terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sistema de Plantio Direto do Milho



Em termos de modernização da agricultura brasileira, a utilização do sistema de plantio direto é uma realidade inquestionável e a participação da cultura do milho em sistemas de rotação e sucessão (safrinha) de culturas para assegurar a sustentabilidade de sistemas de plantio direto, é fundamental. A área plantada no sistema plantio direto tem aumentado rapidamente, no Brasil, principalmente nos últimos anos. Estima-se que, hoje, o sistema de plantio direto cubra mais de 25 milhões de hectares, ou seja, cerca de 50% da área com culturas anuais no país. O sistema de plantio direto consolidou-se como uma tecnologia conservacionista, largamente aceita entre os agricultores, havendo sistemas adaptados a diferentes regiões e aos diferentes níveis tecnológicos, do grande ao pequeno agricultor que usa a tração animal. Requer cuidados na implantação, mas, depois de estabelecido, seus benefícios se estendem não apenas ao solo e, conseqüentemente, ao rendimento das culturas e à competitividade dos sistemas agropecuários, mas, também, devido à drástica redução da erosão, reduz o potencial de contaminação do meio ambiente e dá ao agricultor maior garantia de renda, pois a estabilidade da produção é ampliada, em comparação aos métodos tradicionais de manejo de solo. Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, pode-se afirmar que o plantio direto é uma ferramenta essencial para se alcançar a sustentabilidade dos sistemas agropecuários.
A cultura do milho tem a vantagem de deixar uma grande quantidade de restos culturais que, uma vez bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo. Desta forma, sua inclusão em um esquema de rotação é fundamental. A sustentabilidade de um sistema de produção não está apoiada apenas em aspectos de conservação e preservação ambiental, mas também nos aspectos econômicos e comerciais.




Rotação de culturas

A rotação envolvendo as culturas da soja e do milho merece especial atenção, devido às extensas áreas que essas duas culturas ocupam e ao efeito benéfico em ambas as culturas (Tabela 1). Nessa rotação, como se observa na tabela 1, o milho plantado após a soja produziu cerca de 9% mais e a soja plantada após o milho produziu 5 e 15% mais, quando comparados com os plantios contínuos.
Existem experimentos demostrando os efeitos benéficos do milho se estendendo até ao segundo ano da soja plantada após a rotação (Tabela 2). Neste exemplo, a soja produziu 20,3% mais no primeiro ano após o milho e 10,5% no segundo. Essa diferença foi atribuída, além da menor incidência de pragas e doenças, à maior quantidade de nutrientes deixados pela palha do milho, principalmente o potássio, no qual a soja é exigente. Na escolha de uma rotação de culturas, especial atenção deve ser dada às exigências nutricionais das espécies escolhidas e à sua capacidade de extrair nutrientes do solo, no que a soja e milho se complementam satisfatoriamente.

Tabela 1. Efeito da rotação soja milho sobre o rendimento destas culturas.
Rotação
Rendimento (kg ha -1 )
Milho após milho
9.680 (100%)
6.160 (100%)
Milho após soja
10.520 (109%)
6.732 (109%)



Soja após soja
3.258 (100%)
2.183 (100%)
Soja após milho
3.425 (105%)
2.517 (115%)
Fonte: Adaptado de Cruz (1982) e de Muzilli (1981), citado por Derpsch (1986).


Tabela 2. Rendimento de grãos de soja, em kg ha-1, no primeiro e segundo anos após milho, comparado ao rendimento da soja sem rotação, conduzidos em sistema de plantio direto.

Tratamentos
1987/88
1988/89
1989/90
1990/91
1991/92
1992/93
1993/94
Média

kg ha -1
1º ano após milho
1.838
3.366
3.980
1.883
4.456
4.691
2.746
3.280
2º ano após milho
1.499
3.234
3.730
1.716
4.340
3.979
2.589
3.012
Sem milho
1.440
3.180
3.724
1.136
3.663
3.565
2.378
2.727
Adaptado de Ruedell (1995).
Na implantação e na condução de um sistema eficiente de plantio direto, é indispensável que o esquema de rotação de culturas promova, na superfície do solo, a manutenção permanente de uma quantidade mínima de palhada, que nunca deverá ser inferior a 2,0 t ha-1 de matéria seca. Como segurança, recomenda-se que sejam adotados sistemas de rotação que produzam, em média, 6,0 t/ha/ano ou mais de matéria seca. A cultura do milho, de ampla adaptação a diferentes condições, tem ainda a vantagem de deixar uma grande quantidade de restos culturais, que, uma vez bem manejados, podem contribuir para reduzir a erosão e melhorar o solo.
No sul do Brasil, devido às condições climáticas mais favoráveis, há maiores opções de rotação de culturas, envolvendo tanto as culturas de verão como as de inverno. No Brasil Central, as condições climáticas, com quase total ausência de chuvas entre os meses de maio e agosto, dificultam a existência de cultivos de inverno, exceto em algumas áreas com microclima adequado ou com agricultura irrigada. Essa situação dificulta ou deixa poucas opções para o estabelecimento de culturas comerciais ou mesmo culturas de cobertura, isto é, culturas cuja finalidade principal é aumentar o aporte de restos culturais sobre a superfície do solo, exigindo que estas tenham características peculiares, como um rápido desenvolvimento inicial e maior tolerância à seca.


Culturas de cobertura

No início do sistema de plantio direto, é importante priorizar a cobertura e o perfil de fertilidade do solo, principalmente se as áreas apresentarem um certo grau de degradação. Durante o seu crescimento e desenvolvimento, as espécies de cobertura contribuem efetivamente para a proteção do solo, bem como para a manutenção de seus resíduos vegetais (palhada) na superfície do solo. A cobertura vegetal (viva ou morta) representa a essência do SPD, pois tem efeito na interceptação das gotas de chuva, evitando o impacto direto sobre a superfície do solo, reduzindo a desagregação das partículas, que é a fase inicial do processo erosivo, reduz a velocidade de escorrimento das enxurradas, melhora ou mantém a capacidade de infiltração de água, reduzindo o efeito da desagregação do solo, e evitando o selamento superficial, provocado pela obstrução dos poros com partículas finas desagregadas. Além disso, protege o solo da radiação solar, diminui a variação térmica do solo, reduzindo a evaporação de água e favorecendo o desenvolvimento de microorganismos, além de ajudar no controle de plantas daninhas.
Dentre as espécies utilizadas como cultura de cobertura, algumas merecem destaque, por seus benefícios físico-químicos ao solo, entre elas a aveia-preta, a ervilhaca-peluda e o nabo-forrageiro, como plantas antecessoras de inverno.
As culturas de milho e da aveia integradas e de forma planejada, no sistema de rotação, proporcionam alto potencial de produção de fitomassa, com elevada relação C/N, garantindo a manutenção de cobertura do solo, dentro da quantidade mínima preconizada e por maior tempo de permanência na superfície.
Diversos trabalhos de pesquisa relatam o efeito de culturas de cobertura sobre a produtividade e a resposta à adubação nitrogenada, na cultura do milho. O uso generalizado do sistema de plantio direto e de culturas de cobertura, no sul do País, criou a necessidade de recomendação da adubação nitrogenada para a cultura do milho adaptada a esse novo cenário.
No Brasil Central, as condições climáticas, com quase total ausência de chuvas entre os meses de maio e agosto, dificultam os cultivos de inverno, exceto em algumas áreas com microclima adequado ou com agricultura irrigada. Essa situação dificulta ou deixa poucas opções para o estabelecimento de culturas comerciais ou mesmo culturas de cobertura, isto é, culturas cuja finalidade principal é aumentar o aporte de restos culturais sobre a superfície do solo, exigindo que estas tenham características peculiares, como um rápido desenvolvimento inicial e maior tolerância à seca.
Em regiões de clima tropical, temperatura e umidade elevadas favorecem a rápida decomposição dos resíduos vegetais, dificultando a formação de uma camada adequada de cobertura morta. Além do aumento na velocidade de decomposição do material vegetal, provocada pelas altas temperaturas, as culturas anuais não produzem quantidade suficiente de fito massa, sendo rapidamente metabolizada pelos microrganismos do solo. Sem cobertura, o solo se adensa mais facilmente, retém menor quantidade de água, atinge facilmente altas temperaturas e fica mais suscetível à erosão, comprometendo o sistema. Portanto, na seleção de espécies destinadas à cobertura do solo em SPD, deve-se levar em consideração a quantidade e a qualidade dos resíduos vegetais, bem como sua capacidade de reciclagem de nutrientes, com impacto direto nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo e na resposta das culturas subsequentes em SPD.
Pesquisa com várias opções de rotação de culturas de verão (safra normal) e de safrinha, na região de Rio Verde, GO, mostrou que as maiores produtividade de milho ocorrem sobre as palhadas de algodão, girassol, guandu e nabo forrageiro, enquanto que, para a cultura da soja, as melhores respostas foram sobre as palhadas de milho, aveia, sorgo e milheto.
Hoje, sistemas de integração lavoura-pecuária, envolvendo culturas e forrageiras, principalmente as braquiárias apresentam essas condições e representam uma excelente alternativa envolvendo a cultura do milho e o sistema em plantio direto.
Um exemplo é o Sistema Santa Fé. Nesse sistema, quando as condições climáticas permitem, cultivam-se sequencialmente uma a duas culturas solteiras por ano e uma última, a safrinha, consistindo de um consórcio de uma cultura com uma gramínea forrageira. A exploração agrícola, nessas condições, caracteriza-se por um cultivo solteiro no início da estação chuvosa, seja soja, milho, ou arroz, e um cultivo de safrinha de milho ou sorgo associado a uma forrageira, comumente a Brachiaria brizantha. Geralmente, utiliza-se como cultura de safrinha o milho, sorgo ou milheto, também em plantio direto. Como resultado, tem-se, a partir do segundo ano ou mais de cultivo, solos agricultáveis corrigidos, com altos níveis de fertilidade e fisicamente estruturados. Essas áreas, inicialmente de fertilidade comprometida, passam a apresentar altos teores de matéria orgânica, baixos níveis de acidez e elevada infiltração de água no solo, em relação às áreas onde ainda se utilizam práticas de cultivo tradicionais. Outro enfoque do Sistema Santa Fé é sua implantação anual, em regiões onde as condições climáticas não permitem a safrinha, consistindo no cultivo consorciado de culturas anuais como milho, sorgo e milheto, com espécies forrageiras, principalmente as braquiárias, em áreas agrícolas, em solos parcial ou devidamente corrigidos. As práticas que compõem o sistema minimizam a competição precoce da forrageira, evitando redução do rendimento das culturas anuais, permitindo, após a colheita destas, uma produção forrageira abundante e de alta qualidade para a alimentação animal, além de palhada em quantidade e qualidade para a realização do plantio direto na safra seguinte. Este assunto será melhor discutido em capítulo sobre integração lavoura-pecuária.

