sábado, 6 de agosto de 2016

Secagem e Armazenamento do Milho



Secagem e Armazenamento

Introdução

O tipo de armazenamento ideal é função da necessidade de armazenar grão ou espiga de milho. Além disso, o nível tecnológico do armazenamento será estabelecido de acordo com o volume a ser armazenado e a disponibilidade de recursos para a construção e para os equipamentos que constituirão a unidade armazenadora.
Caso se queira armazenar grãos, estes podem ser armazenados a granel, em silos, ou a granel ou em sacarias, em armazéns. Caso se queira armazenar espigas, estas podem ser armazenadas em paiol ou ensacadas em armazém.
Hoje em dia, em geral, o armazenamento é de grãos, porém o milho produzido em pequenas propriedades, com reduzidos níveis tecnológicos, ainda podem ser armazenados em espigas.
A qualidade do milho armazenado, bem como as perdas na colheita e pós-colheita, é dependente de vários fatores como cultivar, época de colheita, região de cultivo e da regulagem das máquinas colheitadeiras.


1. Fatores pré-colheita
1.1. Cultivar
1.2. Secagem natural no campo
1.3. Condições climáticas
1.4. Ponto de colheita
1.5. Tipo de colheita

2. Limpeza
3. Armazenamento a granel

3.1. Silo aéreo
3.2. Silo subterrâneo
3.3. Sistema hermético

4. Armazenamento em sacaria
5. Armazenamento de espigas

5.1. Paiol aberto
5.2. Paiol fechado
5.3. Armazém
6. Recomendações gerais

1. Fatores pré-colheita

São todos aqueles fatores que conferem características próprias ao milho e que irão determinar as respostas do produto ao manejo pós-colheita e sua qualidade final. Estima-se em 3%, o percentual de perdas que ocorrem no milho produzido no cerrado, abaixo da média nacional (4%), devido às condições climáticas da região.
1.1. Cultivar: As cultivares disponíveis para os agricultores se destinam a suprir alguma necessidade regional, como adaptabilidade a características de solo e clima, ciclo, tipo e cor de grão, resistência a doenças, adequação a colheita mecanizada ou composição nutricional, por exemplo. Desta forma, as diferenças entre as características dos produtos colhidos, refletidos em sua composição química, na resistência a danos mecânicos e ao ataque de pragas, influenciam a qualidade final do milho armazenado. Cultivares decumbentes, ou seja, cujas espigas se curvam para baixo quando ocorre a maturação fisiológica (32% de umidade) favorecem a qualidade pós-colheita devido a dificuldade de penetração de água de chuva, dentro da espiga, ainda no campo.
1.2. Secagem natural no campo: A secagem natural do grão de milho na planta ainda é um método corriqueiro em muitas propriedades brasileiras. A permanência do milho no campo traz o inconveniente de expô-lo a condições adversas de clima, ao ataque de pragas e maior susceptibilidade de trincamento na trilhagem.
1.3. Condições climáticas: As condições climáticas na época de produção e da colheita podem favorecer ou desfavorecer a qualidade final do milho. Caso as condições climáticas não difiram muito daquelas para a qual a cultivar foi desenvolvida a tendência é de que a qualidade física e sanitária do milho correspondam às expectativas baseadas nos testes de produção que foi submetido. Caso a umidade seja maior que a prevista, pode ocorrer maior incidência de doenças. Na região do cerrado, em geral não chove na época da colheita, favorecendo a qualidade pós-colheita do milho.
1.4. Ponto de colheita: O ponto de colheita se refere a características relacionadas ao momento ótimo para se colher o milho, de acordo com o tipo de armazenamento disponível ou finalidade a que se destina. O milho doce, por exemplo, é colhido com 72 a 75% de umidade, de 20 a 28 dias após o florescimento. Já o milho pipoca é colhido com 20% de umidade, quando se utiliza secagem artificial, após a colheita ou com 13 a 15%, quando se utiliza secagem natural. Outro caso, que será discutido com mais detalhes, é o caso do grão de milho que será seco em silo cheio, devendo ter, no máximo, 20% de umidade, pois o tempo de secagem é longo.
1.5. Tipo de colheita: A colheita manual promove menos danos à espiga, bem como a debulha manual. Estimam-se em 1,0 a 1,5% as perdas promovidas pela colheita manual. Entretanto, o rendimento da colheita é muito baixo, requerendo muita mão de obra e aumentando os custos. É mais apropriada para pequenas propriedades e terrenos muito declivosos. Na colheita mecanizada, a regulagem adequada das máquinas é importante para se reduzir as perdas quantitativas e qualitativas, ou seja, perda de grãos ou de massa de grãos, propriamente dita, e redução da qualidade por trincamento e quebra do grão, além da ocorrência de doenças. As perdas devido a colheita mecanizada são da ordem de 8 a 10%.

