Doenças sistêmicas
Enfezamentos
Importância e distribuição
Os enfezamentos do milho (doenças sistêmicas associadas a infecções dos tecidos do floema das plantas) são considerados doenças importantes para essa cultura no Brasil pelas perdas elevadas na produtividade e por sua ampla ocorrência nas principais regiões produtoras de milho. Os plantios tardios e de safrinha (iniciados a partir de meados de janeiro) contribuem para o aumento da incidência e das perdas causadas pelos enfezamentos devido ao aumento da população do inseto vetor nesta época. Esse fato pode ser agravado em sistemas de plantios sucessivos de milho.
Etiologia
Os enfezamentos são causados por patógenos pertencentes à classe dos Mollicutes, cuja transmissão é realizada de forma persistente e propagativa pela cigarrinhaDalbulus maidis. O enfezamento pálido é causado por um procarionte pertencente à espécie Spiroplasma kunkelli. O enfezamento vermelho é causado por procarionte pertencente ao gênero Phytoplasma, denominado pelo nome comum fitoplasma.
Sintomatologia
Enfezamento vermelho: Os sintomas típicos dessa doença são o avermelhamento das folhas, a proliferação de espigas, produção de espigas pequenas, perfilhamento na base da planta e nas axilas foliares, encurtamento dos entrenós, incompleto enchimento de grãos e seca precoce das plantas (Figura 26 e 27).
Enfezamento pálido: Os sintomas característicos são estrias esbranquiçadas irregulares na base das folhas, que se estendem em direção ao ápice. Em alguns casos, observa-se um amarelecimento das plantas e o surgimento de áreas avermelhadas nas folhas apicais. Normalmente, as plantas são raquíticas devido ao encurtamento dos entrenós, podendo haver uma proliferação de espigas pequenas e sem grãos (Figuras 28 e 29). Quando há produção de grãos, eles são pequenos, manchados e frouxos na espiga. As plantas podem secar precocemente. Em ambos os casos, os sintomas são mais evidentes na fase de enchimento dos grãos. A identificação precisa dos enfezamentos com base apenas nos sintomas, no campo, nem sempre é uma tarefa fácil, tornando-se necessário o uso de exames laboratoriais para a correta diagnose.
Epidemiologia: Os Molicutes, Spiroplasma kunkelli e Phytoplasma ocorrem somente em células do floema de plantas doentes de milho e são transmitidos de forma persistente e propagativa pela cigarrinha Dalbulus maidis, que, ao se alimentar em plantas doentes, adquire os molicutes e os transmitem para as plantas sadias. O período latente entre a aquisição dos patógenos e a sua transmissão pela cigarrinha varia de três a quatro semanas. A incidência e a severidade dessas doenças são influenciadas pelo grau de suscetibilidade da cultivar, pela época de semeadura (semeaduras tardias favorecem a doença), pela temperatura e umidade e pela população do inseto vetor. A ocorrência de temperatura e umidade elevadas e a alta densidade populacional de cigarrinhas, coincidentes com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de milho, favorecem o desenvolvimento da doença em elevada severidade. O milho é o único hospedeiro conhecido da cigarrinha Dalbulus maidis.
Controle: O controle mais eficiente dos enfezamentos consiste na utilização de cultivares resistentes. Outras práticas recomendadas para o manejo dessas doenças são: evitar semeaduras sucessivas de milho; fazer o pousio por período de dois a três meses sem a presença de plantas de milho; e alterar a época de semeadura, evitando-se a semeadura tardia da cultura. O uso de inseticidas para o controle do inseto vetor não tem apresentado eficiência satisfatória na redução da incidência dos enfezamentos.
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 26. Sintomas do enfezamento vermelho em planta de milho.
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 27. Campo apresentando elevada incidência de plantas com Enfezamento.
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 28. Sintomas do enfezamento pálido em planta de milho.
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 29. Detalhe das estrias esbranquiçadas irregulares, na base das folhas, que se estendem em direção ao ápice.
Míldio (Peronosclerospora sorghi)
Etiologia: Existem vários organismos causadores de míldio que afetam a cultura do milho, mas o míldio comumente observado em milho, nas condições brasileiras, é causado pelo mesmo organismo que causa o míldio do sorgo, ou seja,Peronosclerospora sorghi.