Milho safrinha x sistema de plantio direto



A implantação do milho safrinha, no final do período chuvoso, deixa o agricultor na expectativa de ocorrência de déficit hídrico durante o ciclo da cultura. .Assim, toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração propiciar maior quantidade de água disponível para as plantas. Nesse caso, sempre que possível, deve-se optar pelo sistema de plantio direto, pois oferece maior rapidez nas operações, principalmente no plantio realizado simultaneamente à colheita, permitindo o plantio o mais cedo possível. Além disso, um sistema de plantio direto, com adequada cobertura da superfície do solo, permitirá o aumento da infiltração da água no solo e a redução da evaporação, com conseqüente aumento no teor de água disponível para as plantas. Em algumas áreas de plantio direto, já se constatou aumento do teor de matéria orgânica do solo, afetando a curva de retenção de umidade e aumentando ainda mais o teor de umidade para as plantas.
Embora exista uma grande diversidade de preparo de áreas para o cultivo do milho na segunda safra, predomina o emprego do plantio direto permanente (PDP) ou temporário (PDT), visando antecipar a implantação do milho “safrinha”. No preparo direto temporário, realiza-se a semeadura direta do milho “safrinha” e o preparo convencional para a soja. Nesse caso, no verão, tem sido freqüente o preparo com grades.
Em áreas com grande infestação de plantas daninhas, no momento da colheita da soja, e quando o agricultor não dispõe de máquina para semeadura direta, utiliza-se o preparo com grades no outono-inverno. Uma desvantagem da grade aradora é que provoca grande pulverização do solo. Alem disso, o uso da grade continuamente no verão e na safrinha, por anos sucessivos, pode provocar a formação do "pé-de-grade", uma camada compactada logo abaixo da profundidade de corte da grade, a 10-15 cm. Essa camada reduz a infiltração de água no solo, o que, por sua vez, irá favorecer maior escorrimento superficial e, conseqüentemente, a erosão do solo e a redução da produtividade do milho safrinha (Tabela 3).

Tabela 3. Rendimento de grãos da soja e do milho “safrinha”`, em latossolo roxo, em Tarumã, SP, no ano agrícola 1995/96, após dez anos de implantação de sistemas de manejo do solo.
Manejo do solo
Rendimento de grãos

Safra de soja
Safrinha de milho

kg ha -1
%
Kg ha -1
%
Grade aradora/ Grade aradora
2.579
78
4.678
77
Esc. mais niveladora/G. niveladora
3.130
94
5.404
89
Esc. + G. niveladora/ semeadura na palha
3.144
95
5.682
94
Sistema plantio direto.
3.310
100
6.046
100



Sistema de Plantio Direto de milho

O Sistema de Plantio Direto (SPD) é uma tecnologia conservacionista que teve grande desenvolvimento a partir  da década de 1990 no Brasil e já se encontra bastante difundida entre os agricultores, dispondo-se, atualmente, de sistemas adaptados a diferentes regiões e aos diferentes níveis tecnológicos (Figura 1).

Figura 1. Sistema de Plantio Direto de milho
Foto: Ramon Costa Alvarenga

Esse sistema de produção requer cuidados na sua implantação, mas depois de estabelecido, seus benefícios se estendem não apenas ao solo, mas também ao rendimento das culturas e promove uma maior competitividade dos sistemas agropecuários. Devido à drástica redução da erosão, reduz o potencial de contaminação do meio ambiente e oferece ao agricultor maior garantia de renda, pois a estabilidade da produção é ampliada em comparação aos métodos tradicionais de manejo de solo.
Por seus efeitos benéficos sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo, pode-se afirmar que o Sistema Plantio Direto é uma ferramenta essencial para se alcançar a sustentabilidade dos sistemas agropecuários.
Fundamentos do Sistema de Plantio Direto
O plantio direto é uma técnica de cultivo conservacionista em que o plantio é efetuado sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem. Nessa técnica, é necessário manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica. O plantio direto pode ser considerado como uma modalidade do cultivo mínimo, visto que o preparo do solo limita-se ao sulco de semeadura, procedendo-se à semeadura, à adubação e, eventualmente, à aplicação de herbicidas em uma única operação.
O plantio direto, definido como o processo de semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em sulcos ou covas, com largura e profundidade suficientes para a adequada cobertura e contato das sementes com a terra, é entendido como um sistema com os seguintes fundamentos:
  • eliminação / redução das operações de preparo do solo;
  • uso de herbicidas para o controle de plantas daninhas;
  • formação e manutenção da cobertura morta. Os dados da Tabela 1 exemplificam o efeito de restos culturais no escorrimento superficial, infiltração e perdas de solo.
  • rotação de culturas;
  • uso de semeadoras específicas.
As vantagens ou desvantagens do sistema de plantio direto dependem de uma série de fatores e características do solo e do clima da região onde esse sistema é ou será utilizado. É fundamental que, em cada região, o sistema seja adaptado seguindo suas vocações naturais, de forma que seja o mais eficiente possível. Além disso, verifica-se que à medida que o agricultor se torna mais familiarizado com o sistema, novas vantagens são adicionadas e novas alternativas para resolver problemas vão surgindo.

TABELA 1. Efeito de diferentes níveis de resíduos culturais no escorrimento superficial, infiltração e perda de solo, em declividade de 5%.
ResíduosEfeitos sobre a água e solo
(t/ha)EscorrimentoInfiltraçãoPerda de solo
(%)(%)(t/ha)
0
45,3
54,7
13,69
0,550
24,3
74,7
1,56
1,102
0,5
99,5
0,33
2,205
0,1
99,9
0
4,410
0
100,0
0
Fonte: Adaptado de Ramos (1976) citado por Ruedell (1998)

Requisitos para a implantação do plantio direto
Para o sucesso do SPD, são necessários os seguintes requisitos:

1. Qualificação do Agricultor
Por se tratar de um sistema complexo, é exigido que o agricultor tenha um conhecimento mais amplo e domínio de todas as fases do sistema, envolvendo o manejo de mais de uma cultura e, muitas vezes, uma associação de agricultura e pecuária. O sistema exige ainda um acompanhamento mais rígido da dinâmica de pragas, doenças e plantas daninhas, do manejo de fertilizantes e das modificações causadas ao ambiente à medida que o sistema vai sendo implantado.
2. Gerenciamento e treinamento de mão de obra
Pelas razões expostas no item anterior, verifica-se a necessidade de maior treinamento da mão de obra. Esta é especialmente importante em relação às pessoas que irão operar as principais máquinas do sistema (semeadoras, pulverizadoras e colhedoras) e realizar os tratos culturais.
3. Boa drenagem de solos úmidos com lençol freático elevado
Este requisito é necessário para que esses solos sejam aptos ao sistema, pois o plantio direto já promove um aumento da água no solo (em consequência do menor escorrimento superficial, da maior infiltração e da menor evaporação), o que pode agravar o problema de excesso de umidade em solos com drenagem deficiente.
4. Eliminação, antes da implantação, de compactação ou de camadas adensadas
A presença de camadas compactadas no solo, geralmente resultantes do uso inadequado de arados ou grade aradoras, causa uma série de problemas que podem reduzir a produtividade. Como no plantio direto não há o revolvimento do solo, a eliminação dessas camadas compactadas deve ser realizada antes da implantação do sistema.
5. Nivelamento da superfície do terreno
Solos cheios de sulcos ou valetas devem ser nivelados previamente, tornando a superfície do terreno a mais homogênea possível. Esse problema também é comum em áreas de pastagens degradadas. Existem no mercado plantadoras/semeadoras com sistema de plantio que permite acompanhar o microrrelevo do solo. Entretanto, o ideal é o preparo prévio da área.
6. Correção da acidez do solo antes de iniciar o plantio direto
Como no sistema de plantio direto o solo não é revolvido, é muito importante corrigi-lo tanto na camada superficial como na subsuperfície. Para isto, ele deverá ser amostrado de 0 cm a 20 cm e de 20 cm a 40 cm e, se necessário efetuar a calagem, incorporar o calcário o mais profundamente possível. Se for necessário, deve-se proceder à aplicação de gesso para correção da camada subsuperficial. No Sul do país, a aplicação de calcário sobre a superfície e sem incorporação ao solo tem sido efetiva, trazendo vantagens econômicas devido ao menor custo da aplicação, pois não há incorporação por meio da aração e gradagens. Esta prática traz também vantagens para a conservação do solo, pois, sem o revolvimento, mantém-se a estrutura física do solo, o que é fundamental no controle da erosão principalmente em solos de textura média e arenosa. No entanto, essa técnica deve ainda ser validada nas demais situações do país.
7. Nivelamento da fertilidade na faixa de média a alta
As correções dos teores de fósforo e potássio são necessários antes de iniciar o Sistema de Plantio Direto. O agricultor deve ter como meta manter os níveis de fertilidade na faixa alta e estabelecer um programa de adubação de reposição, levando em consideração o sistema de produção como um todo e as menores perdas de nutrientes resultantes da menor erosão.
8. Cobertura de solo
Os restos culturais devem cobrir, pelo menos, 80% da superfície do solo ou manter 6 t/ha de matéria seca para cobertura do solo. Este é um dos requisitos mais importantes para o sucesso do plantio direto por afetar praticamente todas as modificações que o sistema promove. É também um dos requisitos mais variáveis entre diferentes regiões, pois as opções de explorações agrícolas e de cobertura do solo dependem das condições climáticas, bem como da disponibilidade de informações relativas a espécies alternativas e a épocas de semeadura em cada local.
9. Ausência de queima de restos culturais
Jamais pensar em queimar os restos culturais. Este requisito é óbvio, mas pode ser um problema com a cultura do algodão, para a qual, por razões fitossanitárias, é recomendada a queima de restos culturais.
10. Uso do picador e do distribuidor de palhas nas colhedoras
O objetivo dessa prática é promover melhor distribuição dos restos culturais na superfície do solo, facilitando o plantio e protegendo o solo de maneira mais uniforme. 
11. Controle de plantas daninhas
As plantas daninhas deverão ser identificadas e devem receber um controle específico antes de iniciar o Sistema de Plantio Direto. 
12. Eliminação de plantas daninhas perenes
Essas plantas daninhas são de difícil controle e podem tender a aumentar sua infestação com o uso do plantio direto. Daí a importância de sua erradicação antes de se iniciar o SPD. 
13. Não haver alta infestação de plantas daninhas muito agressivas
Essas plantas daninhas, além de difícil controle, onerarão o custo de produção. Como, no plantio direto, as plantas daninhas serão controladas quimicamente e sendo esse controle responsável por um alto percentual do custo de produção total, toda ação que reduza ou facilite o controle de plantas daninhas antes da instalação do sistema deverá ser adotada. Na medida em que se consiga a formação de uma camada mais efetiva de palha na superfície do solo, associada à um programa adequado de rotação de culturas, o controle de plantas daninhas será facilitado e seu custo diminuirá.
O sucesso ou insucesso da implantação do plantio direto depende, além desses requisitos básicos, da capacidade gerencial do produtor e de sua experiência no manejo de diferentes culturas que farão parte dos sistemas de rotação e ou de sucessão de culturas.