2. Limpeza

É a remoção de impureza, de restos culturais e de grãos tricados, quebrados ou ardidos do lote a ser armazenado. Deve se realizar previamente ao armazenamento, com ou sem secagem, para que se garanta a qualidade dos grãos normais e sadios, reduzindo umidade e minimizando contaminações, uniformizando a massa de grãos, para os processos de aeração e/ou secagem.

3. Armazenamento a granel

É a forma mais comum de se armazenar milho, atualmente, devido aos avanços tecnológicos disponíveis aos produtores, como colheitadeiras e estruturas de armazenamento/secagem de grãos. Apropriada para armazenamento de produções em maior escala. Pode ser feita em silos aéreo ou subterrâneo, e em armazéns em sistema hermético.
3.1. Silo: É o método mais seguro de armazenamento, permitindo maior controle da qualidade, devido a facilidade de associação com sistemas de secagem com ar forçado. Pode ser vertical ou horizontal, de acordo com a proporção altura:largura. O silo vertical possui proporção de 2:1, podendo ser de chapa metálica ou de concreto. O silo horizontal, ou graneleiro, possui altura baixa e base maior, não sendo vedados, dificultando a fumigação. No descarregamento dos grãos, o milho pode ser seco após o enchimento completo do silo (em lotes), ou em camadas. Quando se adota a secagem em lotes (silo cheio) a secagem é lenta e, portanto, a umidade do grão deve ser de, no máximo, 20%. Isto reduzirá o desenvolvimento de patógenos em pós-colheita. A secagem também pode se realizar em camadas, de forma a se realizar a secagem numa massa de grãos, interrompendo o enchimento do silo, até que esta camada esteja seca. Em seguida, é descarregada nova camada de grãos e realizada nova secagem. Isto se repetirá até que se atinja o limite de armazenagem do silo. Na secagem em camadas é recomendável adotar-se a aeração de manutenção nos grãos que aguardam a secagem. A secagem de ambos os processos poderá ser com ar natural, ou melhor, em temperatura ambiente, com o ventilador sendo ligado ao mesmo tempo em que se realiza o enchimento do silo. Ao se associar um aquecedor ao ventilador, realiza-se secagem com ar aquecido, acelerando esta etapa do processo, porém correndo-se o risco de secar o milho além do recomendado. A temperatura de secagem para grãos destinados a moagem não pode ultrapassar 55o C, e para os grãos destinados a fabricação de ração não deve ultrapassar 82o C, de modo a não comprometer a qualidade do produto a que se destina. A secagem com ar aquecido deve ser seguida de seca-aeração para se reduzir a temperatura da massa de grãos, ainda um pouco úmida, mais rapidamente. Durante o armazenamento, a massa de grãos tende a ter sua temperatura elevada naturalmente devido a liberação de calor proveniente do processo respiratório. Toda vez que exista um gradiente de temperatura superior a 5o C, entre a massa de grãos e a temperatura externa deve-se proceder aeração de resfriamento, no próprio silo de armazenagem, ou transilagem, que consiste na transferência da massa de grãos para outro silo.
3.2. Silo subterrâneo: O armazenamento em silo subterrâneo está em desuso. Apesar de viável tecnicamente e economicamente, a descarga é difícil, sendo sugerido que se construam vários pequenos silos para que sejam descarregados totalmente, a medida que for necessário. O silo consiste de uma vala escavada, revestida de lona plástica, firmada com barras de ferro na parte superior, para fixação. Por debaixo da lona plástica, no fundo do silo é recomendável a colocação de uma camada de palha do próprio milho, ou outra cultura. O milho então é descarregado, com umidade entre 12 e 13%, e coberto com a lona. Acima da lona coloca-se uma camada de solo, outra de palha e outra de solo, formando uma estrutura côncava para escorrimento de água de chuva e não empoçamento. Não se deve esquecer de construir canaletas para escoar água de chuva e evitar contato quando da abertura do silo ou penetração por alguma abertura acidental.
3.3. Sistema hermético em armazém ou depósito: consiste em se acondicionar grãos de milho, com 12% de umidade, em tambores metálicos (200L, por exemplo), vedando-o com parafina de modo a eliminar trocas gasosas e a entrada de umidade, ou em sacos plásticos, para 40kg de grãos. Os sacos plásticos cheios devem ser colocados dentro de outro saco que também deverá ser vedado. Assim, realiza-se a modificação da atmosfera pelo consumo de oxigênio pela massa de grãos e acúmulo de dióxido de carbono. Esta modificação torna o ambiente impróprio para o desenvolvimento de fungos (fungistático) e de insetos (inseticida). Os tambores ou os sacos devem ser previamente limpos e após seu enchimento devem ser colocados em ambiente coberto, fresco, sem incidência de raios solares e protegidos do ataque de ratos, pelas providências que se pode tomar em armazéns e que estão descritos no armazenamento em sacaria.