Sintomas: Plantas de milho sistemicamente infectadas por P. sorghi, o agente causal do míldio em milho, caracterizam-se por serem cloróticas, algumas vezes enfezadas, podendo apresentar folhas com estrias esbranquiçadas e que não chegam a produzir sementes (Figura 30). A área clorótica da folha sempre inclui a base da lâmina foliar, com margens transversas bem definidas entre tecidos doentes e sadios.
Foto: Carlos Roberto Casela
Figura 30. Míldio em milho: sintomas típicos de deformação do pendão, aparecimento de folhas estreitas e eretas e com presença de estrias esbranquiçadas.
Epidemiologia: Na superfície das folhas infectadas, ocorre a produção de esporângios (conídios) com temperatura ótima de produção entre 24 ºC e 26 °C. Alta taxa de infecção sistêmica ocorre quando o milho é cultivado em temperaturas variando de 11 ºC a 32 °C e períodos de molhamento foliar superior a 4 horas.
Controle: As principais medidas recomendadas para o manejo do míldio na cultura do milho são: utilização de cultivares resistentes; rotação com culturas não hospedeiras; enterrio dos restos culturais para eliminação de oósporos; e tratamento de sementes com fungicidas à base de metalaxyl.
Viroses
Rayado Fino (Maize Rayado Fino Virus)
Importância e distribuição: A virose Rayado Fino, também denominada risca, pode reduzir a produção de grãos em até 30% e ocorre nas principais regiões produtoras de milho. Essa doença é transmitida e disseminada pela cigarrinha Dalbullus maidis.
Sintomas: Os sintomas característicos são riscas formadas por numerosos pontos cloróticos coalescentes ao longo das nervuras, que são facilmente observados quando as folhas são colocadas contra a luz (Figura 31).
Epidemiologia: O vírus Rayado Fino ocorre sistemicamente na planta de milho e é transmitido de forma persistente propagativa pela cigarrinha Dalbullus maidis que, ao se alimentar de plantas doentes, adquire o vírus e o transmite para plantas sadias. O período latente entre a aquisição desse vírus e sua transmissão varia de 7 a 37 dias. A incidência e a severidade dessa doença são influenciadas por grau de suscetibilidade da cultivar, por semeaduras tardias e por população elevada de cigarrinha coincidente com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de milho. O milho é o principal hospedeiro tanto do vírus como da cigarrinha.
Controle: O método mais eficiente e econômico para controlar o vírus Rayado Fino é a utilização de cultivares resistentes. Práticas culturais recomendadas que reduzem a incidência dessa doença no milho são: eliminação de plantas voluntárias de milho; fazer o pousio por um período de dois a três meses sem a presença de plantas de milho; alterar a época de semeadura evitando as semeaduras tardias e sucessivas de milho. A aplicação de inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no controle dessa virose.
Foto: Carlos Roberto Casela
Figura 31. Sintomas do Rayado Fino em folha de milho.
Mosaico comum do milho (Sugarcane Mosaic Virus - SCMV)
Importância e distribuição: O mosaico comum do milho ocorre, praticamente, em toda região onde se cultiva o milho. Calcula-se que essa doença pode causar uma redução na produção de 50%.
Sintomas: Os sintomas caracterizam-se pela formação nas folhas de manchas verde claras com áreas verde normal, dando um aspecto de mosaico (Figura 32). As plantas doentes são, normalmente, menores em altura e em tamanho de espigas e de grãos.
Epidemiologia: A transmissão do mosaico comum do milho é feita por várias espécies de pulgões, sendo a mais eficiente a espécie Rhopalosiphum maidis. Os insetos vetores adquirem os vírus em poucos segundos ou minutos e os transmitem, também, em poucos segundos ou minutos. A transmissão desses vírus pode ser feita, também, mecanicamente. Mais de 250 espécies de gramíneas são hospedeiras dos vírus do mosaico comum do milho.
Controle: A utilização de cultivares resistentes é o método mais eficiente para o manejo dessa virose. A eliminação de plantas hospedeiras e a realização do plantio mais cedo podem contribuir para a redução da incidência dessa doença. A aplicação de inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no controle do mosaico comum do milho.
Foto: Carlos Roberto Casela
Figura 32. Sintomas do masaico comum do milho.
Doenças causadas por nematoides
Mais de 40 espécies de 12 gêneros de nematoides têm sido citadas como parasitas de raízes de milho em todas as áreas do mundo onde este cereal é cultivado. No Brasil, as espécies mais importantes, devido à patogenicidade, à distribuição e à alta densidade populacional, são Pratylenchus brachyurus, Pratylenchus zeae,Helicotylenchus dihystera, Criconemella spp.,Meloidogyne spp. e Xiphinema spp.Resultados de pesquisa demonstram que o controle químico de nematoides na cultura do milho permitiu o aumento da produção de grãos em 39% em área naturalmente infestada por Pratylenchus zeae eHelicotylenchus dihystera.