Funções da palhada no plantio direto
A palhada representa um ponto fundamental do Sistema de Plantio Direto e desempenha as seguintes funções:
1. reduz o impacto das gotas de chuva, protegendo o solo contra a desagregação de partículas e compactação;  
2. dificulta o escorrimento superficial, aumentando o tempo e a capacidade de infiltração da água da chuva. Como consequência, há uma significativa redução nas perdas de solo e água pela erosão;
3. protege a superfície do solo da ação direta dos raios solares, reduzindo a temperatura e a evaporação, mantendo, consequentemente, maior quantidade de água no solo;
4. reduz as amplitudes hídrica e térmica, favorecendo a atividade biológica;
5. aumenta o teor de matéria orgânica no perfil do solo, incrementando a disponibilidade de água para as plantas, a Capacidade de Troca de Cátions (CTC) do solo e melhora suas características físicas;
6. ajuda no controle de plantas daninhas, por supressão ou por ação alelopática.

Rotação de culturas

Na implantação e condução do Sistema de Plantio Direto de maneira eficiente é indispensável que o esquema de rotação de culturas promova, na superfície do solo, a manutenção permanente de uma quantidade mínima de palhada, que nunca deverá ser inferior a 4,0 t/ha de fitomassa seca. Como segurança, indica-se que devem ser adotados sistemas de rotação que produzam, em média, 6,0 t/ha/ano ou mais de fitomassa seca. Neste caso, a soja contribui com muito pouco, raramente ultrapassando 2,5 t/ha de fitomassa seca. Por outro lado, gramíneas como o milho, de ampla adaptação a diferentes condições, têm ainda a vantagem de deixar uma grande quantidade de restos culturais que, uma vez bem manejados, proporcionam vantagens adicionais aos sistemas, conforme já mencionado.
Na conversão para o Sistema de Plantio Direto é importante priorizar a cobertura do solo, principalmente se as áreas apresentarem um certo grau de degradação da matéria orgânica. Para isto, onde for possível, as culturas de milho e de aveia integradas e de forma planejada no sistema de rotação proporcionam alto potencial de produção de fitomassa e de elevada relação carbono/nitrogênio (C/N), garantindo a manutenção da cobertura do solo dentro da quantidade mínima preconizada e por maior tempo de permanência na superfície. O cultivo do milho com espaçamento mais estreito entrelinhas e ou consorciado com leguminosas, como o feijão-bravo, proporciona a formação de elevada quantidade de fitomassa, além de bons rendimentos de grãos. Também as braquiárias apresentam essas condições (quando bem conduzidas proporcionam elevado índice de cobertura do solo e fitomassa seca e excelente e vigoroso sistema radicular) e representam uma excelente alternativa em áreas de integração lavoura-pecuária.
Especial atenção deve ser dada à soja e ao milho, culturas mais usadas no plantio direto, e que apresentam grandes vantagens quando plantadas em rotação (ou seja, uma em substituição à outra na safra seguinte de verão), inclusive com aumentos significativos nos rendimentos de ambas as culturas. Existem experimentos demostrando os efeitos benéficos do milho se estendendo até ao segundo ano da soja plantada após a rotação. Neste exemplo, a soja produziu 20,3%  mais no primeiro ano após o milho e 10,5% no segundo. Essa diferença foi atribuída, além da menor incidência de pragas e doenças, à maior quantidade de nutrientes deixados pela palha do milho,  principalmente o potássio, no qual a soja é exigente.  No Sul do Brasil, pelas condições climáticas mais favoráveis, há maiores opções de rotação de culturas, envolvendo tanto as culturas de verão como as de inverno. No Brasil Central, as condições climáticas, com quase total ausência de chuvas entre os meses de maio e agosto, dificultam os cultivos de inverno, exceto em algumas áreas com microclima adequado ou com agricultura irrigada. Essa situação dificulta ou deixa poucas opções para o estabelecimento de culturas comerciais ou mesmo culturas de cobertura, isto é, culturas cuja finalidade principal é a de cobrir o solo e aumentar o aporte de restos culturais sobre a sua superfície, exigindo que estas tenham características peculiares, como um rápido desenvolvimento inicial e maior tolerância à seca.
No Brasil Central, a implantação do Sistema de Plantio Direto tem sido facilitada em áreas onde é possível o desenvolvimento de safrinha. A safrinha só é possível onde o período chuvoso se prolonga um pouco mais. Dentre as principais culturas de safrinha, destacam-se o milho, o sorgo, o milheto e o girassol. Em algumas regiões, como o Sul de Minas Gerais, o plantio da soja não é comum, o que restringe as alternativas de rotação de culturas e dificulta a implantação do plantio direto. Além disso, nessa região, a interação agricultura-pecuária é muito forte, sendo comum a produção de milho para a produção de silagem, onde a parte aérea da planta é retirada do terreno, reduzindo o aporte de resíduos vegetais ao solo. Porém, a experiência de vários agricultores da região tem demonstrado ser possível o plantio do milho sobre palhada de braquiárias (Fig. 2). Nesse caso, quando a cobertura inicial não é ainda adequada, é comum o plantio do milho consorciado com a braquiária. A semente da forrageira geralmente é colocada junto ao adubo da plantadora de milho e semeada a uma profundidade (6 cm a 8 cm) maior que a do milho. Em algumas situações, a braquiária é também semeada nas entrelinhas do milho. Alguns agricultores já usam, após o milho para silagem, o plantio de outra safra do próprio milho (tecnicamente não recomendado), aveia, sorgo forrageiro ou de corte e pastejo ou milheto. Essas alternativas, embora sejam viáveis, não podem se repetir seguidamente e necessitam de alguma outra opção (como uma leguminosa: mucunas, crotalárias ou feijões) para quebrar esse ciclo de plantio de gramíneas.

Figura 2. Sistema de Plantio Direto de milho
Foto: Ramon Costa Alvarenga

Desenvolvimento de plantas e produtividade

Uma vez que o plantio direto altera as condições químicas, físicas e biológicas do solo, essas codições também afetarão o desenvolvimento das plantas e as respectivas produtividades. Observa-se maior concentração das raízes das plantas de milho na camada superior do solo em plantio direto, comparado ao convencional. Porém, quanto maior o tempo de adoção do SPD, ou seja, com rotação de culturas, melhor será a distribuição do sistema radicular em profundidade, caracterizando um melhor aproveitamento do volume de solo explorado, levando sempre em consideração o tipo de solo, as condições climáticas de cada local e o nível de fertilidade de cada área avaliada.
Embora seja nítida a modificação no sistema radicular, nem sempre existe uma relação direta entre o número de raízes e o rendimento da cultura. Em algumas situações, há uma maior dificuldade no estabelecimento da densidade de plantio desejada, especialmente em condições de alta quantidade de resíduos e em solos mais úmidos ou mal drenados. Também uma distribuição irregular de resíduos na superfície do terreno e desuniformidades do microrrelevo podem contribuir para reduzir a densidade de plantio, provocar uma emergência desuniforme e diminuir o crescimento inicial e atrasar a maturidade. Para compensar esses problemas, recomenda-se que as cultivares para o plantio direto apresentem um melhor enraizamento, melhor vigor inicial e rapidez de desenvolvimento. Melhor ainda é regular cuidadosamente a semeadora e promover a semeadura a velocidades menores ou em torno de 4 km/h.
As diferenças nas produtividades das culturas refletem, além do sistema de manejo do solo, todas as características do sistema de produção utilizado. Mais do que qualquer resultado de pesquisa, a espetacular expansão do plantio direto a partir dos anos 90 demonstra a competitividade desse sistema, em que a cultura do milho, juntamente com a da soja, ocupa posição de destaque. Obviamente, a maior eficiência do plantio direto, refletido em termos de produtividade, vai depender da eficiência de sua implantação e das condições edafoclimáticas da região.

Plantio direto do milho safrinha

A implantação do milho safrinha no final do período chuvoso deixa o agricultor na expectativa de ocorrência de déficit hídrico a partir desse período. Assim, toda estratégia de manejo do solo deve levar em consideração propiciar maior quantidade de água disponível para as plantas. Nesse caso, sempre que possível, deve-se optar pelo Sistema de Plantio Direto, pois oferece maior rapidez nas operações, principalmente no plantio realizado imediatamente após a colheita, permitindo o plantio o mais cedo possível. Além disso, um sistema de plantio direto com adequada cobertura da superfície do solo, permitirá o aumento da infiltração da água no solo e a redução da evaporação, com consequente aumento no teor de água disponível para as plantas. Em algumas áreas de plantio direto, já se constatou aumento do teor de matéria orgânica do solo, afetando a curva de retenção de umidade e aumentando ainda mais a água disponível para as plantas.

Plantas de cobertura de solo

Grande parte do sucesso do Sistema de Plantio Direto (SPD) reside no fato de que a palha deixada por culturas de cobertura sobre a superfície do solo, somada aos resíduos das culturas comerciais, cria um ambiente extremamente favorável ao crescimento vegetal, contribuindo para a estabilização da produção e para a recuperação ou manutenção das características e propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, de tal modo que a sua qualidade seja melhorada.
Assim, haverá um SPD mais estabilizado à medida em que o sistema de rotação adotado possibilitar a manutenção de uma camada de palha sobre o solo ao longo do tempo e, assim, poderão ser conseguidos todos os benefícios dessa prática. A quantidade e a qualidade da palha sobre a superfície do solo dependem do sistema de rotação adotado e, em grande parte, do tipo de planta de cobertura e do manejo que lhe é dado.
Primeiramente, deve-se selecionar aquelas espécies com maior potencial para as condições locais, tomando-se por base a rapidez com que se estabelecem e as suas produções de fitomassa. Quanto mais rápido o estabelecimento, maiores os benefícios físicos advindos da cobertura na proteção do solo e na supressão de plantas daninhas. A maior produção de fitomassa indica maior oferta de palha sobre o solo, podendo, ainda, dar uma ideia sobre a reciclagem de nutrientes, desde que se conheça o padrão de extração de nutrientes pela espécie selecionada.
De qualquer maneira, quando essas plantas são cultivadas após a cultura principal, o manejo da parte aérea deve ser retardado até pouco antes de a cultura começar a produzir sementes viáveis, tomando-se o cuidado de não picar demasiadamente os resíduos, o que acelera a sua decomposição, e de distribuí-los o mais uniformemente possível sobre o solo. Na escolha, deve ser levada em consideração também a disponibilidade de sementes, as condições do solo, a sua rusticidade, especialmente quanto à tolerância ao déficit hídrico, e a possibilidade de utilização comercial. Outro ponto de importância a ser observado é conhecer o potencial de elas serem hospedeiras de pragas e doenças. Assim, é possível alterná-las de tal modo que a cultura subsequente não sofra prejuízos. Pelo contrário, se beneficie das características favoráveis da cultura anterior. Essas plantas devem possibilitar, ainda, um fácil manejo com a camada de palha formada, oferecendo pequena resistência aos componentes de corte das semeadoras, de tal modo que o plantio subsequente possa ser realizado sem dificuldades operacionais.    
A quantidade de palha sobre o solo e a uniformidade da sua distribuição podem servir de referência para uma avaliação preliminar sobre as condições nas quais o SPD está se desenvolvendo. O SPD deve ter pelo menos 50% da superfície do solo coberta com resíduos. Igualmente importante é a distribuição, a mais uniforme possível, dos resíduos sobre o solo. Dessa forma, maximizam-se os benefícios da cobertura do solo para o SPD. Por outro lado, a taxa de decomposição dos resíduos vegetais modifica a cobertura do solo ao longo do tempo, sendo importante o cultivo de plantas especializadas na produção de fitomassa para incrementar a cobertura deixada pelas culturas produtoras de grãos.
Na região Sul, devido às condições climáticas, com inverno mais frio e melhor distribuição de chuva, é possível manter, com maior facilidade, uma cobertura adequada do solo com palha durante todo o ano. Esta é a principal característica que a diferencia da região dos Cerrados, onde o inverno seco inviabiliza a produção das culturas em condições de sequeiro. Desse modo, o estabelecimento de uma cobertura do solo com plantas semeadas para essa finalidade, em março ou abril, constitui o maior desafio para o SPD na região dos Cerrados e adjacências. Soma-se a isto o fato de que as condições climáticas da primavera-verão condicionam uma alta taxa de decomposição desse material, de tal sorte que a cobertura do solo é reduzida rapidamente, devendo haver um aporte constante desse material ao solo. Em razão disso, o sistema de rotação de culturas é de fundamental importância como mecanismo para aumentar a taxa de cobertura do solo. O sistema mais usado é soja-milho, em que a soja fornece menor quantidade de resíduos de rápida decomposição, ao passo que os restos culturais do milho são em maior quantidade e de maior persistência como cobertura (Fig 3). Dessa forma, plantas de cobertura devem ser introduzidas no sistema com o objetivo de aumentar a oferta de palha sobre a superfície.

