhas quanto nas raízes, para evitar intoxicação dos animais.

As cultivares de mandioca apresentam adaptação específica a determinadas regiões e dificilmente uma mesma cultivar se comporta de forma semelhante em todos os ecossistemas. Um dos motivos para isso é o grande número de pragas e doenças que afetam o cultivo, restritas a determinados ambientes. Isso justifica, em parte, a grande diversidade de cultivares utilizadas pelos agricultores de mandioca do Brasil.

Na maior parte da Região dos Tabuleiros Costeiros o clima é quente e úmido com distribuição de chuvas concentradas entre abril e agosto. Nessa região a cultura da mandioca é afetada por problemas fitossanitários, destacando-se a podridão radicular e bacteriose (no Espírito Santo), ácaros, mosca-branca, mandarová e percevejo de renda (Pragas). Várias cultivares tem sido recomendadas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (Quadro 1). Além dessas cultivares, agricultores da região cultivam muitas outras, como Cigana Preta, Cidade Rica, Caravela, Aciolina, Urubu, Bujá, Tapicina e Rosa.

Na maior parte da Região dos Cerrados predomina o clima Aw, ou seja, quente e úmido com seis meses de inverno seco. Nessas condições os principais problemas que afetam a cultura da mandioca são a bacteriose (doença), os ácaros e o percevejo-de-renda (pragas). Algumas cultivares têm sido recomendadas para a região (Tabela 5). Além dessas cultivares, agricultores da região cultivam outras com bons resultados: Vassourinha, Gostosa, Amarelinha, Engana Ladrão, Sergipe, Manteiga, Mandioca Pão e Cacau (Minas Gerais); Fitinha, Amarelinha, Olho Junto, Espeto e Fécula Branca (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul); e Cacau, Vassourinha, Pão da China, Amarelinha, IAC 576-70, Canela de Urubu, Buritis, Americana, Japonezinha e Pioneira (Goiás e Distrito Federal).

Tabela 1. Rendimento médio de raízes e características qualitativas e morfológicas de cultivares de mandioca recomendadas para a região dos Tabuleiros Costeiros, pela Embrapa Mandioca e Fruticultura.
Cultivares
Rendimento médio de raiz (t/ha)
Teor de amido (%)
Resistência à doença
Cor da    película
Cor da casca
Cor da polpa
Para mesa
Saracura
45,8
30,9
-
Marrom escuro
Rósea
Branca
Maragogipe
33,0
29,2
-
Marrom claro
Branca
Branca
Casca Roxa
29,1
30,4
-
Marrom escuro
Rósea
Branca
Manteiga
24,2
31,1
-
Marrom escuro
Roxa
Creme
Paraguai
15,2
24,4
-
Marrom escuro
Creme
Branca
Aipim Brasil
15,0
30,0
-
Branca
-
Branca
Para indústria
Jussara
26,7
25,0
-
Creme
Branca
Branca
Valença
35,1
32,0
-
Marrom Claro
Branca
Branca
Caetité
30,0
33,0
-
Marrom escuro
Creme
Branca
Catulina
34,5
30,0
-
Creme
Branca
Branca
Bibiana
25,3
26,0
Podridão
Marrom claro
Rosa
Branca
Fonte: Embrapa Cerrados.






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