A ocorrência de nematoides do gênero Meloidogyne parasitando o milho e causando prejuízos significativos em condições naturais foi relatada no Brasil em 1986, sendo identificada a espécie Meloidogyne incognita raça 3 em raízes de plantas de milho que não se desenvolveram. Contudo, o milho está entre as culturas mais recomendadas para a rotação em áreas infestadas por Meloidogyne spp.. Atualmente, devido à necessidade de se controlar o nematoide do cisto (Heterodera glycines) na cultura da soja, o milho tem sido uma alternativa para a rotação de cultura, pois não é parasitado por este nematoide. Por outro lado, estas duas culturas podem ser parasitadas por nematoides do gênero Meloidogyne, notadamente por M. incognita e M. javanica.
Sintomas : As injúrias por nematoides variam com o gênero e a população do nematoide envolvido, as condições do solo e a idade da planta de milho. Os sistemas radiculares parasitados por nematoides são menos eficientes na absorção de água e nutrientes da solução do solo. Consequentemente, uma planta parasitada tem seu crescimento reduzido, apresenta sintomas de deficiências minerais e a produção é reduzida. Plantas atacadas por nematoides apresentam, em sua parte aérea, os seguintes sintomas: enfezamento e cloroses; sintomas de murcha durante as horas mais quentes do dia, com recuperação à noite; espigas pequenas e mal granadas. Esses sintomas dão à cultura do milho uma aparência de irregularidade, podendo aparecer em reboleiras ou em grandes extensões. Quando esses sintomas, observados na parte aérea, são causados por nematoides, as raízes apresentam os seguintes sintomas:
- Encurtamento e engrossamento das raízes: Trichodorus spp., Longidorus spp. e Belonolaimus spp..
- Sistema radicular praticamente destituído de radicelas: Xiphinema spp., Tylenchorhynchus spp., Helicotylenchus spp., Belonolaimus spp. e Macroposthonia spp..
- Sistema radicular praticamente destituído de radicelas e com lesões radiculares e raízes apodrecidas: Pratylenchus spp., Xiphinema spp., Hoplolaimus spp. e Helicotylenchus spp..
- Sistema radicular com pequenas galhas: Meloidogyne spp..
Fator de Reprodução (FR) do nematoide
É necessário conhecer muito bem o Fator de Reprodução (FR) das espécies de nematoides que parasitam as cultivares de milho. O FR expressa se a cultivar é excelente, boa, fraca ou não hospedeira do nematoide presente na área de cultivo do milho em relação à população inicial presente no solo infestado por este nematoide. Isto é, o FR representa a população do nematoide no estádio final da cultura em relação à população inicial do nematoide presente na ocasião de semeadura. Consequentemente, a cultivar de milho a ser utilizada em plantios comerciais ou em rotação com a cultura da soja deve apresentar FR < 1, se possível igual ou próximo de zero.
Na avaliação da reação de 107 genótipos de milho a Meloidogyne incognita raças 1, 2, 3 e 4 e a M. arenaria raça 2, incluindo populações de polinização aberta, linhagens, cruzamentos intervarietais e híbridos comerciais, os resultados mostraram que todos os genótipos foram bons hospedeiros desses nematoides. O FR para Meloidogyne incognita raça 1 variou de 8,5 a 24,3 e para a raça 3 variou de 5,3 a 34,8; enquanto que, para M. arenaria raça 2, variou de 16,2 a 31,9. Estes resultados mostram a existência de variabilidade genética entre os genótipos avaliados. Em outro ensaio de resistência a Meloidogyne incognita raça 3, empregando-se 29 cultivares de milho recomendadas para o Estado de São Paulo, todas as cultivares mostraram-se suscetíveis ao nematoide (FR > 1).
O milho tem sido amplamente recomendado para rotação em áreas infestadas comMeloidogyne javanica. No entanto, mesmo não mostrando sintomas de galhas evidentes, algumas cultivares permitem uma acentuada multiplicação deste nematoide. Em avaliação de 36 genótipos de milho em relação à patogenicidade deM. javanica, todos apresentaram o FR < 1, indicando que estes genótipos diminuíram a população inicial deste nematoide no solo. Contudo, recentemente, em 18 genótipos de milho avaliados, todos comportaram-se como bons hospedeiros de M. javanica, com o FR variando de 2,2 a 6,9.