Figura 3 : Restos Culturais


O modelo ideal de planta de cobertura para essa condição seria aquele que apresentasse alta produção de fitomassa com alta taxa de absorção de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo; alta tolerância ao déficit hídrico, às pragas e às doenças; com efeito alelopático sobre as plantas daninhas; de fácil estabelecimento e controle; baixa taxa de decomposição e, ainda, alto valor agregado. Impossível reunir todas essas qualidades em apenas uma espécie, o que leva ao raciocínio lógico da necessidade de ser usada mais de uma espécie, sendo que uma irá procurar suprir a deficiência de outra em algum quesito, além de incrementar a diversificação da rotação e da sucessão de culturas.

Exceto na região Sul, onde é possível o cultivo de culturas de verão e de inverno, nas demais regiões, na busca de maior cobertura de solo, algumas alternativas se sobressaem como estratégias para o cultivo das mesmas, visando, ainda, um menor grau de interferência sobre o rendimento da cultura principal.

Dentre essas alternativas, sobressaem:

1) cultivo antecipado da cultura de cobertura, conhecido regionalmente como plantio no pó, plantio no cedo ou plantio na poeira, e é usado principalmente naquelas regiões onde o período chuvoso se inicia mais cedo. Nesse sistema, busca-se antecipar o plantio da cultura de cobertura às primeiras chuvas, objetivando o estabelecimento das mesmas. O plantio pode-se dar em linha ou a lanço, com acréscimo de 30% na quantidade de sementes. A fitomassa produzida é dessecada na época mais adequada, de tal modo que o plantio da cultura principal não seja prejudicado, havendo a possibilidade de se retardar esse plantio com vistas à maior produção de fitomassa da cultura de cobertura. Geralmente, para a cultura principal, é dada preferência a cultivares de ciclo tardio, para que se mantenham por mais tempo culturas estabelecidas, promovendo a cobertura do solo, e que entrariam somente mais tarde num processo de decomposição, após a colheita, quando as condições de mineralização são menos favoráveis;
2) cultivo em sucessão à cultura principal. É importante que a cultura principal seja instalada o mais cedo possível e que esta seja de ciclo precoce para que o plantio, na sucessão, das plantas de cobertura, seja feito quando ainda houver possibilidade de eventos de chuva, de tal modo que elas se estabeleçam. Outro fator importante a ser considerado é a escolha da espécie, devendo ser dada preferência àquelas de maior tolerância ao déficit hídrico. Nesse particular, destacam-se o milheto e o sorgo, dentre as gramíneas, e o guandu, dentre as leguminosas. Há uma expectativa de que essas plantas possam ser utilizadas como forrageiras ou na produção de sementes, como forma de reduzir os custos de produção, sendo os seus resíduos destinados à formação de palha. Essa prática, entretanto, deve ser implementada como regra quando já houver uma camada de palha sobre o solo, pois, caso contrário, corre-se o risco da quantidade de palha não ser suficiente para proporcionar as condições mínimas para um adequado desenvolvimento do sistema;
3) sobressemeadura, que, embora usada em menor escala, mostra-se como uma possibilidade para se tentar aumentar o aporte de palha ao solo. Ela consiste no lançamento das sementes ao solo quando ainda existe outra cultura estabelecida na área. Esta prática tem sido feita na cultura da soja quando esta se apresenta no início do período de amarelecimento das folhas, e na cultura do milho, no enchimento dos grãos, usando principalmente o milheto, mas o sorgo é também usado e há outras espécies que se destinam a essa prática. Com isto, busca-se a germinação e o estabelecimento das plantas no período de maturação e pós-colheita da soja ou do milho, quando ainda há umidade no solo. O consumo de sementes nessa modalidade é aproximadamente o dobro daquele utilizado no semeio em linha;
4) cultivo de safrinha ou segunda safra naquelas regiões onde as chuvas se estendem por um maior período, havendo condições para que seja cultivada uma segunda cultura, visando principalmente à produção de grãos. Nesse sistema, além da produção comercial, haverá oferta de quantidade apreciável de palha, que em muito incrementará a palhada total sobre a superfície do solo. Existem muitas opções de espécies para o cultivo na safrinha, de tal modo que a escolha da espécie e da cultivar deve recair sobre aquela que apresentar maior vantagem comparativa, levando-se em consideração o destino da produção e as condições ambientais para a sua produção.
Existem variações aos modelos apresentados acima, como forma de adaptação a uma situação em especial. Entretanto, cabe destacar o plantio direto com pousio de inverno ou plantio direto no mato como sendo aquele que deve ser evitado a todo custo, pois é de baixa qualidade tanto como sistema de manejo quanto ao aporte de palha no solo. Nele, após a colheita da cultura de verão, o solo permanece em pousio até o próximo verão. Nessa situação, há o crescimento de plantas daninhas, que, dessecadas no início da próxima estação de plantio, proporcionam uma determinada cobertura morta sobre o solo. Essa cobertura é extremamente variável em quantidade e qualidade, pois depende do tipo de plantas daninhas que infestam a área e de sua distribuição. Geralmente exigem operação adicionais, o consumo de herbicidas aumenta e a qualidade da palha é baixa, além de dar origem a uma palhada desuniforme.
Em grandes áreas do Brasil Central, está sendo considerada, nos últimos anos, a necessidade de estabelecer um melhor aproveitamento da época das águas. O produtor que aposta em safras mais produtivas opta por cultivos normais de milho e soja, limitando as suas possibilidades de semeadura de culturas de inverno pela drástica diminuição da água de chuva. Aquele que opta por cultivos precoces está colhendo até o final de março, dificultando de igual forma o sucesso da cultura em sucessão, visando a formação de palhada e uma remota probabilidade de produção de grãos. Esse quadro aponta para a sobresemeadura, seja via aviação agrícola ou trâmpulo alto, como prática que viabilize a formação de palhada, conservando o recurso natural (solo) e agregando renda ao produtor.
Outra possibilidade bastante viável para a manutenção do SPD é a rotação agricultura-pecuária, em que as pastagens, especialmente as braquiárias, têm-se mostrado bastante eficientes na manutenção da palhada ( Fig 4)  e a produção de grãos com seu aporte anual de fertilizantes e corretivos mantém as altas produtividades das pastagens.

Figura 4 : Plantio direto de milho sobre palhada de braquiária


A quantidade de palha sobre o solo é regulada por dois fatores principais: relação C:N do material vegetal da palhada e o manejo que lhe é dado. Com respeito ao primeiro fator, a relação C:N é inerente à espécie e reflete a velocidade com que a decomposição do material pode se processar. Quanto a essa característica, as plantas podem ser agrupadas em duas classes, uma de decomposição rápida (exemplo: leguminosas) e a outra de decomposição lenta (exemplo: gramíneas), sendo bem aceito um valor de relação C:N próximo a 25 como de referência na separação entre elas. As leguminosas, por imobilizarem nos seus tecidos o nitrogênio da fixação biológica feita pelo rizóbio associado, possuem relação C:N próximo a 20 e taxa de decomposição rápida, ao passo que as gramíneas são de decomposição mais lenta, pois o conteúdo de N na fitomassa é menor. Embora isso seja verdadeiro, tem-se observado que, para as condições da região dos Cerrados, mesmo quando a palha é basicamente de gramíneas, há uma decomposição acelerada do material, de tal forma que manter uma camada de cobertura de solo nessas condições torna-se uma atividade complexa e vai exigir conhecimento e experiência por parte daquele que pratica o SPD. O milheto é um exemplo clássico, uma vez que apresenta relação C:N de 30 ou maior, estando na fase de emborrachamento/florescimento, mas nos Cerrados sua decomposição tem sido relativamente rápida, quando manejado nessa época, dificultando o acúmulo de palha.