4. Armazenamento em sacaria

Em armazéns, o armazenamento é feito em sacaria, devendo atentar para algumas exigências da técnica para garantir a qualidade do milho. O milho deve estar com umidade entre 12,5 e 14%, e a sacaria deve ser suspensa do piso, sobre estrados, e mantida distante das paredes de forma que possa haver circulação de carrinhos hidráulicos ou de pessoas, para movimentação da carga e facilitar inspeções. As instalações devem possuir boa ventilação. O piso deve ser concretado, impermeabilizado e estar 30cm acima do nível do solo. Deve-se proceder o controle de ratos, com telas em todos os ralos, janelas e nos vãos entre a estrutura e os telhados. Além de consumir o milho em sua alimentação, os roedores podem transmitir doenças através da urina e dos pêlos. Os grãos contaminados são impróprios para o consumo humano e animal. O expurgo periódico dos lotes deve ser realizado sempre que se identificar alta incidência de traça e de caruncho. Os cuidados básicos para este tipo de armazenamento são a garantia da limpeza dos grãos antes de ensacá-los ( remoção de restos culturais, insetos, grãos quebrados ou ardidos), umidade adequada do grão, limpeza e desinfestação do armazém, eliminação de focos de ratos e de insetos, uso de sacaria limpa e empilhamento adequado, inspeções permanentes de modo a se efetuar eficaz controle de ratos e de pragas. O armazenamento em sacaria requer maior mão de obra e requer maiores espaços que os silos, além do custo da sacaria em si, como inconveniente. Porém, a detecção de poucos sacos contaminados, impede a inviabilização de lotes inteiros, pela facilidade de remoção e de inspeção.