Controle : A utilização de cultivares resistentes é a medida mais eficiente e econômica para o controle dos nematoides que parasitam a cultura do milho. A rotação de culturas com espécie botânica não hospedeira dos nematoides presentes na área de cultivo também é recomendada. A utilização de plantas armadilha como Crotalaria spectabilis, as quais atraem e aprisionam larvas de nematoides, é especificamente recomendada para o controle de Meloidogyne spp. A espécie Crotalaria juncea possui alto potencial de multiplicação dos nematoides Pratylenchus spp. e Helicotylenchus spp., enquanto a rotação com mucuna preta (Mucuna aterrima) diminui as populações iniciais de Pratylenchus spp.. O controle químico dos nematoides parasitas do milho depende da disponibilidade de produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como da análise econômica da utilização desta tecnologia.
Recomendações para o controle químico de doenças na cultura do milho
Os resultados de pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo e em outras instituições de pesquisa demonstram que o uso de fungicidas tem se mostrado uma estratégia viável e eficiente de manejo de doenças na cultura do milho. Entretanto, alguns fatores devem ser observados para que a relação custo/benefício seja positiva, ou seja, que o benefício do controle das doenças com o uso de fungicidas seja superior ao custo da sua utilização. Dentre esses fatores, o conhecimento das principais doenças que ocorrem tanto ao nível de região quanto de propriedade, o nível de resistência das cultivares às principais doenças, as condições de clima durante o período do ciclo da cultura, o sistema de produção (plantio direto, rotação de culturas etc.) e a disponibilidade de equipamentos para pulverização estão entre os mais importantes. O uso de fungicidas na cultura do milho é recomendado nas situações de elevada severidade de doenças, que são resultantes da combinação de todos, ou alguns, dos seguintes fatores: uso de genótipos suscetíveis (Figura 33); condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças; plantio direto sem rotação de culturas; e plantio continuado de milho na área.
Foto: Rodrigo Veras da Costa
Figura 33. Curva de progresso da mancha branca do milho nas cultivares BRS 1035 (resistente) e DAS 657 (suscetível) submetidas à aplicação de três fungicidas, em uma e duas aplicações, em comparação à testemunha sem aplicação.
Para o melhor entendimento do modo como os fungicidas atuam na produtividade da cultura do milho, é necessário considerarmos os componentes de produtividade da cultura, que são cinco: 1) número de plantas por hectare; 2) número de espigas por planta; 3) número de fileiras por espiga; 4) número de grãos por fileira; e 5) peso de grãos. O primeiro componente, número de plantas por hectare, talvez o mais importante deles, é definido na fase de germinação e emergência das plântulas, no início do ciclo da cultura. Os componentes 2 e 3 (número de espigas por planta e número de fileiras por espiga) são definidos entre as fases V5 e V8 (cinco a oito folhas) e o quarto componente (número de grãos por fileira) é definido entre as fases V12 e VT (12 folhas até o pendoamento). Finalmente, o último componente de produtividade do milho, peso de grãos, é definido de R1 a R6 (florescimento à maturidade fisiológica).
Portanto, fica evidente que, quando a cultura atinge a fase do pendoamento, seu potencial produtivo já está definido, pois os quatro componentes de produtividade que poderiam resultar em aumento do número de grãos já ocorreram. A partir desse momento, ocorre apenas a realização do potencial produtivo através do enchimento dos grãos. As aplicações de fungicidas na fase do pendoamento apenas interferem no último componente de produtividade e atuam preservando o potencial produtivo da cultura através da proteção contra as perdas causadas pelas doenças. É correto afirmar, então, que a aplicação de fungicidas não aumenta o potencial produtivo da cultura, mas evita perdas na produtividade em função da proteção conferida durante o período de enchimento dos grãos.
Tem sido demonstrado que alguns fungicidas, notadamente aqueles pertencentes ao grupo das estrobilurinas, apresentam efeitos que vão além do controle de doenças, denominados efeitos fisiológicos. Dentre esses efeitos, estão maior resistência a vários tipos de estresses como seca e nutricional, aumento da capacidade fotossintética, redução da respiração foliar e maior eficiência do uso de água. Os estudos sobre os efeitos fisiológicos de fungicidas foram bem desenvolvidos na cultura da soja. Na cultura do milho, entretanto, esses efeitos não têm sido tão evidentes, sendo detectada, em algumas situações, menor produtividade em áreas pulverizadas com fungicidas quando comparadas a áreas não pulverizadas.