Existe um consenso de que, nos primeiros anos da implantação do SPD, deve ser dada preferência ao cultivo de gramíneas, de relação C:N larga, para acelerar a formação da camada de palha. Apesar disto, não se deve perder de vista a necessidade da rotação de culturas como mecanismo para facilitar o controle de plantas daninhas e prevenir a incidência de pragas e doenças. O manejo das plantas de cobertura é outro fator que pode regular a permanência da palha na superfície do solo. Sabe-se que a relação C:N torna-se mais larga na medida que a planta se desenvolve. Em razão dessa característica, o manejo das plantas de cobertura pode ser retardado ao máximo, visando dotar-lhes de maior resistência à decomposição. Entretanto, não se pode perder de vista que a produção de sementes viáveis poderá infestar a área e aumentar os gastos com herbicidas. Uma relação em torno de 40 parece ser satisfatória quando o objetivo é acumular palha. Caso o plantio dessas plantas se dê na primavera, antecedendo uma cultura de verão, o manejo não deverá ser retardado muito tempo, pois corre-se o risco de haver prejuízos para a cultura de verão. Nesse caso, a safra principal deve ser priorizada.
O manejo pós-dessecação ou sem dessecação das plantas também é importante, pois pode afetar a taxa de decomposição desse material. O ideal seria aguardar o tombamento natural das plantas, pois evitaria uma operação de trânsito na área; entretanto, raramente isso será possível, quando se possui um cronograma de atividades em sequência. Daí, a melhor opção é fazer a rolagem dessas plantas, preferencialmente que essas sejam deitadas no mesmo sentido em que será realizado o plantio, o que, além de facilitar essa operação, diminui a quantidade de palha cortada pelos mecanismos de corte da semeadora. Quando é adotado um equipamento para picar a palha, deve-se saber que a decomposição do material é uma reação de superfície de contato. Portanto, quanto menor o tamanho do material picado, maior a superfície passível de ataque pelos microorganismos e, portanto, maior a velocidade de decomposição. Em razão disso, a trituração desse material só deverá ser efetivada em último caso, quando houver uma razão muito forte e, nesse caso, o produto deve ser do maior tamanho possível.
Além disso, a uniformidade de distribuição da palha é importante. Áreas com baixa cobertura facilitam a emergência de plantas espontâneas, as perdas de água por evaporação, maior variação térmica, o impacto e desagregação de partículas de solo pelas gotas de chuva e posterior obstrução de poros pelas partículas desagregadas etc. Por outro lado, o excesso dela causa problemas operacionais no plantio e prejudica a emergência das plântulas, comprometendo o estande final da lavoura. A palha deixada sobre a superfície do solo acumula quantidades apreciáveis de nutrientes e estes estarão temporariamente indisponíveis às plantas em crescimento. O tempo de duração desse ciclo até que ele retorne ao solo deve-se às características das plantas que deram origem à essa palhada e ao manejo dela, conforme discutido no item anterior.
Assim, é previsível um maior gasto com fertilizantes durante a fase de formação da camada de palha sobre o solo, pois estes estarão presos a ela e a taxa de liberação é baixa. Na fase de manutenção da cobertura, alcança-se um equilíbrio no ciclo de imobilização e liberação dos nutrientes. As leguminosas, nessa fase, têm um papel importante, pois além da maior quantidade de N acumulada, a taxa de liberação é rápida, aumentando a oferta de nutrientes às plantas. As palhas de gramíneas liberam os nutrientes a médio e longo prazos. Muitas vezes, as quantidades finais de nutrientes liberados pelas gramíneas são iguais ou superiores às quantidades liberadas pelas leguminosas, o que se deve à grande quantidade de fitomassa produzida.
Existem, ainda, algumas situações especiais, nas quais as plantas de cobertura conseguem extrair do solo algum nutriente que está numa forma indisponível à maioria das culturas. Um exemplo disto é o caso do guandu que, devido à reação ácida de suas raízes, é capaz de absorver fósforo do solo, anteriormente não disponível e que depois da decomposição da sua fitomassa retorna ao solo numa forma orgânica, facilmente assimilável pelas plantas cultivadas. É possível selecionar e alterar a sequência das espécies de plantas de cobertura para que seja buscado um menor nível de incidência de pragas e doenças às plantas. Soja semeada após aveia-preta é menos afetada por Rhizoctonia solani e Sclerotinia sclerotiorum, sendo que o trigo é menos afetado por moléstias radiculares, como a podridão comum das raízes e o mal-do-pé. Além disso, contribui para a redução da população de nematóides na cultura da soja. Feijão em palha de braquiária é menos afetado pelo mofo branco e rhizoctonia. O manejo das plantas de cobertura deve ser entendido como o procedimento através do qual o desenvolvimento delas é interrompido com vistas a que os seus resíduos possam fazer parte da camada de palha na superfície do solo.
Dependendo da época em que as plantas de cobertura estiverem sendo cultivadas, poderá haver um melhor método para o manejo delas. Quando elas forem semeadas na primavera, antecedendo a cultura de verão, o método mais adequado de manejo é o químico, que vai matar as plantas, pois as condições ambientais são favoráveis ao crescimento, de tal forma que os métodos mecânicos de manejo têm baixa eficiência nessa época, devido principalmente à característica de rebrote rápido da maioria das espécies. Além disso, necessita-se ganhar tempo nessa etapa para não prejudicar a cultura seguinte, que é a principal. A cultura dessecada pode ser deixada em pé ou tombada com equipamento apropriado. A queda natural daquelas que permaneceram em pé não prejudica o crescimento das culturas. Como há menor contato da palha com o solo, a decomposição é mais lenta.
Para o manejo das plantas de cobertura no outono-inverno, pode ser adotada uma estratégia diferente, usando métodos mecânicos para eliminar o desenvolvimento vegetativo das plantas. Especialmente para as condições dos Cerrados, onde o desenvolvimento vegetativo das plantas é praticamente paralisado nessa época devido, principalmente, à falta de umidade no solo, o uso exclusivo do rolo-faca, do triturador ou da roçadeira é suficiente, devendo-se estar atento para que o emprego desses equipamentos seja realizado antes que as plantas comecem a produzir sementes viáveis. Há produtores que deixam as plantas produzirem sementes e não fazem o manejo das plantas nessa época, deixando essa operação para a primavera, após as primeiras chuvas, quando as sementes produzidas já germinaram. Esse procedimento visa aumentar a quantidade de palha, mas pode haver desenvolvimento de plantas em vários estádios, tanto daquelas de cobertura quanto de espontâneas de tal modo que pode ser necessário primeiramente um manejo mecânico para potencializar o efeito do manejo químico, que deve ser feito dias mais tarde, assim que houver área foliar suficiente.
A presença de uma camada de palha sobre a superfície do solo exerce um papel importante no controle das plantas daninhas, primeiramente devido ao efeito físico, que limita a passagem de luz, criando dificuldades para que haja a germinação das sementes, e pela barreira que forma, dificultando o crescimento inicial das plântulas. Outra possibilidade são os efeitos alelopáticos oriundos da decomposição da fitomassa ou exsudação das raízes, que liberam substâncias que vão exercer algum tipo de efeito inibitório nas sementes, impedindo a germinação, ou nas plantas, interferindo em algum processo do seu desenvolvimento, de tal modo que o crescimento é retardado ou paralisado, havendo casos em que ocorre a morte da planta. Em culturas de verão, como soja, feijão e milho semeadas no Sistema de Plantio Direto sobre coberturas mortas densas, de lenta decomposição e com ação alelopática, há possibilidade de se reduzir ou até mesmo dispensar o uso de herbicidas.
Uma estratégia visando reduzir o crescimento das plantas espontâneas pode ser a redução do espaçamento das plantas de cobertura, o que aumentará a pressão de controle sobre as espontâneas. Além disso, o sistema radicular ficará mais bem distribuído no volume do solo, melhorando, entre outras coisas, a rede de canalículos após a sua decomposição que desempenham importante papel na movimentação de água e ar no solo. Uma questão sobre o menor espaçamento é que os caules tenderão a ser mais finos e aí a decomposição, dependendo do manejo, poderá ser acelerada.  
Embora seja inquestionável a importância da palha para o SPD pelo papel que desempenha na melhoria das condições do solo e no rendimento das culturas comerciais, os gastos com sementes, defensivos, horas-máquina, mão de obra, entre outros para a implantação e o manejo das plantas de cobertura oneram o custo do sistema como um todo. Muitas vezes, essas espécies são de baixo valor comercial, servindo apenas como plantas para formação de palhada. Daí é de grande importância que seja agregado valor a essas plantas, de tal maneira que os custos de produção possam ser compensados com algum ganho extra. Na prática, isto acontece quando é possível o plantio da safrinha com culturas comerciais, como, por exemplo, o milho e o sorgo, ou com cereais de inverno, como o trigo, na região Sul. Mais recentemente, verificou-se que a integração agricultura-pecuária poderá viabilizar o plantio direto em muitas regiões, principalmente pelo uso de plantas forrageiras, como as braquiárias, que apresentam um grande potencial de produção de fitomassa, além de serem componentes essenciais de sistemas de produção de diferentes regiões do Brasil Central. Ainda sob essa ótica, espécies que apresentam crescimento rápido e rebrota se destacam, uma vez que poderão ser utilizadas numa primeira etapa como forragem e, depois de novo crescimento, serem manejadas para formar palha, como em sistemas de integração lavoura e pecuária, onde o milho é plantado consorciado e/ou após uma forrageira (Fig 5). Cabe ainda ressaltar que devem ser dispensados cuidados durante o pastejo dessas áreas, com vistas a que a compactação seja evitada. A utilização racional nesse sistema integrado deve levar em conta que, primeiramente, deverá haver uma camada de palha já formada para, só depois, elas serem utilizadas como forragens.

 Figura 5: Lavoura de milho em sistema de integração lavoura e pecuária





quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Plantio do Milho



Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 50,268 milhões de toneladas de grãos produzidos em uma área de aproximadamente 14,126 milhões de hectares (Conab, 2009) referente a duas safras, normal e safrinha. Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtida produtividade superior a 16ton/ha em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente. No entanto, o nível médio nacional de produtividade é muito baixo, cerca de 3.559kgha, demonstrando que o manejo cultural do milho deve ser ainda bastante aprimorado para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar.

O plantio de uma lavoura deve ser muito bem planejado, pois determina o inicio de um processo de cerca de 120 dias que afetará todas as operações envolvidas, além de determinar as possibilidades de sucesso ou insucesso da lavoura. É por ocasião do plantio que se obtêm boas ou más população de plantas e densidade de plantio. Esta característica não é tão importante em outras culturas com grande capacidade de perfilhamento, como arroz, trigo, aveia, sorgo e outras gramíneas, ou de maior habilidade de produção de floradas, como feijão e soja. Isto faz com que o agricultor tenha especial atenção especial com plantio, de forma a assegurar um plantio com maiores chances de alcançar maiores produtividade e rentabilidade.

Neste contexto, a escolha e o cuidado com as plantadoras representam um importante elemento dentro do processo de produção, uma vez que afetam a distribuição e a localização do adubo, a distribuição de sementes nas fileiras e a profundidade de plantio, o espaçamento entre fileiras, determinando a qualidade do plantio e seu efeito sobre as operações subsequentes e a produtividade da lavoura.

O milho também desempenha importante papel em sistema de plantio direto e nos últimos anos tem também se destacado na integração lavoura-pecuária devido às inúmeras aplicações que este cereal tem dentro da propriedade agrícola, quer seja na alimentação animal na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada, na alimentação humana ou na geração de receita mediante a comercialização da produção excedente. Outro ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras no que diz respeito ao consórcio dele com forrageiras.

Introdução

Dentre os cereais cultivados no Brasil, o milho é o mais expressivo, com cerca de 54,37 milhões de toneladas de grãos produzidos, em uma área de aproximadamente 12,93  milhões de hectares (CONAB, 2010), referentes a duas safras: normal e safrinha.  Por suas características fisiológicas, a cultura do milho tem alto potencial produtivo, já tendo sido obtida no Brasil produtividade superior a 16 t.ha-1, em concursos de produtividade de milho conduzidos por órgãos de assistência técnica e extensão rural e por empresas produtoras de semente. No entanto, o nível médio nacional  de produtividade é muito baixo, cerca de 4.417 kg/ha-1 na safra e 4.045 kg.ha-1 na safrinha, demonstrando que os diferentes sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante aprimorados para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode proporcionar.


Condições climáticas

O período de crescimento e desenvolvimento do milho é limitado pela  água, temperatura e radiação solar ou luminosidade. A cultura do milho necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, a precipitação pluviométrica e o fotoperíodo, atinjam níveis considerados ótimos, para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo.