5. Armazenamento de espigas

É um método mais empregado em pequenas propriedades, com baixo investimento tecnológico, requerendo muita atenção durante o período de armazenamento, devido às maiores perdas inerentes ao sistema. O bom empalhamento das espigas favorece a boa conservação, desfavorecendo o ataque de pragas. As características gerais para estruturas para o armazenamento de espigas são baixo custo e durabilidade (aproveitando materiais da propriedade), possuir barreiras contra a penetração de ratos mas que permita bom arejamento, facilidade para o controle de pragas e para o manejo da carga. É apropriado para a alimentação de animais na propriedade (grãos para suínos e aves, e sabugo e palha triturados para bovinos), ou mesmo, para estocagem seguida de comercialização. Permite ao agricultor colher o milho com umidade elevada (18%), ocorrendo continuação da secagem natural já no paiol. Em caso de colheita das espigas com umidade inferior a 16%, são mínimos os problemas com fungos, desde que o paiol possua boa ventilação. Pode ser feito em paióis abertos (espigas com palha), paióis fechados (espigas sem palha) ou em armazéns.
5.1. Paiol aberto: É apropriado para armazenamento de espigas com palha, colhidas com teor de umidade de 13-14%, uma vez que a palhada promove proteção adicional aos grãos, possibilitando que o produtor possa esperar melhor época para comercialização. Os materiais utilizados para construção deste tipo de estrutura são madeira, bambu, alvenaria, etc, e depende da maior ou menor facilidade de obtenção pelo armazenista. Com exceção dos paióis de alvenaria, os demais possuem frestas para circulação de ar e são construídos sobre colunas de 0,8 a 1,0m de altura do nível do solo. Independentemente do material utilizado para sua construção, tais colunas devem ser fixadas em sapatas de concreto. É fundamental a colocação de "chapéu chinês", nestas colunas para se evitar o acesso de ratos. As aberturas de acesso devem ser feitas acima do dispositivo anti-ratos e as escadas de acesso somente devem permanecer no local quando estiverem em uso. Deve-se construir o paiol longe de árvores ou de construções que permitam o acesso de roedores pelo seu telhado. Os paióis de alvenaria não necessitam de vão entre seu piso e o solo, e o dispositivo anti-ratos consiste de um beiral de alvenaria ou metálico, projetado 30cm além das paredes. A construção de paiol de alvenaria deve seguir algumas recomendações da construção de armazéns, com impermeabilização do piso, que deve estar a 30-40cm do nível do solo. Suas paredes podem ser de tijolos furados ou de tijolos maciços afastados de 2,0 a 3,0cm. Nas duas opções, o início de sua colocação deve ser a partir de 80cm do nível do solo. As portas e janelas devem ser, obviamente, acima do dispositivo anti-ratos. O bom empalhamento das espigas garante bom controle de pragas, superior até a tratamentos químicos, devendo-se classificar as espigas quanto ao empalhamento e armazená-las separadamente. As espigas com pior empalhamento podem requerer tratamentos periódicos.
5.2. Paiol fechado: Quando se deseja armazenar espigas sem palha, o paiol não deve ter aberturas permanentes. Deve-se construí-lo com duas aberturas teladas: uma em sua parte inferior e outra em sua parte superior, com tampas removíveis. Assim pode-se garantir circulação de ar e possibilitar tratamentos periódicos, para controle de pragas, garantindo maiores possibilidades de manutenção da qualidade do que paióis abertos. Nos dois tipos de paióis, é recomendável aproveitar a declividade natural do terreno para facilitar a operação de descarga.
5.3. Armazém: O armazenamento de espigas em armazéns deve ser separado do armazenamento de sacaria, devido a diferenças na susceptibilidade a infestação por insetos. Assim, se possível deve-se evitar ter os dois produtos em uma mesma estrutura.

6. Recomendações gerais

Todas as instalações e equipamentos citados devem ser limpos antes de novo carregamento, de modo a se eliminar focos de infestação e de contaminação. Deve se ter em mente que todo procedimento realizado no milho colhido não aumentará sua qualidade pós-colheita, mantendo, no máximo, a qualidade obtida durante o processo de produção no campo. Assim deve-se ter muito cuidado na escolha da cultivar, adequada às condições de cada região e às condições de armazenamento, aos tratos culturais e controle de pragas, época de colheita e adequada regulagem das máquinas utilizadas na colheita. Deve-se realizar registros de origem e das características de qualidade de cada lote individual, para que se garanta a rastreabilidade do milho, devido a ocorrências que possam ocorrer no destino final do produto.




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