Desse modo, mais estudos são necessários para definir a existência e a magnitude dos efeitos fisiológicos de fungicidas em plantas de milho. Por outro lado, considerando também a possibilidade de surgimento de populações de patógenos resistentes às moléculas fungicidas, em função do seu uso intensivo, e os efeitos negativos desses produtos no meio ambiente, é coerente enxergarmos os fungicidas como ferramenta importante, especificamente para o manejo de doenças, e buscarmos elevar os níveis de produtividade da cultura através de melhorias e adequações em seu sistema de produção.
No processo de tomada de decisão sobre a necessidade de aplicação de fungicidas na cultura do milho, o primeiro fator a ser observado é o nível de resistência da cultivar em relação às principais doenças presentes na região e na propriedade. De modo geral, não se recomenda a aplicação de fungicidas para cultivares resistentes (Figura 33). Os maiores retornos econômicos resultantes do uso de fungicidas na cultura do milho ocorrem em situações de alto risco de ocorrência de doenças em elevada severidade, situação caracterizada, principalmente, pelos seguintes componentes: uso de genótipos suscetíveis; plantio contínuo de milho na área; e uso do sistema de plantio direto sem rotação de culturas (Figura 34).
Foto: Rodrigo Veras da Costa
Figura 34. Caracterização de ambientes de maior e menor risco de ocorrência de doenças em elevada severidade e probabilidade de retorno econômico da aplicação de fungicidas na cultura do milho.
Outro fator importante a ser considerado para a tomada de decisão, tanto sobre a necessidade de aplicação quanto da escolha do produto a ser utilizado, é que as doenças normalmente ocorrem de modo simultâneo no campo, o que pode influenciar a eficiência da aplicação. Por exemplo, os fungicidas do grupo químico dos triazóis apresentam uma baixa eficiência no controle da mancha branca, uma doença de ampla ocorrência nas principais regiões produtoras do país. Desse modo, para garantir uma maior eficiência das aplicações, é fundamental a realização do monitoramento da lavoura na fase de pré-pendoamento, antes da aplicação do fungicida.
Considerando que as folhas acima da espiga contribuem, em média, com mais de 90% da produção das plantas de milho e que as doenças foliares, na sua maioria, aparecem inicialmente nas folhas baixeiras e progridem em direção às folhas superiores, a folha abaixo da folha da espiga representa uma boa referência para a realização de inspeções de campo. A presença de sintomas de doenças nessa folha, em cultivares suscetíveis, associados a condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças, representam um indicação da necessidade de se intervir com a aplicação de fungicidas (Figura 35). Condições de ambiente caracterizadas por temperaturas elevadas e baixa umidade relativa do ar desfavorecem a maioria das doenças fungicidas que atacam a cultura do milho. No entanto, temperaturas moderadas e ambientes úmidos (elevada umidade relativa do ar, chuvas frequentes, irrigação e orvalho) favorecem essas enfermidades.
Foto: Rodrigo Veras da Costa
Figura 35. Presença de doença na folha abaixo da folha da espiga como critério para auxiliar no processo de tomada de decisão sobre a aplicação de fungicidas na cultura do milho. Outros critérios, como condições climáticas e suscetibilidade da cultivar, devem ser considerados de modo conjunto.
Atualmente, todos os produtos comerciais registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o manejo de doenças do milho pertencem aos grupos químicos dos triazóis e das estrobilurinas, formulados puros ou em misturas (Tabela 1). As características desses produtos também devem ser consideradas, quando da sua utilização, visando a uma maior eficiência no controle das doenças. As estrobilurinas atuam a nível de respiração mitocondrial, sendo mais efetivas nas fases iniciais do ciclo de vida dos fungos, ou seja, na germinação dos esporos e nos processos inicias de infecção. Os fungicidas triazóis, que atuam a nível da biossíntese de ergosterol, um componente da membrana celular dos fungos, podem promover o controle de patógenos fúngicos em fases mais avançadas do seu ciclo, como a colonização (crescimento micelial) e a pré-esporulação. Portanto, as aplicações de produtos pertencentes a esses grupos químicos apresentam maior eficiência quando são realizadas nos sintomas iniciais das doenças no campo. Normalmente, as aplicações realizadas em situações de elevada intensidade de doenças são menos efetivas.