Temperatura

A temperatura possui uma relação complexa com o desempenho da cultura, uma vez que a condição ótima varia com os diferentes estádios de crescimento e desenvolvimento da planta.
A temperatura da planta é basicamente a mesma do ambiente que a envolve. Devido a esse sincronismo, flutuações periódicas influenciam nos processos metabólicos que ocorrem no interior da planta. Nos momentos em  que a temperatura é mais elevada, o processo metabólico é mais acelerado e nos períodos mais frios o metabolismo tende a diminuir. Essa oscilação metabólica ocorre dentro dos limites extremos tolerados pela planta de milho, compreendidos entre 10ºC e 30ºC.  Abaixo de 10ºC, por períodos longos, o crescimento da planta é quase nulo e sob temperaturas acima  de 30ºC, também por períodos longos, durante a noite, o rendimento de grãos decresce, em razão do consumo dos produtos metabólicos elaborados durante o dia. Temperaturas noturnas elevadas, por longos períodos, causam diminuição do rendimento de grãos e provocam senescência precoce das folhas.
           A temperatura ideal para o desenvolvimento do milho, da emergência à floração, está compreendida entre 24 e 30ºC. Comparando-se temperaturas médias diurnas de 25ºC, 21ºC e 18ºC, verificou-se que o milho obteve maior produção de matéria seca e maior rendimento de grãos na temperatura de 21ºC. A queda do rendimento sob temperaturas elevadas se deve ao curto período de tempo de enchimento de grãos, em virtude da diminuição do ciclo da planta.
           A planta de milho precisa acumular quantidades distintas de energia  ou simplesmente unidades calóricas necessárias a cada etapa de crescimento e desenvolvimento. A unidade calórica é obtida através da soma térmica  necessária para cada etapa do ciclo da planta, desde o plantio até o florescimento masculino. O somatório térmico é calculado através das temperaturas máximas e mínimas diárias, sendo 30ºC e 10ºC, respectivamente, as temperaturas referenciais para o cálculo. Com relação ao ciclo, as cultivares são classificadas pelas empresas produtoras de sementes em normais ou tardias, semiprecoces, precoces e superprecoces.

As cultivares normais apresentam exigências térmicas correspondentes a 890-1200 graus-dias (G.D.), as precoces, de 831 a 890, e as superprecoces, de 780 a 830 G.D. Essas exigências calóricas se referem ao cumprimento das fases fenológicas compreendidas entre a emergência e o início da polinização.
De acordo com o Zoneamento Agrícola para a cultura de milho, as cultivares eram classificadas, em função do ciclo,  em três grupos:
Grupo I - necessita até 780 U.C (precoce);
Grupo II - necessita entre 780 e 860 U.C. (ciclo médio); e
Grupo III - necessita mais que 860 U.C. (ciclo tardio).
A partir da safra 2009/10, para efeito de simulação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento classifica as cultivares em três grupos de características homogêneas: Grupo I (n < 110 dias); Grupo II (n maior ou igual a 110 dias e menor ou igual a 145 dias); e Grupo III (n >145 dias), onde nexpressa o número de dias da emergência à maturação fisiológica.


Umidade do solo

O milho é uma cultura muito exigente em água. Entretanto, pode ser cultivado em regiões onde as precipitações vão desde 250 mm até 5000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida pela planta, durante seu ciclo está em torno de 600 mm. O consumo de água pela planta, nos estádios iniciais de crescimento, num clima quente e seco, raramente excede 2,5 mm/dia. Durante o período compreendido entre o espigamento e a maturação, o consumo pode se elevar para 5 a 7,5 mm diários. Mas se a temperatura estiver muito elevada e a umidade do ar muito baixa, o consumo poderá chegar até 10 mm/dia.
            A ocorrência de déficit hídrico na cultura do milho pode ocasionar danos em todas as fase. Na fase do crescimento vegetativo, devido ao menor elongamento celular e à redução da massa vegetativa, há uma diminuição na taxa fotossintética. Após o déficit hídrico, a produção de grãos é afetada diretamente, pois a menor massa vegetativa possui menor capacidade fotossintética. Na fase do florescimento, a ocorrência de dessecação dos estilos-estigmas (aumento do grau de protandria), aborto dos sacos embrionários, distúrbios na meiose, aborto das espiguetas e morte dos grãos de pólen resultarão em redução no rendimento. Déficit hídrico na fase de enchimento de grãos afetará o metabolismo da planta e o fechamento de estômatos, reduzindo a taxa fotossintética e, consequentemente, a produção de fotossimilados e sua translocação para os grãos.



Fotoperiodo

Dentre os componentes climáticos que afetam a produtividade do milho, está  o fotoperíodo, representado pelo número de horas de luz solar, o qual é um fator climático de variação sazonal, mas que não apresenta muita variação de ano para ano. O milho é considerado  uma planta  de dias curtos, embora algumas cultivares tenham pouca ou nenhuma sensibilidade às variações do fotoperíodo.
Um aumento do fotoperíodo faz com que a duração da etapa vegetativa aumente e proporcione também um incremento no número de folhas emergidas durante a diferenciação do pendão e do número total de folhas produzidas pela planta.
            Nas condições brasileiras, o efeito do fotoperíodo na produtividade do milho é praticamente insignificante.


Radiação solar

A radiação solar é um dos parâmetros de extrema importância para a planta de milho, sem a qual o processo fotossintético é inibido e a planta é impedida de expressar o seu máximo potencial produtivo. Grande parte da matéria seca do milho, cerca de 90%, provém da fixação de CO2 pelo processo fotossintético. O milho é uma planta do grupo C4 , altamente eficiente na utilização da luz. Uma redução de 30% a 40% da intensidade luminosa, por períodos longos, atrasa a maturação dos grãos ou pode ocasionar até mesmo queda na produção.
Em uma pesquisa avaliando a produção de sementes, verificou-se que o milho semeado em outubro teve redução na produtividade e no rendimento de  sementes beneficiadas, quando comparado com a semeadura em março, que apresentou 60% a mais  na produtividade e maiores valores no rendimento de beneficiamento nas peneiras 24, 22 e 20 e menores na peneira 18 e no resíduo final. Essa diferença foi atribuída ao fato de o período de enchimento de grãos do milho semeado em outubro ter ocorrido no mês de janeiro quando se constatou um longo período com alta nebulosidade, com grande frequência de período chuvoso durante o dia, ou seja, com redução na radiação fotossinteticamente ativa, necessária para intensificar o processo fotossintético.


Época de semeadura

O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo, temperatura, radiação solar e fotoperíodo. A época de plantio é função destes fatores, cujos limites extremos são variáveis em cada região agroclimática.  A época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias mais longos do ano e a etapa de enchimento de grãos com o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar. Isto, considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta. Trabalho de pesquisa mostra  que as épocas em que o rendimento de grãos foram maiores e mais estáveis foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de quatro folhas totalmente desenvolvidas e a floração ocorrem  sob boas condições  de água no solo. Nas condições tropicais, devido a menor variação da temperatura e do comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que geralmente determina a melhor época de semeadura.
No Sul do Brasil, o milho geralmente é plantado de agosto a setembro e, à medida que se caminha para os estados do Centro-Oeste e Sudeste, a época de semeadura na safra varia de outubro a novembro. Resultados de pesquisa mostram que atraso na época de plantio além dos meses de setembro - outubro resultam em redução no ciclo da cultura e no rendimento de grãos. A época de semeadura afeta várias características da planta, ocorrendo um decréscimo mais acentuado no número de espigas por planta (prolificidade) e no rendimento de grãos. Vários resultados da literatura mostram que o atraso na semeadura pode resultar em perdas que podem ser superiores a 60 kg/ha/dia. Essa tendência pode ser revertida se não houver déficit hídrico e, ocorrer uma redução na temperatura do ar, nos meses de fevereiro - março.
Comparando as épocas de plantio das lavouras com produtividades superiores a 8.000 kg.ha-1, pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo verificaram que na região Sul do Brasil observa-se que o Estado do Rio Grande do Sul obtém maiores rendimentos com o plantio mais cedo. Cerca de 90% da área é plantada nos meses de agosto e setembro. Em Santa Catarina, 80% dos plantios são realizados também nos meses de agosto e setembro.  Esses resultados caracterizam-se pelo fato de serem locais com clima característico de regiões subtropicais. No Estado do Paraná, os resultados observados mostram que a época de plantio das lavouras de maiores rendimentos se concentra nos meses de setembro e outubro.
Na região Sudeste, as épocas de plantio das lavouras de milho de alta produtividade concentram-se nos meses de outubro e novembro, chegando a cerca de 80% das lavouras com produtividade acima de 8.000 kg/ha-1. O mesmo ocorre nos estados da região Centro-Oeste, onde as melhores lavouras de milho são plantadas, principalmente, nos meses de outubro e novembro. Já para os estados da região Nordeste, nas lavouras de alta produtividade na Bahia e no Piauí, principalmente, a época de plantio concentra-se no final do mês de novembro e principalmente no mês de dezembro. Na região Norte do país, lavouras com alta produtividade (acima de 8 mil kg/ha) foram registradas apenas no Estado do Pará, sendo que em 70% das lavouras a época de plantio neste estado ocorreu em janeiro. Com a análise dos levantamentos, pode-se concluir que as diferenças edafoclimáticas de cada região influenciam muito na tomada de decisão da época de plantio da cultura de milho.
Por ser plantado no final da época recomendada, o milho safrinha tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação solar e temperatura na fase final de seu ciclo. Além disso, como o milho safrinha é plantado após uma cultura de verão, a sua data de plantio depende da época do plantio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o planejamento do milho safrinha começa com a cultura do verão, visando liberar a área o mais cedo possível. Quanto mais tarde for o plantio, menor será o potencial e maior o risco de perdas por seca e/ou geadas.
Uma análise por estado mostrou  que nos estados do PR e MS as maiores frequências de altos  rendimentos de milho safrinha são obtidos em plantio entre a primeira quinzena de fevereiro e a primeira quinzena de março. Em  MT e GO as maiores frequências de altos rendimentos são obtidos no mês de fevereiro, sendo que em GO se concentram mais na primeira quinzena enquanto em MT se concentram na segunda quinzena. No Estado de São Paulo, a época de  plantio de maiores quantidades de lavouras de milho estende-se até o mês de abril (Figura 1).
Hoje, com os avanços nos trabalhos na área de climatologia, o Brasil já tem um Zoneamento Agrícola para o milho, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que fornece informações sobre as épocas de plantio,  tanto na safra como na safrinha, com menores riscos, para quase todo o país.
Nas regiões onde não ocorrem geadas, o plantio do milho poderá ser feito o ano todo, mas o agricultor deverá levar em consideração as alterações no ciclo da cultura, que afetarão a época de colheita e, consequentemente, o calendário agrícola, podendo afetar a época de plantio de culturas subsequentes, como mostrado na Tabela 1. Além disto, o potencial produtivo pode variar de acordo com as condições climáticas resultantes da época de plantio.


Época de semeaduraNormalPrecoceSuperprecoce
05 de fevereiro124117108
05 de março134129127
06 de abril145140138
05 de maio139138137
08 de junho138133131
09 de julho146134125
12 de agosto 124119118
08 de setembro125118115
07 de outubro 115112106
08 de novembro116112107
09 de dezembro 115115112
Fonte: Sans et al. citados por Pereira Filho & Cruz (1993).
Experimento com milho irrigado, realizado no Rio Grande do Sul, mostrou que os rendimentos de grãos foram, em média, 15% e 48% inferiores na semeadura de agosto e dezembro, respectivamente, em relação à de outubro. Essas diferenças foram atribuídas a alterações na quantidade de radiação solar disponível, em decorrência da época de plantio. No plantio em dezembro, a alta percentagem de plantas estéreis em função da competição interespecífica pode também ter contribuído para o baixo rendimento de grãos.


Profundidade da semeadura

A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores temperatura do solo, umidade e tipo de solo. A semente deve ser colocada numa  profundidade que possibilite um bom contato com a umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de semeadura vai depender do tipo de solo. Em solos mais pesados, com drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do mesocótilo, dificultando a emergência de plântulas, as sementes devem ser colocadas entre 3 e 5 cm de profundidade. Já em solos mais leves ou arenosos, as sementes podem ser colocadas mais profundas, entre 5 e 7 cm de profundidade, para se beneficiarem do maior teor de umidade do solo.
No Sistema Plantio Direto, onde há sempre um acúmulo de resíduos na superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura morta pode retardar a emergência, reduzir o estande e, em alguns casos, pode até causar queda no rendimento de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. A Tabela 2 mostra o efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a duração do período de emergência na cultura do milho.
Contrário a uma crença popular, a profundidade de semeadura tem influência mínima na profundidade do sistema radicular definitivo, que se estabelece logo abaixo da superfície do solo.


Tabela 2. Porcentagem de emergência, vigor e duração do periodo de germinação de sementes de milho em diferentes profundidades.
Profundidade (cm)Emergência (%)Vigor ¹Duração Média (dias)
2.5
100.03.08.0
5.0
97.53.010.0
7.597.53.012.0
10.080.02.515.0
12.5
32.50.718.0
Fonte: Adaptado de Fagundes (1975) citado por Bresolin(1993).
¹vigor aos 22 dias após a semeadura. Notas: 3.0 para o máximo vigor a zero para mínimo vigor.

Densidade de Plantio

A densidade de plantio, ou estande, definida como o número de plantas por unidade de área, tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho, uma vez que pequenas variações na densidade têm grande influência no rendimento final da cultura.
O milho é a gramínea mais sensível à variação na densidade de plantas. Para cada sistema de produção, existe uma população que maximiza o rendimento de grãos. A população recomendada para maximizar o rendimento de grãos de milho varia de 40.000 a 80.000 plantas.ha-1, dependendo da disponibilidade hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo da cultivar, da época de semeadura e do espaçamento entre linhas. Vários pesquisadores consideram o próprio genótipo como principal determinante da densidade de plantas. O aumento da densidade de plantas até determinado limite é uma técnica usada com a finalidade de elevar o rendimento de grãos da cultura do milho. Porém, o número ideal de plantas por hectare é variável, uma vez que a planta de milho altera o rendimento de grãos de acordo com o grau de competição intra-específica proporcionado pelas diferentes densidades de planta.
O rendimento de uma lavoura aumenta com a elevação da densidade de plantio, até atingir uma densidade ótima, que é determinada pela cultivar e por condições externas resultantes de condições edafoclimáticas do local e do manejo da lavoura. A partir da densidade ótima, quando o rendimento é máximo, aumento na densidade resultará em decréscimo progressivo na produtividade da lavoura. A densidade ótima é, portanto, variável para cada situação e, basicamente, depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e do nível de fertilidade de solo. Qualquer alteração nesses fatores, direta ou indiretamente, afetará a densidade ótima de plantio.
            Além do rendimento de grãos, o aumento da densidade de plantio também afeta outras características da planta. Dentre essas características, merecem destaque a redução no número de espigas por planta (índice de espigas) e o tamanho da espiga. Também o diâmetro do colmo é reduzido e há maior susceptibilidade ao acamamento e ao quebramento. Além disso, é reconhecido que pode haver um aumento na ocorrência de doenças, especialmente as podridões de colmo, com o aumento na densidade de plantio. Esses aspectos podem determinar o aumento de perdas na colheita, principalmente quando esta é mecanizada. Por estas razões, às vezes deixa-se de recomendar densidades maiores, que embora em condições experimentais apresentem maiores rendimentos, não são aconselhadas em lavouras colhidas mecanicamente.
A densidade de plantio, dentre as técnicas de manejo cultural, é um dos parâmetros mais importantes. Geralmente, a causa dos baixos rendimentos de milho é o baixo número de plantas por área. Entretanto, para que haja um aumento da produtividade, é necessário que vários outros fatores, como o nível de fertilidade do solo, o nível de umidade e as cultivares estejam em consonância com o número de plantas por área. A velocidade de semeadura deve se basear no conhecimento do produtor sobre as condições de operação do equipamento, as condições do solo e as características  da plantadeira. Deve ser definida visando a uniformidade na produtividade e na distribuição da semente.
 A densidade de plantio e a distribuição de sementes são  também afetadas pela velocidade de plantio. Para plantadeiras a disco, recomendam-se velocidades não superiores a 5 Km/h. Estudos apontam perdas de produtividade  de até 11% ao aumentar a velocidade de 5 para 10 Km/h em plantadeiras a disco (Tabela 3). Plantadeiras a dedo ou a vácuo podem realizar operações de semeadura com velocidade de até10 Km/h, desde que as condições de topografia do terreno, umidade e textura do solo permitam a operação nesta velocidade (é importante consultar o fabricante). De um modo geral, não se recomenda  a semeadura em velocidades superiores a 7 Km/h quando se utilizar essas plantadeiras.
Aconselha-se que se faça um teste antes da semeadura, operando a plantadeira em diferentes velocidades para, então, se escolher a melhor opção, tendo em vista principalmente a uniformidade da profundidade das sementes.
Velocidades acima do recomendado aumentam o número de falhas e duplas e prejudicam a uniformidade da profundidade das sementes. Esses dois fatores reduzem a população de plantas e aumentam o número de plantas dominadas, prejudicando dois dos principais componentes do rendimento: o número de espigas por área e o número de grãos  por espiga.


Tabela 3.Média de populações alcançadas com diferentes velocidades de plantio (média de 7 anos e 61 locais)
Velocidade de plantio (km h-1)
5,0
7,510,0
Densidade desejada
55.000 plantas ha-1
Densidade na colheita (plantas ha-1)
52.612
51.131
46.821
% em relação à densidade desejada95,793,085,1
Dif. de densidade plantas ha-¹ para 5 km/h0-1.481
-5.791
Perdas em % em relação à velocidade de  5 km/h02,811,0
Produtividade  (kg ha-¹)
9.327
8.589
8.203
Diferença em  (kg ha-¹)0
738
1.124
Fonte: Pioneer Sementes, 2004Em termos genéricos, verifica-se que cultivares precoces (ciclo mais curto) exigem maior densidade de plantio em relação a cultivares tardias para expressarem seu máximo rendimento. A razão desta diferença é que cultivares mais precoces, geralmente, possuem plantas de menor altura e menor massa vegetativa. Essas características morfológicas determinam um menor sombreamento dentro da cultura, possibilitando, com isto, menor espaçamento entre plantas, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo dentre os grupos de cultivares (precoces ou tardios), há diferenças quanto à densidade ótima de plantio.
Uma análise de cerca de 362 cultivares de milho comercializadas na safra 2010/11 mostra que as variedades são indicadas para plantios com densidades variando de 40.000 a 55.000 plantas por hectare, o que é coerente com o menor nível de tecnologia dos sistemas de produção empregados pelos agricultores que usam esse tipo de cultivar. As faixas de densidades mais frequentemente recomendadas para os híbridos duplos variam de 50 a 60, havendo casos de recomendação até de 70 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é frequente a densidade de 55 a 65-70 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas por ha. Deve ser ressaltado que na safra 2009/10 apenas 23 cultivares eram recomendadas com densidades de plantio igual ou maior do que 70 mil plantas por hectare. Nesta safra (2010/11) esse número passou para um pouco mais de 100 híbridos (triplos e simples) representando cerca de 28% de todos os híbridos triplos e simples disponíveis no mercado, independentemente se são ou não transgênicos, mostrando também a importância da densidade de plantio para que as cultivares possam expressar seus potenciais produtivos. Por outro lado, a idéia tradicional de se utilizar um saco de sementes para o plantio de um hectare já não é verdadeira, havendo necessidades de se utilizar 1,2 a 1,4 sacos de sementes (com 60.000 sementes) para o plantio de um hectare.
 A maioria das empresas já estão recomendando densidades de plantio em função da região, da altitude e da época de plantio. Além disso, já existem empresas recomendando a densidade em função do espaçamento, o que representa uma evolução.
O surgimento de novas cultivares de milho de ciclo mais curto, estatura reduzida, menor número de folhas e folhas mais eretas aumentou o potencial de resposta da cultura à densidade de plantas.
O aumento e o arranjo da população de plantas podem contribuir para a correta exploração do ambiente e do genótipo, com consequências no aumento do rendimento de grãos.
 O arranjo de plantas basicamente pode ser manipulado através de alterações na densidade de plantas e no espaçamento entre fileiras.
A interceptação da radiação fotossinteticamente ativa pelo dossel exerce grande influência sobre o rendimento de grãos da cultura do milho, quando outros fatores ambientais são favoráveis. Uma forma de aumentar a interceptação de radiação e, consequentemente, o rendimento de grãos, é através da escolha adequada do arranjo de plantas. Teoricamente, o melhor arranjo de plantas de milho é aquele que proporciona distribuição mais uniforme de plantas por área, possibilitando melhor utilização de luz, água e nutrientes.
Atualmente, a redução no espaçamento entre linhas e o aumento da densidade de plantio é uma realidade na cultura de milho, no Brasil, encontrando-se, no mercado, inclusive, plataformas adaptáveis às colhedoras que realizam a colheita em espaçamentos de até 0,45 m.
Com relação à disponibilidade hídrica e à disponibilidade de nutrientes, observa-se que a densidade deve ser aumentada sempre que esses fatores forem otimizados, para que seja atingido o máximo rendimento de grãos.
            Em situações de áreas irrigadas, ou quando não há restrições hídricas, é aconselhável usar o limite superior da faixa da densidade recomendada. Um fator importante quando se usa alta densidade de plantio é assegurar que a cultivar usada apresenta grande resistência ao acamamento e ao quebramento.

De forma análoga ao suprimento hídrico, quanto maior for a disponibilidade de nutrientes para as plantas, seja pela fertilidade natural do solo ou por adubação, maior será a densidade para se alcançar o máximo rendimento. As interações mais frequentes entre o nível de fertilidade e a densidade de semeadura se dão principalmente com a adubação nitrogenada.