Tabela 1. Grupos químicos e ingredientes ativos de fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária a Abastecimento para o controle de doenças na cultura do milho.
Fonte: Ministério da Agricultura.
Quanto à decisão sobre a melhor época de aplicação de fungicidas para o controle de doenças na cultura do milho, dois pontos devem ser considerados: 1) a fase do ciclo da cultura na qual as plantas são mais sensíveis ao ataque de patógenos; e 2) o período de ocorrência das principais doenças. Conforme já mencionado anteriormente, na fase compreendida entre o pendoamento (VT) e grãos leitosos (R3), as plantas de milho necessitam do máximo de sua capacidade fotossintética, pois começa um intenso período de translocação de fotoassimilados para as espigas. Nessa fase, qualquer fator que interfira negativamente reduzindo a área foliar e, consequentemente, a sua capacidade fotossintética, resulta em reduções significativas na produtividade de grãos. Essa é a fase considerada crítica para a cultura do milho e que deve ser considerada quando se pretende proteger as plantas via aplicação de fungicidas. Se considerarmos que o período residual máximo dos fungicidas dos grupos das estrobilurinas e triazóis está em torno de 15 a 20 dias e que a fase de enchimento de grãos no milho dura, em média, 60 dias, deve-se ter cuidado com as aplicações realizadas muito cedo, ainda na fase vegetativa da cultura (como exemplo, no estágio de oito folhas, como é feito nas aplicações com pulverizadores de arrasto), pois quando as plantas realmente necessitarem da proteção química os produtos não estarão mais efetivos (Figura 36).
Foto: Rodrigo Veras da Costa
Figura 36. Período residual dos fungicidas em relação ao período de enchimento dos grãos na cultura do milho.
Por outro lado, é necessário considerar, também, o momento do aparecimento das doenças na lavoura. Algumas doenças, como as ferrugens e, em algumas situações, a mancha branca, podem incidir ainda na fase vegetativa da cultura e, numa situação de uso de cultivares suscetíveis e de predominância de condições ambientais favoráveis, o controle químico deve ser considerado de modo a evitar que elevados níveis de doenças alcancem as folhas acima da espiga na fase de florescimento da cultura. Fica, portanto, evidente que a época ideal para a realização das aplicações de fungicidas na cultura do milho depende de um monitoramento da lavoura, que deve ser iniciado ainda na fase vegetativa da cultura. Todos os aspectos acima mencionados devem ser considerados para a tomada de decisão.
A disponibilidade de equipamentos para pulverização é outro fator que influencia a eficiência do manejo de doenças na cultura do milho através de fungicidas. De modo geral, os equipamentos utilizados são os pulverizadores de arrasto, principalmente em pequenas propriedades, e autopropelidos e aeronaves, em grandes propriedades. No caso dos pulverizadores de arrasto, as pulverizações podem ser realizadas em plantas com até 100cm de altura, aproximadamente, ou seja, por volta do estágio de 8 a 9 folhas definitivas (V8 a V9). Nesse caso, deve-se dar preferência para o plantio de cultivares que apresentem bom nível de resistência às principais doenças, pois, em situações de condições favoráveis ao desenvolvimento das doenças e uso de cultivares suscetíveis, a aplicação de fungicidas muito cedo (V8 a V9) provavelmente será insuficiente para o controle adequado das doenças, com consequentes perdas na produtividade. Os equipamentos autopropelidos, cuja altura de eixo é de aproximadamente 120cm, permitem a realização de aplicações em fases mais avançadas do ciclo (V10 a VT), quando comparados aos pulverizadores de arrasto. As pulverizações realizadas com aviões, embora apresentem um custo mais elevado, não apresentam as limitações mencionadas anteriormente. Os resultados de trabalhos de pesquisa têm mostrado que a eficiência dessa modalidade de aplicação é equivalente àquela observada nos pulverizadores terrestres.
Atualmente, existem nove fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o controle de doenças da parte aérea da cultura do milho. Todos esses produtos são pertencentes aos grupos químicos dos triazóis e das estrubilurinas, formulados isoladamente ou em misturas (Tabela 2). Os fungicidas à base de triazóis e estrobilurinas são eficientes para o controle de várias doenças na cultura do milho (Figura 37).
Tabela 2. Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o manejo de doenças da parte aérea na cultura do milho.
Fonte: Ministério da Agricultura.