Espaçamento entre fileiras

Ainda é muito variado o espaçamento entre fileiras de milho nas lavouras, embora seja nítida a tendência de sua redução.
Dados de pesquisa mostram vantagens do espaçamento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras) comparado ao espaçamento convencional (80 a 90 cm), especialmente quando se utilizam densidades de plantio mais elevadas, como é demonstrado na Figura 2.
Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados o aumento do rendimento de grãos, em função de uma distribuição mais equidistante de plantas na área, aumentando a eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes, melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis, diminuindo, dessa forma, a duração do período crítico das plantas daninhas, redução da erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo, melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes e maximização da utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, a exemplo do milho e da soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo. Tem sido também mencionado que os espaçamentos reduzidos permitem melhor distribuição da palhada de milho sobre a superfície do solo, após a colheita, favorecendo o sistema de plantio direto.


Diversos trabalhos têm mostrado tendência de maiores produções de grãos em espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm), principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Essa redução no espaçamento resulta também em maior peso de grãos por espiga. Esse comportamento se deve aos milhos atuais terem características de porte mais baixo,  melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses materiais exercem menores índices de sombreamento e captam melhor a luz solar.
Uma avaliação de diferentes cultivares de milho, espaçamento e densidade de plantio, mostrou que o rendimento de grãos cresceu com o aumento da densidade de plantio, em ambos os espaçamentos (reduzido e normal), demonstrando que se poderia aumentar ainda mais a produtividade, com aumento na densidade de plantio; entretanto, no espaçamento de 0,50 m entre fileiras, a produtividade apresentou maior ampliação quando se passou de 40.000 plantas. ha-1 para 77.500 plantas.ha-1 do que no espaçamento de 0,80 m, indicando que a redução de espaçamento  é mais vantajosa quando se utilizam maiores densidades de plantio, comprovando mais uma vez que o benefício das linhas mais estreitas aumenta à medida que aumenta a população de plantas (Figura 2).
Avaliações realizadas, tanto na safra como na safrinha, em lavouras de alta produtividades, mostraram que de fato tem havido um aumento da densidade de plantio e uma redução no espaçamento entre fileiras, entretanto, não tem se verificado, adensamento do plantio associado a uma redução no espaçamento (Figuras 3 e 4).



Quando se pensa em diminuir o espaçamento entre linhas e/ou aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os híbridos ou as variedades de porte alto e ciclo longo produzem bastante massa e quase sempre não proporcionam um bom arranjo das plantas dentro da lavoura e, por essa razão, já no início do crescimento é prejudicada a captação da luz. Os híbridos de menor porte, mais precoces, desenvolvem pouca massa vegetal, com menor quantidade de auto-sombreamento, o que proporciona uma maior penetração da luz solar. Estas plantas permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades.
Uma das dificuldades para o uso de espaçamentos mais estreitos eram as plataformas das colheitadeiras, que, muitas vezes, não se adaptavam a esta situação. No entanto, hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já não existe.

Considerações gerais

A cultura do milho, por sua versatilidade, adapta-se a diferentes sistemas de produ ção. Devido à grande produção de fitomassa de alta relação C/N, a cultura é fundamental em programas de rotação e sucessão de culturas em Sistemas de Plantio Direto envolvendo ou não Sistemas de Produção  de Integração Lavoura-Pecuária. Embora apresente alto potencial de produção, comprovado nos concursos de produtividade e por agricultores que utilizam alto nível tecnológico, o rendimento de milho, no Brasil, ainda é muito baixo. Levando, ainda, em consideração a qualidade e o potencial da semente de milho disponível, com predominância dos híbridos simples, verifica-se que é fundamental um aperfeiçoamento dos sistemas de produção para que esses materiais possam expressar ao máximo seu potencial genético, alcançando altas produtividades em sistema de produção sustentáveis.

Plantadoras

No plantio do milho, um importante aspecto é a regulagem da densidade de plantio, onde a densidade ótima que promoverá o rendimento máximo da lavoura, varia basicamente, com a cultivar, e com a disponibilidade de água e nutrientes. Uma análise de mais de 200 cultivares de milho mostrou que a densidade recomendada pode variar de 40.000 a 70.000 plantas por hectare. Neste contexto, as semeadoras representam um importante elemento dentro do processo de produção, uma vez que a produtividade de milho é afetada de forma significativa pelo fator estande. A semeadora pode atuar como um elemento restritivo ao desenvolvimento da cultura do milho e no momento do plantio todo o esforço para melhoria de produtividade pode estar sendo infrutífero; de pouco adianta utilizar sementes de alta qualidade genética, fazer um bom preparo do solo, manter uma fertilidade adequada e controlar pragas e plantas daninhas, se não se obtém uma quantidade de sementes distribuídas para um estande final em torno de 50.000 plantas por hectare. Dessa maneira, se o objetivo é aumentar a produtividade da cultura, a regulagem da semeadora passa a merecer uma atenção especial.
Associado a densidade de plantio está o espaçamento entre fileiras. No Brasil esse espaçamento é muito variável, indo de um metro a 80 cm, mas verifica-se uma tendência de se utilizar cada vez mais os espaçamentos reduzidos pelas seguintes razões: aumento no rendimento de grãos, por propiciar uma distribuição melhor de plantas na área, aumentando a eficiência na utilização de luz solar, água e nutrientes; melhor controle de plantas daninhas, em função do mais rápido fechamento dos espaços disponíveis; e redução da erosão, pela cobertura antecipada da superfície do solo (Cruz, 1999). O objetivo seria utilizar o mesmo espaçamento para o milho e a soja. Para isto já existem colhedoras de milho que permitem a colheita de espaçamentos de até 50 cm.
A ocorrência de densidade de plantio aquém da desejada é comum em plantio direto onde as condições de solo e da semeadora não são favoráveis. Onde há excesso de palha, palhada mal distribuída, microrelevo irregular, normalmente associados a solo com maior teor de umidade do que o adequado, pode haver uma redução na densidade de plantio, além de causar emergência desuniforme e atraso no desenvolvimento inicial. Estes problemas podem ser agravados se a qualidade da semeadora não for boa. Estudos realizados por DELAFOSSE (1986), mostraram que a falta de regularidade de espaçamento entre plantas pode resultar em perdas superiores a 15% na cultura do milho. Além disso, MANTOVANI et al. (1992) avaliaram nove semeadoras de milho e concluíram que, de maneira geral, a distribuição longitudinal de sementes era irregular e fora dos limites aceitáveis, tendendo a se tornar mais irregular, à medida que a velocidade de semeadura aumentava. Sugere-se, nestes casos, aumentar, na regulagem da semeadora, a quantidade de sementes de 5 a 10% comparado com o plantio convencional. Também é importante manter a velocidade de semeadura dentro dos limites recomendados de 4 a 6 km/h. O estabelecimento da densidade de plantio recomendada é também favorecido pelo uso de sementes de melhor qualidade, e de cultivares que apresentem um melhor enraizamento e bom vigor inicial (Cruz,1999).
Várias marcas e modelos de semeadoras-adubadoras, são disponíveis hoje no mercado brasileiro que basicamente utilizam os seguintes sistemas de distribuição de sementes:

  • Pratos ou discos: utiliza discos rotativos perfurados, que devem ser trocados conforme as dimensões das sementes e a quantidade a ser distribuída no solo, além de exigirem regulagem na rotação conforme a velocidade de deslocamento da máquina, permitindo ao agricultor uma regulagem de acordo com o stand desejado, a peneira de classificação do milho.Dedinhos: caracteriza-se por um disco onde se fixam uma série de pequenas chapas curvas, pivotadas, que, sob o efeito de molas, ao mergulhar dentro do leito de sementes, fecham-se, prendendo uma única semente, elevando-a até a cavidade de distribuição. É mais utilizado para sementes graúdas, como é o caso do milho. Este tipo de semeadora também deve ser regulado a exemplo dos outros sistemas.

  • Pneumático: opera também com discos dosadores perfurados rotativos, nos quais as sementes aderem a cada furo devido ao vácuo criado por uma corrente de ar que os atravessa, causando a sucção de um ventilador, sendo as sementes liberadas, quando o vácuo é neutralizado por um obturador, e captadas por tubos distribuidores. Como nos outros sistemas, para cada tipo de semente, deve-se dispor de um disco dosador e fazer uma regulagem de velocidade adequada.
  • A classificação das sementes de milho também é um importante fator a ser considerado, uma vez que pode comprometer o desempenho das semeadoras, principalmente das que utilizam o sistema de distribuição de sementes tipo disco perfurado, pois o formato das sementes é bem variável, podendo dificultar o preenchimento das células e a escolha dos discos.
    O tratamento de sementes de milho com inseticidas, utilizado para combater pragas de solo durante o plantio, altera a rugosidade da superfície delas, pelo aumento do ângulo de repouso, afetando o desempenho da semeadora, pela dificuldade de movimentação no depósito e também nos sistemas distribuidores (discos ou dedos prensores). Uma maneira de contornar este problema de escoamento pode ser o uso de uma substância inerte lubrificante, como o grafite, que diminua tanto o coeficiente de atrito entre as sementes como destas com a parede do reservatório. De acordo com Mantovani et all(1999) a dose de grafite indicada para uso no depósito é de no mínimo , 4 g/kg de sementes.

    Equipamentos para plantio direto

    Basicamente, existem 3 tipos de máquinas de plantio direto: as que utilizam enxada rotativa, as que utilizam discos e as que utilizam facas.

    Máquinas com enxada rotativa

    Esta máquina possibilita uma boa distribuição e incorporação de adubo em faixa e é bastante resistente. Para as culturas de milho e soja, a semente é lançada rente ao solo, atrás das lâminas. Em culturas de espaçamento estreito, como trigo, as "botas" longas são substituídas por "botas" curtas, para evitar embuchamento com resíduos da cultura anterior


    Apresenta as seguintes desvantagens:
    1. Demanda tratores de alta potência;Desgaste rápido das lâminas de corte em solos abrasivos;Dificuldade de trabalho em solos ondulados;

    2. Rendimento relativamente baixo.


    Máquina com discos



    Os equipamentos de plantio direto com sistema de disco, disponíveis no mercado brasileiro, são, na sua maioria , de arrasto e conseqüentemente a sua penetração no solo é feita individualmente, devido ao fato de os discos de corte serem montados na barra porta-ferramenta, com a finalidade de acompanhar as pequenas ondulações do terreno. Este sistema demanda tratores de menor potência, comparado com os sistemas que utilizam enxada rotativa e o seu sucesso depende do teor de umidade do solo no plantio



    Máquinas com facas 

    Este sistema é o mais simples e o mais barato que existe, já sendo utilizado em algumas máquinas convencionais para plantio direto, e os resultados mostram as seguintes dificuldades:

    • movimentação excessiva do solo e consumo desnecessário de combustível;maior formação de torrões, principalmente em condições mais secas;mau funcionamento de herbicida residual;má colocação de sementes;

    • problemas de embuchamento onde há muita palha.
    Com algumas modificações, muitas vezes simples, nas máquinas convencionais, pode-se eliminar ou pelo menos minimizar esses problemas. Para as áreas de plantio direto de milho, deve-se empregar semeadoras com sulcadores (facão), visando eliminar compactações na linha e colocar o adubo em maior profundidade.









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